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22/12/2021 - Avaliação do ensino médico é tema de webinar de Campinas
Na noite da última segunda-feira, 20 de dezembro, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas realizou webinar para debate do tema “Avaliação do Ensino Médio”, com transmissão ao vivo pela plataforma Zoom e YouTube.
Fátima Ferreira Bastos, geriatra e presidenta da SMCC, fez a apresentação dos debatedores convidados: José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM Estadual e professor de Anestesiologia da EPM/Unifesp e Jorge Carlos Machado Curi, diretor da SMCC e da APM, e cirurgião de trauma da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
“Essa luta é muito importante, principalmente para nossos jovens médicos. A preocupação com a abertura de novas escolas médicas, dificuldade em vagas de residência e avaliação ruim de estudantes residentes em Medicina são os motivos pelos quais estamos realizando este evento. Precisamos sempre dar um novo gatilho para este assunto, para nos inspirarmos e lutarmos pelos exames e Revalida”, destacou Bastos.
Exame de proficiência
César Fernandes, presidente da AMB e professor titular de ginecologia e obstetrícia na Faculdade de Medicina do ABC, foi o primeiro especialista a se apresentar. Responsável por debater sobre o tema “Exame de Proficiência”, o palestrante destaca que o assunto é de extrema relevância, devido à proliferação desmensurada de escolas médicas. “Essas reflexões não se encerram em si próprias, devem nos levar a propostas para melhoria do sistema e nos garantir a absoluta convicção de termos uma formação mínima necessária para médicos egressos no curso de Medicina.”
Em Saúde pública no Brasil, destaca que, apesar dos avanços, as demais melhorias dependem de políticas públicas consistentes, realistas e futuristas, financiamento apropriado, modelos de gestão eficientes e profissionais capacitados, em especial, os médicos. “Hoje, temos um enorme número de médicos que não desejam fazer residência ou não têm acesso à residência médica, com isso, se intitulam médicos generalistas. Em novembro de 2020, alcançamos 500 mil médicos, dos quais podemos considerar 39% sem nenhum título de especialista.
Esses profissionais estão atendendo as populações das unidades básicas de saúde, que são lugares que deveriam ter capacidade de resolução muito alta, com médicos de alta competência para o desenvolvimento dessas atividades, mas, muitos deles não têm a competência necessária para tal”, complementa.
Em relação à qualidade do ensino médico, Fernandes afirma que é preciso de uma acreditação obrigatória das escolas médicas e dos hospitais de ensino por organizações independentes, além da avaliação obrigatória dos graduandos por organizações obrigatórias.
“Há a necessidade de mudança do ensino médico e da avaliação do egresso de Medicina. Sabe-se que a formação orientada por competências emergiu nos anos 2000, como estratégia necessária para garantir maior segurança aos pacientes e oferecer à sociedade maior transparência sobre a qualidade dos profissionais formados. Hoje, é exigido que os médicos desenvolvam essas competências durante os seus anos de formação, para termos a convicção de que estão em condições de trabalhar com segurança para os pacientes atendidos”, afirma.
Concluindo, Fernandes explicou que é certo que, em breve, milhares de médicos estarão desempregados ou subempregados, com custo social enorme e tempo de formação perdido. “Está claro que o País não tem condições de oferecer vagas em residência médica para o número explosivo de recém-formados e, médicos malformados e sem residência médica, geram um alto risco para população. Com isso, erros no atendimento irão aumentar tremendamente e, as perguntas que ficam é: a culpa é do médico? Da faculdade de Medicina? Do governo? O fato é que é preciso investir, não em número ilimitado de médicos, mas sim na sua formação, para que possam exercer a profissão com competência, em prol do cidadão.”
Avaliação das escolas médicas (SAEMI)
O tema da palestra seguinte foi “Avaliação das escolas médicas”, ministrada por Júlio César Vieira Braga, conselheiro do CFM. Em sua exposição, o especialista afirmou que, em alguns anos, o Brasil irá se tornar o País com maior número de médicos por habitante. “Hoje, existem várias escolas de ensino médico, mas um dos principais mecanismos básicos para avaliar os custos é o Sistema de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que avalia os três principais componentes: instituições, cursos e desempenho dos estudantes (Enade).
Com isso, vem a possibilidade da acreditação, com reconhecimento formal da qualidade de serviços oferecidos por uma instituição, baseada em avaliação padronizada, feita por um organismo independente à instituição, comprovando que a instituição atende a requisitos previamente definidos. É uma forma que vem sendo aceita em diversos hospitais e assistências em saúde; na educação médica, consideramos algo essencial”, informa.
De acordo com estudos, as metas globais até 2020 eram que todos os países teriam mecanismos de acreditação para instituições de formação de saúde, com a colaboração dos governos e outras autoridades regulatórias para a adoção de tais normas. “É necessário para a segurança dos pacientes que a formação dos profissionais seja feita em escolas com avaliação independente, padronizada e qualificada.”
