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HISTÓRIA DA MEDICINA

22/10/2019 - Operário do coração

Neste mês dos médicos, a Revista da APM passa a publicar um perfil dos grandes nomes que ajudaram a construir a história da Medicina nos últimos anos. Além da homenagem à profissão, a série traçará um caminho - iniciado na década de 1930, ano de fundação da Associação Paulista de Medicina - para os 90 anos da APM, que serão comemorados em novembro de 2020. 

O primeiro nome escolhido é de uma figura muito relevante para a Medicina paulista e nacional. Patrono da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina de São Paulo, instituição em que ingressou com apenas 29 anos - na época ainda nomeada como Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo -, Euryclides Zerbini nasceu em Guaratinguetá (SP), em 7 de maio de 1912.

E a Medicina na sua vida foi quase por um  acaso. Zerbini terminou os estudos sem saber sua vocação, sendo incentivado pelo pai, o professor Eugênio Zerbini, a ser médico. No início da faculdade, após assistir uma cirurgia, pensou em desistir. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, apresentou-se como soldado e acostumou-se com os sangramentos vendo o trabalho de atendimento dos feridos. 

Graduou-se em 1935, aos 23 anos, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e especializou-se em cirurgia geral no Hospital das Clínicas. Apendeu, inicialmente, com o mestre Alípio Corrêa Netto, se aprofundando na cirurgia torácica. Na FMUSP, tornou-se professor aos 24 anos, em 1936.

EXPLORANDO O CORAÇÃO

Antes de realizar o feito pelo qual ficaria marcado na história da Medicina brasileira e mundial, Zerbini já demonstrava coragem. Em 1942, um garoto de sete anos chegou ao pronto-socorro com um estilhaço de ferro dentro do peito. O cirurgião não hesitou e abriu seu coração, religando a artéria coronária e salvando sua vida. 

Era uma época em que procedimentos com o coração não eram comuns, e esse fato foi preponderante para que o médico resolvesse ir aos Estados Unidos da América, em 1944, onde continuou seus estudos de cirurgias cardíaca e pulmonar. No ano seguinte, passaria a dedicar-se à cirurgia intracardíaca. 

Em 1957, passou a aprofundar os estudos em circulação extracorpórea. Nesta época, foi colega de Christian Barnard na Universidade de Minneapolis (EUA). O sul-africano foi o primeiro médico do mundo a realizar um transplante cardíaco, na Cidade do Cabo (África do Sul), chamando a atenção de todos no ano de 1967. 

Em 25 de maio d 1968, Zerbini tornou-se o primeiro médio brasileiro - e apenas o quinto do mundo - a realizar o procedimento. No centro cirúrgico do Hospital das Clínicas da FMUSP, o cirurgião transplantou o coração de Luis Ferreira de Barros, morto por atropelamento, ao peito de João Boiadeiro, como era conhecido o lavrador João Ferreira da Cunha. Realizou, ainda nos anos 1960, outros dois transplantes cardíacos de fundamental importância para o avanço científico. 

Retomou este procedimento nos anos 1980, com o advento de ciclosporina, droga capaz de evitar a rejeição do órgão trnsplantado. Assim, aos 73 anos, voltou a ser pioneiro: em 3 de junho de 1985, realizou em Manoel Amorim da Silva o primeiro transplante de coração em um paciente portador da doença de Chagas. 

OUTROS FEITOS

Após o tempo que passou nos EUA estudando a cirurgia intracardíaca, retornou ao Brasil e tornou-se diretos do pronto-socorro do HC e cirurgião do Instituto de Cardiologia. Em 1947, montou na instituição, inclusive, uma equipe de especialistas em cirurgia cardíaca. Como professor da FMUSP, idealizou, em 1950, o Centro de Ensino de Cirurgia Cardíaca, semente do que viria a ser o Instituto do Coração (InCor). 

O Instituto foi fundado em 1975 e logo se tornou um dos mais conceituados estabelecimentos da América Latina. Dentro do InCor também nasceu a Fundação Zerbini para o Desenvolvimento da Bioengenharia, que passou a exportar tecnologia para os transplantes. Em quase 60 anos de carreira, foi homenageado centenas de vezes, em todo o mundo. Ao todo, sua equipe realizou mais de 40 mil cirurgias cardíacas. 

Foi casado com Dirce da Costa Zerbini, médica que passou a fazer parte de sua equipe de cirurgiões. Foi ela quem desenvolveu, em 1958, o primeiro circuito para circulação extracorpórea no Brasil. Tiveram os filhos Roberto, Ricardo e Eduardo. Dizia que morreria operando e quase o fez. Operou e trabalhou até poucos meses, antes de falecer, aos 81 anos, no InCor, vítima de um melanoma generalizado. 

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