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12/11/2021 - Carmen Escobar Pires é homenageada na tertúlia acadêmica de novembro

A Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) realizou, na tarde da última quarta-feira (10), a tertúlia acadêmica de novembro. Nesta edição, Carmen Escobar Pires, cadeira 112, foi homenageada como exemplo de dedicação, ética e empreendedorismo. O evento foi realizado com apoio da Associação Paulista de Medicina (APM) de forma híbrida, com parte dos convidados de forma presencial e transmissão ao vivo pela plataforma Zoom para os demais.

Como de costume, José Luiz Gomes do Amaral, presidente da  APM e da AMSP, apresentou o palestrante convidado: o professor Ben Hur Ferraz Neto, graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutor em Cirurgia pela Universidade Estadual de Campinas e Universidade de Birmingham.

“Carmen é uma personalidade inovadora, empreendedora e extremamente dedicada. Em seu período de formação, a dedicação da mulher pela Medicina devia ser quase como uma obsessão. Sendo seu sobrinho-neto e afilhado, tenho a oportunidade de homenageá-la em seu centenário de formatura. Ela obviamente teve uma influência muito grande no meu posicionamento de vida no suporte de igualdade entre os gêneros na profissão médica”, iniciou o palestrante. 

Trajetória com a profissão

Natural de São Paulo, Carmen foi a terceira mulher a se formar em Medicina no estado, na terceira turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (atual FMUSP). Alguns anos após sua formação, viajou a Paris para especializar-se em cirurgia obstétrica.

Com apenas oito anos de exercício profissional, tornou-se membro titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (atual AMSP), em 1928, permanecendo por 55 anos e sendo a primeira mulher a se tornar presidente da entidade. “Carmen sempre promovia a Medicina, ética e a presença da mulher em eventos científicos e congressos, e estava presente em todas as atividades sociais voltadas para a Medicina”, disse o especialista.

De acordo com Ferraz, a homenageada passou a ser uma representante da Medicina brasileira em reuniões e congressos internacionais. “Uma característica importante era sua vontade de transformar a realidade. De forma periódica, realizava reuniões para mulheres em sua casa, e as estimulava a assumirem papéis de destaque na sociedade e discutia progressivamente assuntos voltados para a saúde da mulher. Era uma forma de divulgar a sua especialidade e ensiná-las a se proteger. Quando comparamos as poucas mulheres que já assumiram a presidência de grandes e importantes instituições de Medicina, e associamos ao fato que em meados do século XX havia um número exíguo de mulheres, isso nos mostra que, para elas, um destaque profissional e conhecimento técnico exemplar era extremamente necessário para que pudessem exercer um posto de tanta importância”, completou.   

Mulheres na Medicina

Na antiguidade remota, as mulheres geralmente trabalhavam como parteiras. A partir do século XVII, começaram a ser admitidas como ouvintes e auxiliares dos médicos em determinadas situações - as mais ativas chegavam a se infiltrar em cursos com disfarces masculinos. “Isso ocorria pois, em muitos cursos, era proibida a entrada de mulheres. Carmen lutava e tinha determinação para cursar a faculdade de Medicina. Por sorte, tinha de seus pais um enorme apoio para seguir a profissão, o que na época não era comum”, explicou.

Ferraz ainda destacou que, logo após sua formação, Carmen assumiu papel de liderança até mesmo dentro de sua família, mostrando sempre a dedicação que tinha em estudar e demonstrar seus novos conhecimentos na área da Saúde. Em seguida, começou a frequentar os ambientes de liderança brasileiros, com o objetivo de conseguir espaço dentro da sociedade médica. “Com o tempo, passou a ganhar reconhecimento nacional e internacional, algo difícil para uma mulher. Naquela época, eram poucas as publicações autorais feitas por médicas.”

O palestrante também não deixou de citar e homenagear outros grandes nomes da Medicina brasileira feminina, que contribuíram para a prática no País, entre elas Carlota Pereira de Queiroz, Maria Falce de Macedo, Verônica Rapp de Eston e Maria Irma Seixas Duarte. “Graças a todas essas mulheres e outras mais obviamente, podemos olhar para a realidade atual. A Medicina está cada vez mais jovem e feminina, isso com certeza é um ganho que vem sendo feito e que merece homenagem a todas essas mulheres, que por mais de século se dedicaram à Medicina, atividade que muitas vezes era difícil e discriminada”, finalizou. 

Discussão

Após a apresentação do palestrante, houve debate e comentários sobre o tema. “É realmente formidável o que a doutora Carmen fez, dedicou exclusivamente toda sua vida à Medicina, pois era incompatível muitas vezes ter uma família. Foi uma trajetória muito importante, e vemos como as mulheres estão ocupando mais espaço na área médica brasileira e mundial”, ressaltou Giovanni Guido Cerri.

Finalizando o evento, Amaral agradeceu aos participantes e à brilhante e explicativa palestra. “Ferraz nos fez viajar de uma maneira encantadora, poderíamos passar dias ouvindo esta preleção. Sabíamos que a palestra seria algo excepcional, mas com certeza superou todas as expectativas que tínhamos", concluiu.

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