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24/08/2020 - Cine Debate aborda o clássico norte-americano Casablanca
Na noite de 22 de agosto, o Cine Debate da Associação Paulista de Medicina (APM), em versão on-line, discutiu a película Casablanca, de Michael Curtiz, produzida em 1942, nos Estados Unidos. Mais de 150 pessoas participaram do encontro via plataforma Zoom.
“No início da pandemia, pensávamos que iríamos ficar privados do Cine Debate. Isso nos preocupou muito. Em seguida, tivemos a ideia de continuar com o programa de forma virtual e está sendo um grande sucesso, com a expansão no número de participantes. Os filmes são sempre bem escolhidos, com debatedores renomados e o Wimer Bottura Junior conduzindo com grande maestria de sempre”, abriu o evento o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral.
No contexto histórico da época, o drama romântico retrata a Segunda Guerra Mundial. Muitos refugiados europeus tentavam escapar dos nazistas por uma rota que passava por Casablanca, cidade localizada na costa atlântica do Marrocos. De lá, era mais fácil a locomoção para Lisboa e, depois, aos Estados Unidos.
O filme foca em Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano expatriado no Marrocos, que dirige uma das principais casas noturnas da região. Clandestinamente, tentando despistar o Capitão Renault (Claude Rains), ele ajuda refugiados a irem para os Estados Unidos. Certa noite, um casal solicita seu auxílio e ele reencontra uma grande paixão do passado, Ilsa Lund (Ingrid Bergman).
No debate sobra a obra, o professor Bernardo Issler fez uma analogia entre os personagens principais e a situação mundial daquele período de guerra. “Blaine, o principal, ao mesmo tempo é cavalheiro e sínico. No primeiro momento, ele não quer tomar um posicionamento sobre o conflito nem com relação às pessoas que frequentavam o seu bar que, aliás, eram diversas: nazistas, franceses pró e contra a guerra, refugiados. Em determinado momento, assume uma posição, quando seu café é fechado. Podemos comparar com os Estados Unidos que só entram na Segunda Guerra Mundial quando são atacados pelos japoneses, em Pearl Harbor, em 1941.”
Ilsa Lund, segundo o analista, representa a mulher da Europa naquele período de guerra, que teve sua pátria invadida pelo nazismo. “Muitas eram casadas, tinham namorados e amigos e estavam sem companheiros porque tinham sido convocados para o conflito. Eles estavam nas fileiras dos exércitos ou em campos de concentração e elas desconheciam o paradeiro”, acrescentou Issler.
Victor Laszlo (Paul Henreid), para o debatedor, retrata os intelectuais, sobretudo, os tchecos abandonados pelos países europeus. “É o intelectual que combate o nazismo por meio da escrita em jornais, faz panfletos e é perseguido”, explicou.
Panorama do cinema
O médico psiquiatra Ezequiel José Gordon traçou um breve panorama do cinema hollywoodiano que desembocou em Casablanca. Após a Primeira Guerra Mundial, há um sentimento pacifista e crítico da geração daquela época, marcada por pensamento de que políticos desonestos, comerciantes de armas, corruptos e fanáticos incentivaram o conflito bélico.
“Quando há a ascensão do nazismo, com o movimento antissemita, os grandes diretores de Hollywood tinham um estilo muito próximo de admiração daquele eurofascismo nazista. No entanto, com muitos judeus em seus quadros, Hollywood muda de posicionamento”, reiterou.
Para ele, Casablanca retrata o submundo sombrio, triste, de crime e de corrupção da Segunda Guerra Mundial. “Os heróis não são bonzinhos, são cínicos e impiedosos, querem tirar vantagens, não são sentimentais, são solitários, inseguros e desiludidos, num caráter incerto e apático quanto ao futuro. As heroínas não são doces e amáveis, são deslumbrantes, misteriosas e ambíguas, dispostas a qualquer coisa para saírem bem. [Há] falta de confiança entre os personagens e a perda da inocência em um cenário urbano e hostil, condicionada à sensação de desespero, à beira da depressão, com um humor sarcástico”, afirmou Gordon.
Nessa linha, o mediador e idealizador do Cine Debate, Wimer Bottura Junior, destacou que a razão, responsabilidade e paixão, pautadas no conflito entre os personagens, principalmente entre Ilsa Lund e Rick Blaine, são constantes.
“O Rick, cuja história não conhecemos, é amargurado, desiludido, que não quer ser querido, é paradoxal. Ilsa tem motivos para se relacionar com ele porque Victor Laszlo está preso. No entanto, é um relacionamento marcado por conflitos e mal-entendidos”, esclareceu.
Casablanca venceu o Óscar de 1943 nas categorias melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e foi indicado nas categorias melhor ator (Humphrey Bogart), melhor ator coadjuvante (Claude Rains), melhor fotografia (Arthur Edeson), melhor edição (Owen Marks) e melhor trilha sonora (Max Steiner). “É um filme que tem alma, você se emociona, se envolve. Não só assistimos como participamos da trama, com a trilha sonora envolvente”, concluiu Bottura.
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