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30/11/2021 - APM inaugura Auditório Professor Doutor Adib Domingos Jatene

Na noite da última sexta-feira, 26 de novembro, a Associação Paulista de Medicina inaugurou o Auditório Professor Doutor Adib Domingos Jatene, em sua sede estadual. O espaço reformado da entidade homenageia o cirurgião torácico que ficou conhecido e respeitado nacional e internacionalmente por dezenas de invenções que contribuíram para o avanço médico. Familiares e amigos estiveram presentes na solenidade.

“Quando tivemos a notícia do falecimento do doutor Jatene, nós da Associação Paulista de Medicina ficamos consternados, foi um sentimento unânime entre todos. Foi fundamental que prestássemos uma homenagem, afinal de contas, tivemos o privilégio de tê-lo conhecido e ter aproveitado a sua presença. Dar o nome do Professor Doutor Adib Domingos Jatene a este auditório é uma maneira de rubricar esse afeto”, disse o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral. Em seguida, a placa foi descerrada junto com os familiares do médico.

Em razão da pandemia, o evento de inauguração só foi possível este mês. “Esse auditório já existia, mas não com um indicativo. Era apenas conhecido como Auditório Nobre. Ao longo das décadas, foi se deteriorando. Passamos por reformas importantes neste edifício e víamos a necessidade de também reestruturar esse espaço”, acrescenta Amaral.

A reforma do auditório da APM foi iniciada em outubro de 2019 e finalizada em maio de 2020. As novas instalações se adequam, sobretudo, às normas técnicas brasileiras de acessibilidade. A reformulação considerou ainda a necessidade de prover ao ambiente uma arquitetura contemporânea e requintada, com revestimentos acústicos específicos e soluções de tecnologia atual.

O projeto modernizou o sistema de iluminação e agregou soluções de última geração em audiovisual e instalou plataforma PNE (para pessoas com necessidades especiais) e corrimão para acesso às poltronas.​ Iluminação de piso e emergência, poltronas para obesos (atendendo às normas vigentes), espaços destinados a cadeiras de rodas, substituição da mesa diretora, com inclusão de novos microfones, e aquisição de mobiliário específico para entrevistas/palestras informais são algumas das melhorias realizadas.

 

O inventor da cirurgia do coração

“Certamente, para mim, é uma emoção prestar essa homenagem. Frequento este espaço desde estudante e, agora, repaginado com o nome do professor. Ele merece todas as homenagens que recebeu em vida, várias delas após a morte e, certamente, receberá muitas outras”, disse o diretor Científico da Associação Paulista de Medicina, Paulo Manuel Pêgo Fernandes, ao fazer uma síntese da vida universitária, atividade política e diversas outras lições na área médica deixadas por Jatene.

Filho de imigrantes libaneses, Adib Domingos Jatene nasceu em Xarupi, munícipio localizado no interior do Acre, em 4 de junho de 1929. Aos 10 anos, a família mudou para Uberlândia, Minas Gerais, onde concluiu o ginásio. “Professor Adib nos deixou em cada frase uma lição de vida, e uma delas é esta: ‘Quando digo que trabalho muito, digo não. Quem trabalhava muito era minha mãe’”, relembra Fernandes, que também é professor Titular da disciplina de Cirurgia Torácica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Em 1948, Adib Jatene entrou na FMUSP com o desejo de estudar Medicina e se especializar em Saúde Pública para atuar em sua cidade natal, Xarupi. Enquanto estudante, conheceu o Professor Doutor Euryclides de Jesus Zerbini, cirurgião, professor e pioneiro da Cirurgia Cardíaca no Brasil e do transplante cardíaco no mundo, que teve influência importante na mudança de sua carreira.

Dentre as diversas inovações médicas, Jatene construiu o primeiro aparelho coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas, e que evoluiu para a prestigiosa Divisão de Bioengenharia do InCor. Foi professor de Anatomia Topográfica da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro.  De 1958 a 1961, foi cirurgião do HC/FMUSP e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia da Secretaria de Estado da Saúde. Em 1962, surge o equipamento biomédico Zerbini Jatene Braile HC-USP.

Em 1983, com aposentadoria do professor Zerbini, Jatene torna-se professor Titular de Cirurgia Cardiotorácica do InCor e, em 1986, assume o cargo de diretor. “Realmente, era uma figura que magnetizava a plateia com a sua lógica, presença de palco e oratória ímpar”, destaca o diretor da APM. Na vida política, de 1979 a 1982, foi secretário estadual da Saúde de São Paulo, projetando 490 centros de Saúde e 40 hospitais para a Grande São Paulo. Em 1992, foi ministro da Saúde.

Adib Jatene foi homenageado na inauguração do novo prédio HCor, em 1996, sendo que a unidade leva o seu nome. Dentre os inúmeros títulos, recebeu o prêmio do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em 2005, e foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, em 2008. Faleceu em 14 de novembro de 2014, em São Paulo, por infarto agudo do miocárdio.

Fernandes fechou a apresentação com algumas das frases do especialista rememoradas até os dias de hoje, entre elas: “A função do médico é curar. Quando ele não pode curar, precisa aliviar. E quando não pode curar nem aliviar, precisa confortar. O médico precisa ser especialista em gente”; “É importante ser respeitado pelo trabalho e pelos colegas, mas o que mais vale a um médico é ter o respeito dos pacientes”; “O nosso grande desafio é oferecer o acesso à saúde, principalmente às populações de baixa renda”; e “Precisamos criar a consciência de que o País não é de um Governo: o país é nosso, e temos que cuidar dele”.

 

Agradecimento familiar

Em nome da família, o filho do professor Adib Domingos Jatene, Fabio Biscegli Jatene, cirurgião cardiotorácico, agradeceu a todos pela homenagem, os amigos que estiveram lado a lado com o pai por muitas décadas, companheiros de vida acadêmica, da Medicina e da vida política. “É difícil nomear pessoas, aqui tem companheiros de vida do professor Adib, que estiveram com ele por décadas, pessoas que trabalharam a vida toda com ele, lutando.”

Sobre a capacidade de trazer tantos benefícios para a área médica em um tempo relativamente curto, Fabio Jatene acredita que a capacidade de usar bem a comunicação e a inteligência emocional, entre outros aspectos, foram decisivos para o sucesso de seu pai. “Sempre me chamou a atenção como funcionava a cabeça dele, sempre achei que funcionava diferente da maioria”.

Ao relatar um episódio na sua adolescência, quando Adib Jatene o buscava nas aulas de voleibol, ele disse que se o pai fosse técnico do esporte no fim dos anos 1960, iria revolucioná-lo. Com observações, enquanto esperava o filho, traçava estratégias de melhorias de jogadas. “Ele tinha uma cabeça privilegiadíssima, com a capacidade de ver as coisas de forma diferente”, conclui.

 

Fotos: Marina Bustos

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