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16/05/2017 - Alerta: quatro em cada cinco pacientes com enxaqueca se automedicam
Pesquisa realizada pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) – com seu departamento Científico de Cefaleia – apresentou dados alarmantes sobre pessoas acometidas por cefaleias primárias (espécie de dores de cabeça não derivadas de outro problema, também conhecidas como enxaquecas). Os números mostram que 81% dos pacientes se tratam sem nenhuma orientação. Exatamente 50% aceitam indicação de remédios feita por amigos e 22% apresentaram efeitos colaterais.
Para o presidente da ABN, Gilmar Prado, o dado de apenas uma entre cinco pessoas não ter se automedicado é alarmante, levando em conta o caráter dos dados. “Essa é uma pesquisa que foi respondida por pessoas que têm acesso à internet, que têm possibilidades diferenciadas, mas que ainda assim curiosamente não procuram orientação.”
A pesquisa, respondida por mais de 2.300 voluntários pela internet, atingiu pessoas que sofrem com as doenças. A partir de algumas perguntas, inclusive, foi possível diagnosticar que do total de participantes, 87% apresentavam, de fato, um quadro de enxaqueca. Os resultados também mostram que 88% dos acometidos são mulheres, o que é explicado pelo especialista Marcelo Ciciarelli como uma questão hormonal.
“A estabilização do estrógeno em períodos como a gravidez ou a menopausa faz com que as dores diminuam. Mas em outros períodos, a sua flutuação influencia nas crises”, explica. Dentre as respostas, 97% se consideraram com a doença ativa, ou seja, que tiveram dor de cabeça no último ano.
Foi realizada ainda uma relação entre a enxaqueca episódica (com menos de 15 dias de dor por mês) e a crônica (com mais de 15 dias de dor por mês) nos pacientes diagnosticados. O primeiro caso apresentou 946 casos e o segundo, 966. A diferença ficou no comparativo entre o vínculo empregatício dos casos. Dos episódicos, 72% possuem um emprego, enquanto pela parte dos doentes crônicos apenas 67% trabalham.
“Observamos que pacientes crônicos sofrem mais com a relação de trabalho. Os dados mostram um pouco do impacto negativo da dor diária na vida profissional. Já há pesquisas internacionais mostrando isso, com estudos populacionais de 25 mil pessoas por exemplo. Eles apresentam resultados neste sentido”, completa Ciciarelli.
Conscientização
A divulgação da pesquisa nesta semana tem relação com o Dia Nacional da Cefaleia, em 19 de maio. A ABN está realizando uma campanha para levar mais informações sobre a doença à população comum, com comunicação simples e direta. “Não basta falarmos somente com o médico, precisamos falar com todo o povo. Nós utilizamos muitos analgésicos e nem todos sabem que há tratamentos acessíveis para as dores de cabeça”, diz o presidente da Associação.
A ideia da campanha é que as pessoas parem de relacionar as dores ao estresse, problemas visuais, hormônios e consumo de certos alimentos ou bebidas, estimulando o acompanhamento médico. “Também dizemos: três é demais! Se o sujeito sente três ou mais dores de cabeça por três meses seguidos, procure um especialista. Com o tratamento correto, as chances de as dores se tonarem crônicas caem consideravelmente”, afirma Ciciarelli.
Além do mais, a automedicação é um problema sério. Entre as pessoas com enxaquecas crônicas, 74% faz uso exagerado de analgésico, consumindo ao menos três doses semanais. Nos episódicos, o número é menor, com 36% dos entrevistados. O entendimento dos especialistas é que, a partir de certo momento, o próprio corpo passa a depender dos remédios, tornando a dor ainda mais complexa, como uma relação de dependência.
Além disso, a automedicação traz outros problemas: a principal causa de transplantes renais, hoje, é o uso de anti-inflamatórios. O consumo exagerado de analgésicos pode resultar em doenças hepáticas ou hipertensão arterial, por exemplo. “Também há o risco das interações medicamentosas, quando os remédios brigam entre si. Ou seja, se um indivíduo é hipertenso e toma um analgésico, pode potencializar os efeitos colaterais”, comenta Denis Bichuetti, membro da Comissão de Comunicação da ABN.
O especialista explica, ainda, que há remédios que tratam duas condições. “Há medicamentos que servem para a cefaleia e para hipertensão, por exemplo, eliminando alguns riscos. Além disso, as pessoas podem até usar os remédios certos, mas em dosagens erradas. O uso correto indicado por um profissional pode fazer com que crises que chegam normalmente a até 48 horas acabem em seis.”
Fotos: Gabriela Miranda
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