O QUE DIZ A MÍDIA

24/07/2019 - 75% dos jovens em São Paulo não tomaram vacina do sarampo na infância

Folha de São Paulo

Cerca de 2,1 milhões de jovens com idades entre 15 e 29 que vivem na cidade de São Paulo não foram imunizados contra o sarampo durante a infância. A faixa etária corresponde à metade dos 363 casos confirmados da doença na capital.

De acordo com Solange Saboia, coordenadora da Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde), 75% dos jovens que nasceram entre os anos 1990 e 2004 não receberam a segunda dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola e deve ser aplicada a partir dos 15 meses de idade.

Estimada em 2,9 milhões, essa população é o público-alvo da campanha de vacinação desde o dia 10 de julho, após a Prefeitura de São Paulo registrar aumento no número de pessoas com sarampo.

Na época em que esses jovens deveriam ter recebido o reforço na imunização, ainda na infância, o Brasil havia superado a pior epidemia de sarampo, em 1986, quando a incidência da doença chegou a 97,7 por 100.000 habitantes.

No final da década de 1990, devido a campanhas de vacinação, esse número baixou para 42 infectados por 100.000 habitantes.

O país não registrava novos casos de sarampo contraídos em território nacional desde 2000. Desde então, todos os casos confirmados haviam sido importados, quando o paciente é infectado em outro país e desenvolve a doença ao voltar para casa.

A circulação do vírus voltou a ocorrer no Brasil em fevereiro de 2018, quando foram registrados mais de 10 mil casos em 11 estados, sendo a maior incidência na região norte, no Amazonas e em Roraima.

Neste ano, o vírus começou a circular na cidade de São Paulo a partir de fevereiro, trazido por pessoas que estiveram em países como Noruega, Malta e Israel. A região central da capital foi o epicentro da disseminação, segundo a coordenadora da Covisa.

Segundo pesquisa realizada pela secretaria de Saúde, entre os motivos alegados pelos pais para não terem dado a segunda dose de vacina aos filhos, estão falta de tempo e medo de reações colaterais.

"É uma tendência mundial. Com a eliminação da doença, as pessoas não veem outras infectadas, se esquecem de vacinar as crianças e tendem a achar que a doença está eliminada", diz Solange.

Diante disso, servidores municipais têm ido a creches e escolas de educação infantil para aplicar a vacina tríplice viral em crianças de até 1 ano, quando a primeira dose deve ser ministrada.

"Ainda assim enfrentamos resistência dos pais devido a notícias falsas como a de que a vacina do sarampo provoca autismo", diz a coordenadora da Covisa.

A volta do sarampo após a erradicação da doença é um fenômeno global ao menos desde 2017, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) identificou surtos do vírus em 170 países. Neste ano, o número de pessoas infectadas teve aumento de 300% em todo mundo na comparação com 2018.

Devido ao alto poder de contágio do vírus, uma pessoa infectada pode passar a doença para outras 18, de acordo com a secretaria de saúde.

Para atingir a meta de imunizar 95% das pessoas de 15 a 29 anos que vivem na capital, agentes de saúde têm se concentrado em lugares de grande circulação para oferecer as doses, como shopping centers e estações de metrô. A campanha de vacinação voltada a esse público vai até 16 de agosto.

A partir da primeira semana se agosto, quando chegam ao fim as férias escolares, as ações serão concentradas em universidades públicas e particulares.

O que é sarampo? É uma doença infecciosa aguda transmitida por um vírus do gênero Morbillivirus, da família Paramyxoviridae, caracterizada por manchas na pele. É grave, estava erradicada no Brasil e voltou porque as pessoas deixaram de se vacinar.

Como é transmitido? A transmissão acontece pela saliva, carregada pelo ar (quando a pessoa tosse, fala ou espirra). Ou seja, é altamente contagiosa.

Quais os sintomas? Febre alta (acima de 38,5°C), manchas vermelhas na cabeça e no corpo, tosse, dor de cabeça, coriza e conjuntivite. As manchas vermelhas costumam ser precedidas por manchas brancas na mucosa bucal.

Sarampo pode matar? Sim. É uma doença que traz complicações graves, inclusive neurológicas, e pode levar à morte, sobretudo de crianças pequenas. Também pode deixar sequelas como a surdez.

Como é o tratamento? O doente é isolado e apenas os sintomas são tratados — as manchas, febre e dores. Por isso a vacinação é a ferramenta mais eficaz no combate à doença.

O que fazer em caso de suspeita? Encaminhar o paciente a um serviço de saúde, que por sua vez notificará a vigilância epidemiológica para que esta vacine quem teve contato com o doente.

Quem deve se vacinar contra o sarampo? Crianças e jovens de até 29 anos precisam tomar duas doses da vacina —quem tem de 30 a 59, apenas uma dose. A maioria das pessoas com mais de 60 anos não precisa da vacina, pois já teve contato com o vírus no passado.

Onde é feita a vacinação? Em postos de saúde e, durante a campanha, em pontos anunciados pelo governo, como estações do metrô. É preciso levar caderneta de vacinação, cartão do SUS e documento com foto (a carteira e o cartão podem ser feitos ou refeitos nos postos).

Quais as reações à vacina? Febre e dor no local da injeção, com possível inchaço. Não há reações neurológicas. A vacina NÃO causa autismo.

Quem não pode se vacinar? Gestantes, bebês menores de um ano, transplantados, quem faz quimioterapia e radioterapia, ou usa corticoides ou tem HIV com CD4 menor que 200. Alérgicos a ovo e lactantes podem tomar a vacina.

Por quanto tempo a vacina vale? Para quem completou as duas doses (ou uma dose até 1989), vale pela vida toda. A vacina também protege contra rubéola e caxumba. ​