Por Julia Rohrer (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)
Em novembro, A Revista da APM dá continuidade à série de homenagens aos grandes nomes que marcaram a história da Medicina nos últimos 90 anos. Nesta edição, abordamos a trajetória de Nise da Silveira, uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina no Brasil e responsável por revolucionar o tratamento psiquiátrico no País.
Nascida em 1905, na capital alagoana, Maceió, Nise mostrou sua coragem desde muito jovem. Foi, por exemplo, a única mulher em uma turma de 157 homens da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, enfrentando paradigmas como preconceito e machismo. Na universidade, conheceu Mário Magalhães da Silveira, com quem mais tarde se casou. Após o falecimento dos pais de Nise, o casal se mudou para o Rio de Janeiro em busca de mais oportunidades de emprego e durante toda a vida se dedicaram à carreira médica.
Pouco tempo depois de se formar e terminar a especialização em Psiquiatria, a médica passou a trabalhar em instituições voltadas para pacientes com transtornos mentais, entre elas a Clínica Neurológica de Antônio Austregésilo e o Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
No entanto, em 1936, foi presa após ser denunciada por uma enfermeira por compactuar com o comunismo. Durante os 18 meses aprisionada no presídio Frei Caneca, Nise da Silveira dividiu cela com a militante alemã Olga Benário e conheceu o escritor Graciliano Ramos, que também estava encarcerado – a psiquiatra inclusive o inspirou no livro “Memórias de Cárcere” e fez uma participação entre os personagens.
Em decorrência de seu posicionamento político, ela se manteve no anonimato até 1944, período em que começou a atuar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II. Por não concordar com a maneira violenta que os pacientes psiquiátricos eram tratados – com eletrochoques, camisas de força,isolamento e até mesmo lobotomia – e querer humanizar os métodos, Nise constantemente divergia da opinião de seus colegas de profissão e acabou transferida para a área de Terapia Ocupacional, até então desprezada pelos outros profissionais e com recursos escassos.
O cuidado através da arte
É a partir daí que Nise da Silveira revoluciona o tratamento psiquiátrico no Brasil. Em vez de expor os pacientes às atividades de limpeza e manutenção - que não surtiam efeitos positivos na recuperação - ela passou a trabalhar com o lado artístico de cada um deles. Dessa forma, disponibilizava telas brancas, pincéis e tintas para que os enfermos expressassem seus sentimentos através da arte.
No ano de 1956, visando recuperar socialmente antigos pacientes, a médica foi responsável pela criação da Casa das Palmeiras. O local ganhou notoriedade por ter sido o primeiro centro com o objetivo de reinserir na sociedade pessoas que haviam recebido alta e procuravam levar uma vida normal.
Em 1957, as obras do Museu de Imagens do Inconsciente, inaugurado cinco anos antes pela médica, no Rio de Janeiro, ganharam reconhecimento internacional e alguns dos quadros foram exibidos no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, na Suíça. A exposição foi sediada por Carl Gustav Jung, grande nome do estudo psíquico. Atualmente, o Museu conta com cerca de 350 mil obras de antigos pacientes da Psiquiatra.
Além da arte, Nise também impulsionou o tratamento terapêutico por meio da interação dos pacientes com animais, os quais ela chamava de “co-terapeutas”. Este trabalho consistia em cuidar e ser o responsável pelo animal, de forma a se tornar uma referência afetiva que estabelecesse ligações do paciente com o mundo real.
Ao longo de sua vida, a psiquiatra foi condecorada com títulos, medalhas e muitas homenagens. Seus estudos sobre Psiquiatria foram fundamentais para amplificar os conhecimentos na área. Sua atuação representou um grande avanço para a Medicina ao possibilitar que o tratamento de doentes mentais se tornasse humanizado, respeitoso e que permitisse a interação desses pacientes com a sociedade.
Nise da Silveira morreu em 1999, aos 94 anos, no Hospital Miguel Couto, Rio de Janeiro, vítima de uma insuficiência respiratória aguda causada por pneumonia e agravada por conta da idade.
Exemplo
A médica alagoana foi a única mulher de sua turma na UFBA
Revolucionária
Além da arte, a psiquiatra impulsionou o tratamento terapêutico por meio da interação dos pacientes com animais
Trajetória
Fatos marcantes da vida de Nise da Silveira
1931 - Forma-se na Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA
1936- É presa pela polícia política do Estado Novo de Getúlio Vargas
1944 - Contratada para o corpo clínico do Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II
1952 - Cria o Museu de Imagens do Inconsciente
1956- Funda a Casa das Palmeiras
Matéria publicada na edição 715 da Revista da APM - Novembro 2019.
Finalizando a série de 90 fatos que marcaram a história de Medicina, a Revista da APM traz informações da última década
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