O QUE DIZ A MÍDIA

01/07/2021 - Casos de dengue em SP neste ano já são o triplo de 2020 inteiro

Até o dia 22 de junho, a cidade de São Paulo já havia registrado mais de três vezes o número de casos de dengue computados no ano passado inteiro. O aumento foi de 219% –de 2.009 em 2020 para 6.408 no que vai deste ano. As últimas mortes em decorrência da doença foram registradas em 2019 (3) e 2016 (8).

A capital soma ainda 57 casos de chikungunya em 2021, mas não há mortes. Do total, 28 estão no distrito administrativo de Campo Limpo (zona sul). Em relação à doença aguda pelo zika vírus, o último ano com registro da doença na capital foi 2017 (3).


Sem comentar os números, a Secretaria Municipal da Saúde atribui a alta nos casos de dengue em 2021 a fatores como a sazonalidade da doença —há anos com mais e outros com menos casos— e a quantidade de pessoas suscetíveis ao tipo viral em circulação neste momento —neste ano prevalecem os tipos 1 e 2—, além de temperatura e disponibilidade de criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor das arboviroses dengue, zika, chikungunya e febre amarela.


“Logo após 2015, em que tivemos mais de 100 mil casos, passamos por anos com pouquíssimos casos. Isso se dá porque teve muita gente infectada, as pessoas ficaram protegidas daquele tipo viral em circulação. Com o tempo, há mais pessoas suscetíveis e você começa a ter aumento de casos de novo”, explica Alessandro Giangola, biólogo da Divisão de Vigilância em Zoonoses, ligada à Secretaria.
“Apesar de ter mais casos que o ano passado, e a gente precisa ir atrás disso, para a cidade de São Paulo ainda é um número baixo”, completa.


Segundo ele, o pior já passou na cidade. O pico da dengue é em abril, e no inverno há uma tendência de queda. Em janeiro, com mais chuvas e temperaturas altas, os casos da doença começam a subir.
“Por isso, as ações de controle deverão ser mantidas o ano todo. Os agentes estão fazendo visitas, bloqueios, nebulizações. As ações não foram interrompidas nem com a Covid-19”, afirma Giangola.


Os distritos com mais ocorrências de dengue estão na zona norte: Cachoeirinha (366) e Brasilândia (286). Em seguida, aparecem Cidade Tiradentes (244), Jardim São Luiz (273), Capão Redondo (201) e Cidade Líder (244).
“São situações pontuais nestes locais. Não ocorrem uniformemente na cidade. É necessário ir até o local, verificar qual o problema, e nem sempre você acha, e intervir para eliminar o problema.” No início deste ano, a Secretaria Municipal da Saúde identificou um aumento de 30% no número de recusas de visitas dos agentes de zoonoses por parte dos moradores da capital devido ao medo de transmissão da Covid-19.


Até 22 de junho, o estado de São Paulo registrou 109.600 casos de dengue e 30 óbitos. Em todo o ano de 2020, foram 194.415 mil confirmações da doença e 142 mortes.
As cidades com maiores índices são Tatuí (18.900), São José do Rio Preto (13.200), São Paulo (6.408), Piracicaba (4.600) e Santos (3.200), diz a Secretaria Estadual da Saúde.


Com relação à chikungunya, são 7.600 casos e três mortes neste ano. Em 2020, houve 254 casos e nenhum óbito. Quanto à zika, houve três casos até maio e 12 em 2020, ambos sem óbitos.


Para Adriano Massuda, médico sanitarista e professor do FGVSaúde, o Brasil já teve sucesso no controle de doenças como a dengue graças ao trabalho das equipes de atenção básica, da ESF (Estratégia Saúde da Família), em especial dos agentes comunitários da saúde, com a atenção básica e a vigilância epidemiológica.
Nos territórios onde há ação das equipes de ESF, os agentes comunitários ajudam no combate ao Aedes aegypti.
“Funcionou até 2015 para controlar a epidemia. De 2016 em diante, houve um enfraquecimento do SUS e a atenção básica perdeu força. Ainda que se mantivesse o número de equipes [de ESF], houve queda na quantidade de agentes comunitários de saúde, por exemplo”, diz Massuda.


Ele observa que na pandemia esta situação se agravou, pois não houve orientação nacional do Ministério da Saúde para as equipes trabalharem no contexto da Covid-19, seja no território, para identificar situações de vulnerabilidade por conta da pandemia ou para cuidar de outras doenças que não deixaram de existir.


“De 2016 para cá tivemos uma perda do papel do Ministério da Saúde, mas as áreas técnicas ainda estavam lá. A gestão Pazuello foi um desastre. De maneira geral, o ministério foi bastante desestruturado, os municípios ficaram sem referência e a situação ficou descontrolada. O país está mais vulnerável não só em relação a dengue, mas também a outras doenças transmissíveis”, afirma Massuda.

Fonte: Folha de S.Paulo