Braga ainda explicou que o objetivo do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (Saeme), implementado pelo Conselho Federal de Medicina, é estabelecer parcerias com instituições especializadas em educação médica, ser um sistema de avaliação, aprimoramento da qualidade dos cursos de Medicina brasileiros e acreditação reconhecido internacionalmente, além de mostrar à sociedade quais os melhores cursos. “O processo é dividido em cinco etapas, autoavaliação apresentando evidências, análise de documentos, visita de três dias à faculdade de Medicina, elaboração de relatório para escola atingir seu melhor potencial e, por fim, o resultado.”
E completa: “Diante do que foi apresentado, temos como perspectiva o aumento da procura por escolas, colaboração com o Sinaes, órgãos governamentais e associações nacionais e internacionais de ensino e trabalho médico, além de complementar e auxiliar ao exame de proficiência e teste de progresso.”
Teste do progresso
Angélica Maria Bicudo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, foi a responsável por debater sobre o "Teste do Progresso”. Em sua palestra, a especialista deixou claro que o teste é uma avaliação cognitiva, de conhecimento teórico e que não exclui a avaliação de habilidades. “A prática não é algo recente, foi iniciada em 1970, na Universidade de Missouri. No Brasil, algumas escolas já aplicavam o teste de progresso desde a época de 1990, sendo uma prova longitudinal, abrangente, formativa e somativa."
Segundo a palestrante, toda avaliação precisa ter uma matriz de conteúdo, com as seis principais áreas sendo abordadas: área básica, pediatria, clínica médica, tocoginecologia, cirurgia e saúde coletiva. “Cada matriz tem os devidos conteúdos e as competências necessárias. Com isso, as habilidades cognitivas esperadas devem estar contidas na prova.”
Entre as vantagens do teste de progresso citadas pela especialista estão: padronização e seguimento de boas práticas na elaboração das questões baseadas em uma matriz de conteúdo, garantindo validade e confiabilidade, avaliação do conhecimento, aplicação e tomada de decisões, com foco no raciocínio clínico e nos altos níveis de taxonomia.
“Se formos observar, o aluno do teste do progresso não tem as mesmas notas do curso. Durante o curso, as notas costumam ser bem altas, no teste de progresso, não é isso o que acontece. Em 2020, devido à pandemia, as escolas realizam o teste de forma virtual, com a vantagem de ter o custo reduzido pela metade e acesso ao desempenho mais rapidamente”, ressalta.
Ela acrescenta que, em virtude da pandemia, o conhecimento adquirido pelos alunos, em 2020, caiu significantemente quando comparado com os números de 2019. “As aulas on-line podem ser um dos motivos para o desgaste dos alunos, a descrição e a preocupação dos estudantes que estão sendo formados são reais, é fato que os profissionais formados não estão como antes da pandemia.”
Revalida
Finalizando as apresentações, a palestra sobre o tema “Revalida” foi ministrada por Gerson Alves Pereira Junior, professor de cirurgia de urgências e trauma da Faculdade de Medicina de Bauru/US. Ele ressalta que o Revalida foi uma prova unificada e que os diplomas de graduação expedidos por universidades estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que tenham o curso do mesmo nível e área.
Em 2009 até 2011 houve uma discussão entre os ministérios da Saúde, Educação e Relações Internacionais e, com isso, montaram a prova do Revalida dividida em duas etapas: questões objetivas e habilidades práticas, avaliando comportamento no local de trabalho e em exames simulados e conhecimento aplicado e factual.
“Desde sua criação, a dinâmica do exame é a mesma. Na lei de dezembro de 2019, ficou definido a realização do exame em duas etapas (teórico e exame de habilidades clínicas), com a grande maioria dos participantes com nacionalidade brasileira. Em 2020, observamos a tentativa de instituições privadas de tentar aplicar o Revalida e uma movimentação enorme para a suplementação médica, com médicos sem revalidação.”
Sobre a logística de aplicação, cada local deve ter capacitação conjunta de pacientes simulados e chefes de estação, com candidatos divididos em duas turmas. “Não adianta somente certificar, precisamos manter um bom tipo de avaliação. Hoje, temos como única avaliação os cursos de Medicina do Enade, realizado a cada três anos, com sua última edição em 2019. Temos a necessidade de definir duas situações: acertos para a elaboração e aplicação do Revalida para médicos formados no exterior e avaliação dos médicos formados no Brasil.”
O especialista reitera que o Revalida é reconhecido pelas diversas entidades de todos os setores, sendo uma avaliação de excelente qualidade e um modelo de elaboração de itens e provas de habilidades clínicas nas escolas médicas. “Precisamos manter um exame nacional de estudantes brasileiro, um processo formativo, simples, econômico e equitativo.”
Debate
“Fiquei entusiasmado em ver que o projeto de acreditação de escolas médicas. Me lembro que no início de 2010, discutimos com muita intensidade sobre o assunto, é muito importante que o Conselho Federal de Medicina tenha levado isso adiante, pois como nos foi apresentado, o processo de acreditação é algo que complementa a avaliação do egresso”, avalia o presidente da APM Estadual, José Luiz Gomes do Amaral.
E conclui: “É fascinante o resultado do exame do progresso e os resultados obtidos representam um instrumento fantástico para o aprimoramento da escola do ensino médico. Esse processo de acompanhamento próximo e diário com os alunos é o que garante o sucesso ao final do programa.”