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07/07/2020 - Cine Debate on-line apresenta ‘Mãos Talentosas’
Mãos Talentosas: a história de Ben Carson, narrativa baseada na trajetória real de um homem negro e pobre norte-americano que tornou-se um dos mais respeitados neurocirurgiões do mundo, foi tema da segunda edição virtual do Cine Debate da Associação Paulista de Medicina, ocorrida na última sexta-feira, 3 de julho, com a participação de cerca de 200 pessoas através da plataforma Zoom.
“É imensa satisfação voltarmos a realizar esse encontro, agora on-line. Há duas décadas, o nosso amigo Wimer Bottura Junior conduz essa atividade cultural de forma ininterrupta e magistral. Neste novo formato, em razão da pandemia que nos isolou em nossos lares, tentamos buscar essa solução para manter a qualidade dos debates”, disse na abertura do evento o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral.
Bottura, coordenador do programa, explicou que a escolha da obra levou em consideração o momento atual enfrentado no Brasil e no mundo. “Temos de ter fé, esperança e confiança para superar os desafios. É um filme que fala exatamente do que precisamos neste momento.”
Superação hollywoodiana
Com direção de Thomas Carter e produzido pela Sony Pictures, a película conta a trajetória de vida de Benjamin Carson, diretor do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Johns Hopkins.
De infância pobre, filho de mãe separada, analfabeta e diarista, o protagonista passou por diversas adversidades na vida. “Ele tinha muitos motivos para não prosperar, como discriminação racial, bullying, baixíssimo rendimento escolar e aproximação com a criminalidade na adolescência; sofreu muitas resistências ao longo da vida”, informou Bottura.
Para o coordenador do Cine Debate, a mãe é a grande pessoa na história da vida de Ben. “Forte e determinada, com uma característica fundamental para o êxito das relações afetivas, centra nos filhos valores e princípios para enfrentar os desafios da vida com mais resiliência”, acrescentou.
“O filme trata, sem dúvida alguma, de uma história de ascensão e de superação que merece muito ser discutida, ainda mais neste momento particular que estamos vivendo. De origem humilde a se tornar um neurocirurgião de destaque, uma verdadeira celebridade, chegou a ser pré-candidato à presidência dos Estados Unidos e é o atual secretário de Habitação do governo Donald Trump”, resumiu o neurocirurgião e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Guilherme Carvalhal.
Para ele, a narrativa traz um ambiente clean e organizado, com breves episódios de racismo e revolta, o que contrasta com a realidade talvez mais difícil para uma família periférica de Detroit (EUA), nos anos 1950, que lida com a questão racial, a limitação econômica e a falta da presença paterna, algo julgado naquela época.
“A força e a determinação da mãe e a grande influência religiosa talvez não constituam valores tão excepcionais naquele universo. Acredito que a obediência e a aderência cultural a livros e até a música clássica, tanto de Ben quanto do seu irmão Curtis, estabeleceram sim verdadeiras exceções daquele universo”, destacou o professor.
No Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland (EUA), o jovem médico negro ocupa uma das duas vagas da bolsa-residência, para a qual concorriam 130 candidatos. “Sob ponto de vista emocional, com princípios morais rígidos, grande religiosidade e com muita capacidade de compaixão, de repente ele se vê no meio hierarquizado de forma literalmente militar, com cobranças acirradas e competitivas. É um drama frequente para um médico residente”, contrapôs Carvalhal.
Nesse mesmo hospital, Ben Carson tornou-se chefe da Neurocirurgia Pediátrica, tendo como o ponto alto da história a primeira operação de separação de gêmeos siameses unidos pela cabeça, nunca realizada antes na história da Medicina.
“Mãos Talentosas faz parte de uma longa tradição hollywoodiana de contar histórias edificantes e motivacionais, em que os personagens passam por muitas provações, muitas dificuldades e ainda assim conseguem superá-las e conquistar algo de valor importante, que comove a plateia. É uma longa tradição que já tem décadas e que permanece muito forte até hoje. São filmes que o público sai da sala de cinema com a sensação de esperança renovada: podemos acreditar novamente no mundo, nas pessoas e na sociedade”, analisou o crítico de cinema Miguel Forlin.
Em uma perspectiva estética, formal e narrativa, segundo Forlin, o roteiro foge à regra da simplicidade. Ele é estruturado como uma típica história de superação, tendo como o auge a operação dos gêmeos siameses, a partir de uma longa visão retrospectiva, com momentos decisivos que influenciaram diretamente na formação do personagem.
“Temos essa estrutura básica e clássica de roteiro, podemos dizer até aristotélica, do herói que sai em sua jornada e enfrenta uma série de dificuldades e, quando chega ao momento final, tem que enfrentar um grande dragão. Embora seja um filme que se encaixe perfeitamente nesse tipo de produção, acredito que há alguns elementos que fazem com que se destaque das demais produções similares.”
Para o crítico, são alguns destes elementos: o cérebro humano representando tanto o órgão que sofre a cirurgia, quanto a capacidade de superação e conhecimento; e a interligação de vida pessoal e profissional durante a narrativa biográfica.
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