O QUE DIZ A MIDIA
25/03/2021 - Após queda em registros, governo recua em mudança
Após o Ministério da Saúde passar a exigir dados adicionais obrigatórios no registro de casos de coronavírus no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), o que causou atrasos na notificação de óbitos, a pasta voltou atrás e tornou os campos dessas informações optativos.
A mudança foi confirmada ao Estadão por usuários do sistema e, posteriormente, pelo próprio ministério.
Em nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) informaram que fizeram um pedido ao Ministério da Saúde de retirada temporária da obrigatoriedade do preenchimento dos campos CPF ou Cartão Nacional de Saúde (CNS), nacionalidade e imunização do paciente internado no Sivep-Gripe já que isso “viabilizaria um período de transição para adequação do registro destas informações nos serviços de saúde”.
O problema veio à tona em uma coletiva de imprensa concedida pelo governo de São Paulo no início da tarde desta quartafeira. O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que a alteração foi feita sem aviso prévio e poderia causar nos próximos dias um “represamento de dados” sobre a pandemia, induzindo a um número artificial de mortes pela covid-19.
O reflexo já estava sendo sentido nos dados de São Paulo, que registrou apenas 281 óbitos em 24 horas, uma queda de 24,3% em relação ao dia anterior.
Na véspera, o Estado já havia batido o seu recorde com 1.021 mortes pelo coronavírus, o que representou quase um terço do total do País, que ultrapassou pela primeira vez a marca das 3 mil vidas perdidas para a doença.
“Os municípios não foram devidamente informados, não se deixou prazo para que eles possam se habilitar nessa mudança e não conseguiram completar o preenchimento desses campos", alertou Gorinchteyn durante a coletiva desta terça. “Os campos que foram inseridos retardam o aporte dessa informação e muitos deles não têm importância neste momento. Isso passa a ter um impacto.” Em sua primeira entrevista coletiva (mais informações na página A17), o novo ministro da Saúde, da Saúde, Marcelo Queiroga, negou intenção de esconder dados da covid-19 com alterações na forma de notificar óbitos da doença, que viraram alvo de reclamações de secretários de Estados e municípios. “Eu não sou maquiador, eu sou médico”, disse. Pouco após o fim da entrevista, o Ministério da Saúde recuou nas mudanças.
O Conasems explicou que a nova forma de registrar esses óbitos já estava em discussão, por causa da “necessidade de aprimoramento nas informações coletadas", mas que houve falha na comunicação sobre a mudança.
Para Marcelo Gomes, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador da plataforma InfoGripe, que faz uso do Sivep-Gripe, as mudanças têm lógica e atendiam a um pedido antigo de quem trabalha com o banco de dados. O CPF ou o CNS, diz, oferecem uma identificação única do indivíduo, o que ajuda a evitar, por exemplo, casos de duplicidade, ou a identificar suspeita de reinfecção.
“Mas tem problemas práticos, porque nem todo mundo carrega o CPF, e o pessoal da Vigilância já tinha começado a relatar dificuldades em diversas unidades de saúde", disse ele ao Estadão. Com a obrigatoriedade, os agentes de saúde tinham de pesquisar o CNS do paciente ou mesmo fazer o registro, o que leva tempo e, por isso, atrasa a notificação.
“A mudança tem sentido, tem pontos positivos, mas fazêla no momento atual, acaba trazendo diversos riscos não só de aumento no atraso da notificação, mas até de ficarmos sem algumas notificações”, alerta.
“Na urgência, na pressa, pode ser que simplesmente deixem de preencher e uma morte pode ficar sem notificação.” Histórico. No ano passado, o Ministério da Saúde já havia recuado de mudanças na notificação de mortes. Na época, foi formado o consórcio de veículos de imprensa, com Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL, que passou a recolher os dados diários, em parceria com as 27 secretarias estaduais de Saúde.
Atualmente, os boletins passaram a incluir os números de vacinados pelo País.
Fonte: O Estado de S.Paulo