O QUE DIZ A MÍDIA
11/11/2021 - Anvisa deve ter independência para decidir sobre vacinação em crianças
São inaceitáveis as ameaças apócrifas dirigidas a diretores e servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra a liberação da vacinação anti-Covid-19 para crianças — que ainda nem é objeto de análise.
De concreto, existe o anúncio de que a Pfizer submeterá à Anvisa o pedido para aplicar sua vacina em crianças de 5 a 11 anos. Na terça-feira, houve uma reunião preliminar entre técnicos da agência e representantes da farmacêutica. O Instituto Butantan também informou que pleiteará o uso da CoronaVac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos.
Na semana passada, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as ameaças. A gravidade do fato não pode ser ignorada. Como mostrou reportagem do GLOBO, numa das mensagens o autor dizia: “Não aprovem vacinas para crianças menores de 12 anos ou o bixo (sic) vai pegar. Isso não é uma ameaça, é uma promessa! Não mexam com nossas crianças, ou iremos atrás de cada um de vocês (...).
A resposta será fogo e fúria, e não irão (sic) escapar ninguém”. Dias depois, em nova postagem, dizia-se que a intenção não era matar, mas “infernizar a vida de cada um na Anvisa”, descobrir quem são, onde moram, que locais frequentam, “humilhar e xingar na rua”. Naturalmente, as ameaças criaram um clima de apreensão e levaram o diretor-presidente, Antonio Barra Torres, a pedir proteção policial para os funcionários.
Pelo papel que desempenhou até agora em mais de um ano e oito meses de pandemia, não há por que duvidar da capacidade técnica da Anvisa para analisar os pedidos que recebe. Todas as vacinas aplicadas no Brasil — CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen — foram objeto de análises técnicas criteriosas, às vezes de forma até exagerada. A demora para liberar certas vacinas gerou críticas, mas a agência não cedeu a pressões.
A ação das milícias negacionistas não deve ser menosprezada. Não é fenômeno exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, Garibaldo, o inocente personagem de “Vila Sésamo” lá conhecido como “Big Bird”, se tornou alvo de ataques só porque defendeu candidamente a vacinação contra a Covid-19, num país onde sobram vacinas e falta disposição para se vacinar. Foi tachado de comunista. A ignorância não tem fronteiras.
No Brasil, o ímpeto antivacina tem entre seus líderes ninguém menos que o presidente da República. Jair Bolsonaro já disse em vídeo que a OMS não recomendava a vacinação em crianças — pura mentira e desinformação.
A melhor resposta que a Anvisa pode dar às ameaças é fazer seu trabalho: analisar os pedidos de forma técnica, aprová-los ou rejeitá-los com argumentos sólidos. Convém dizer que a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos já foi autorizada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
A aprovação por agências estrangeiras idôneas é um fator que costuma ser levado em conta pela Anvisa. A Polícia Federal também precisa fazer seu papel: investigar e punir os autores das ameaças, até para que a sandice antivacinas não prospere.
Fonte: O Globo