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03/12/2019 - A misteriosa epidemia de HIV que atingiu centenas de crianças no Paquistão

G1

Há uma pequena cidade no Paquistão onde quase 900 crianças são HIV positivas.

Tudo começou em abril deste ano, quando um médico local suspeitou dos sintomas de garotos que foram levados até a sua clínica.

Ele recomendou que elas passassem por testes de HIV. Em apenas oito dias, mais de mil pessoas foram diagnosticadas como soropositivas.

O episódio trouxe à tona uma das maiores epidemias de HIV no país e uma das maiores envolvendo crianças na Ásia.

No olho do furacão

O mais estranho era que a maioria das crianças afetadas tinha menos de 12 anos, sem histórico familiar da doença.

A BBC foi a Ratodero, epicentro do surto.

Em um pequeno centro de saúde, o doutor Muzaffar Ghangro examina uma criança de sete anos, sentada quieta no colo do pai.

Fora da sala, cerca de uma dúzia de pacientes aguardam sua vez; alguns têm apenas algumas semanas de idade.

Ghangro era o principal pediatra da região, e a opção mais barata. Mas tudo mudou depois que ele foi preso.

Ele veio falar comigo do lado de fora, mancando um pouco na perna protética. Ghangro foi acusado de reutilizar seringas e infectar crianças com HIV de propósito e acabou preso sob acusação de homicídio culposo.

Ao conversar com a reportagem, parecia relaxado e até sorria, mas no momento em que começou a falar sobre o surto, o rosto ficou tenso e sua voz, mais alta. Ele nega as acusações contra si.

"Não fiz nada errado", afirma. "As autoridades de saúde estavam sob pressão, e precisavam de um bode expiatório para acobertar a incompetência deles."

Algumas semanas depois, uma investigação conjunta do governo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) mudou a acusação contra o médico para negligência criminosa.

"Eu exerço medicina há dez anos. Nenhuma pessoa jamais reclamou que eu estava reutilizando seringas. Minha prática é popular", disse ele.