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22/05/2017 - A gente tem uma ideia errada de planejamento financeiro

MESTRE EM ECONOMIA, DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO E PH.D. EM BUSINESS, SAMY DANA É PROFESSOR DA FGVSP E COMENTARISTA DO HORA 1, DO JORNAL DA GLOBO E DO PROGRAMA CONTA CORRENTE, DA GLOBONEWS; DURANTE O I ENCONTRO DE MÉDICOS JOVENS DA APM, DEU DICAS SOBRE INVESTIMENTOS AOS PARTICIPANTES

Sentar na frente do gerente do banco e perguntar o que deve ser feito é a mesma coisa que perguntar para um vendedor de carro se ele acha que você deve comprar o veículo. Quantas horas vocês trabalham em média por mês? E quantas dessas horas destinam para cuidar do dinheiro que ganharam? Quando vocês param para pensar nisso?”, indagou o economista na abertura de sua palestra no dia 8 de abril, antes de falar especificamente dos produtos financeiros. Confira a seguir.

POUPANÇA

“É o investimento mais antigo, fácil e frequente. A poupança tem vários problemas: o maior deles é que ela não garante nem o poder de compra. O que adianta ganhar 7% no período se os preços aumentaram mais do que isso?”, comentou Dana. A primeira dica dada por ele é sempre pensar em ganho real, ou seja, acima da inflação. Em seguida, alerta: “Não adianta algo ser isento de imposto de renda se for uma porcaria”.

PREVIDÊNCIA PRIVADA

“É um produto bancário em duas modalidades: Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Para ser elegível ao PGBL, você precisa ser contribuinte de uma previdência social (INSS, Militar ou funcionário público) e fazer a declaração completa do Imposto de Renda. No VGBL, você pode ter qualquer tipo de declaração de imposto e não precisa ser contribuinte, só que também não deduz no imposto de renda”, esclareceu. Regras básicas: não aceite nenhuma previdência com taxa de entrada e de saída. E a taxa de administração não deve ser maior que 0,7% ao ano. Se estiver em uma previdência ruim, é recomendável a portabilidade, que não muda o título (PGBL ou VGBL) nem a contagem do tempo na tabela (regressiva ou progressiva).

BOLSA DE VALORES

“Uma coisa é medir a Bolsa de Valores nos EUA, onde a taxa de juros é de 2%, ou no Japão, onde a taxa é de 0% e agora está negativa. Outra é no Brasil, que tem a maior taxa de juros do mundo. O risco é bem maior e a nossa bolsa é pequena e irrelevante para o tamanho do País. Há mais ou menos 500 empresas listadas na bolsa. Mas dessas 500, só 60 fazem parte do índice Bovespa, que representa 80% do volume de dinheiro. Dessas 60, menos de 40 têm pelo menos um negócio por dia. Por isso, a bolsa pode cair não porque a empresa foi mal, e pode subir não porque foi bem. Não há evidências de que a bolsa está bem no Brasil”, opinou o economista.

IMÓVEIS

“Para muitas pessoas, ainda existe o sonho da casa própria. Acho os imóveis extremamente caros no Brasil e financeiramente desinteressantes. Uma pergunta inocente que devemos fazer é: ‘Por que uma construtora vai me vender um imóvel pelo preço que não seja o maior possível?’. As pessoas acham que sair comprando imóveis é fazer investimento e não é. Não existe motivo para você acreditar que vai ganhar com isso.”

CONSÓRCIO

Conforme ensina Samy Dana, as pessoas comparam consórcio com financiamento e isso não faz sentido. Porque no financiamento você começa a usar o carro ou o imóvel, por exemplo. No consórcio não. Nele, você faz uma poupança como se estivesse investindo dinheiro, mas o grande problema é que 16% de tudo o que você paga fica para o administrador. Pensando em um consórcio de cinco anos, se você não for sorteado no primeiro ano, estaria melhor guardando o dinheiro das parcelas e em 12 meses dar entrada em um financiamento. “Só tem um caso em que o consórcio vale a pena, que é para as pessoas que não conseguem guardar dinheiro de jeito nenhum.”

PRODUTOS QUE RECOMENDA

CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito Agronegócio). Nos três casos, você está concedendo um empréstimo para uma instituição financeira e as taxas são pactuadas entre a pessoa e o banco. O que define rentabilidade são três fatores: quanto dinheiro você tem; prazo, pois quanto maior, melhor o retorno e menor a taxa de alíquota; e risco: emprestar para um banco/ empresa que está para quebrar é um risco, mas quanto maior ele for, melhor o retorno. No caso do Tesouro Direto, a situação é semelhante, mas você empresta dinheiro para o Governo. Para a maioria dos casos, o comentarista relembra que existe o Fundo Garantidor de Crédito, que é uma espécie de seguradora. “Quando um produto bancário é vendido, a instituição deposita o valor neste fundo. Portanto, se você investir em um banco que venha a quebrar, o FGC garante a restituição de até R$ 250 mil por produto”, finaliza.

Matéria publicada na Revista da APM - edição 688 - maio 2017
Fotos: Osmar Bustos