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04/03/2018 - Cine Debate estreia temporada com o filme Golpe do Destino

Jack McKee (William Hurt) é um médico bem-sucedido, com um padrão de vida elevado e aparentemente sem nenhum problema, até o momento em que é diagnosticado com câncer de garganta. Isso o leva a uma reflexão mais profunda da vida, percebendo que ser um profissional da Medicina é mais do que somente prescrições e cirurgias. O enredo, do filme “Golpe do Destino”, foi tema do primeiro Cine Debate da APM de 2018, na última sexta-feira, 2 de março.

“Escolhemos esse filme justamente em razão do evento ‘Jornada Multidisciplinar de Saúde do Médico’, que está sendo organizado por esta casa e vai acontecer em 17 de março. Temos observado nos últimos anos um aumento enorme da tentativa de suicídio, principalmente entre estudantes de Medicina. É um fator preocupante para todos nós”, destaca o psiquiatra Wimer Bottura Júnior, coordenador do Cine Debate.

Produzido em 1991, o drama norte-americano, com direção de Randa Haines, é considerado um clássico para a formação médica, de acordo com os analistas. Baseado na obra A taste of my own Medicine: when the doctor is the patient hardcover, de Edward E. Rosenbaum, segundo o psiquiatra Ezequiel José Gordon, o longa-metragem contribui para se questionar a relação médico-paciente.

“Um excelente médico e bastante confiável é o centro da questão. No entanto, não sabe lidar com o paciente, correndo em paralelo com a família, por ser uma pessoa egoísta”, afirma. Quando é diagnosticado com câncer, cai nas mãos de uma médica elegante que, assim como ele, tem um trato ruim com as pessoas.

 

“Acrescento ainda que impera na Medicina o ‘não haver contaminação de dentro para fora’, ou seja, qualquer sentimento que tenhamos com o paciente ou qualquer sentimento daquela pessoa pode ser um risco para nossa avaliação. Por ironia, McKee tem uma doença que atinge as cordas vocais, órgão fundamental para a comunicação, cortando o elo entre ele e os pacientes, a esposa e os demais que os cercam.”

Já o psiquiatra Kalil Dualib ressalta que há tipos de pacientes para tipos de médicos. “Estamos falando de um ideal humanista fundamental. Mas há uma série de pacientes que querem uma abordagem mais técnica, outros procuram aqueles profissionais presentes nos meios de comunicação etc. E o filme fala da vaidade médica existente na nossa área.”

Dualib fala ainda da preparação médica humanizada que experimentou ao longo da formação acadêmica. “Ao contrário do McKee, humanizado no decorrer da história, já tinha essa aproximação na graduação. Atuando, um baque na minha vida pessoal me tornou muito mais técnico, em virtude da perda do meu filho; nunca trabalhei tanto na vida, no entanto, era afastado de tudo. O outro recente, de diagnóstico de câncer da minha esposa, me trouxe novamente para uma vida mais humana”, compartilha.

Por fim, Wimer acredita que a sofisticação da profissão colabora para o afastamento do médico e do paciente. “Ele desenvolve a síndrome do homem razoável, um profissional que acerta a maioria das previsões e tem uma excelente carreira. Mas percebe que as pessoas à sua volta se tornam ‘medíocres’ por não desenvolverem a mesma habilidade. Por isso, reforço a importância de termos pensamentos contrários às nossas ideias. Não precisamos passar por um câncer de garganta ou ter uma perda muito grande para corrigir conceitos da vida.”

 

O Cine Debate ocorre mensalmente, com entrada franca. A programação completa de 2018 está disponível na página do Cultural no portal da APM. Confira!

Fotos: B. Bustos Fotografia

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