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28/10/2020 - Covid-19: as lições que Brasil pode aprender com segunda onda de casos na Europa

G1

A primeira onda de Covid-19 na Europa começou a tomar forma a partir do início de março de 2020 e atingiu seu pico durante o mês de abril. Em maio, a situação já parecia estar mais estabilizada, com uma queda importante no número de casos e mortes pela infecção provocada pelo Sars-CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia atual.

Mais recentemente, porém, a situação fugiu novamente do controle e o continente acumula números cada vez mais alarmantes: nos últimos 14 dias, a França, por exemplo, confirmou 421.799 novos casos e 2.193 mortes pela enfermidade. Os dados são do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças. 

Na França, a taxa de acoemtidos e de óbitos por 100 mil habitantes no período de duas semanas chega a ser pior que das nações que lideram o ranking geral da pandemia, como Estados Unidos, Índia e Brasil. 

O panorama da Covid-19 também está preocupante em outros países da região, como Reino Unido, Rússia, Holanda, Espanha, Bélgica, Itália e República Tcheca.

Os únicos locais em que os números permanecem relativamente controlados até o momento são Alemanha, Grécia, Noruega e Finlândia. 

O crescimento gerou uma série de reações de governos e autoridades públicas: para conter a transmissão do vírus, medida como toques de recolher, volta das aulas à distância e fechamento de bares, restaurantes e lojas foram anunciadas por governos nos últimos dias. 

Os especialistas divergem se o que a Europa está vivendo é mesmo uma segunda onda ou apenas uma continuação da primeira, uma vez que os casos e mortes diminuíram, mas nunca cessaram. 

Definições à parte, quais foram os motivos por trás dessa guinada?

Retorno ao (novo) normal

"Com a chegada do verão, os abalos econômicos e a queda na transmissão do vírus entre a comunidade, houve uma enorme pressão para que as coisas voltassem a funcionar como antes por lá", anaçisa o médico Airton Stein, professor titular de saúde coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. 

Em vários países, as aulas presenciais em escolas e universidades foram retomadas. Restaurantes e bares passaram a funcionar regularmente. Com o clima ameno, muitos europeus decidiram sair de casa e viajar. 

O fato de esta segunda onda atingir principalmente os mais jovens é, inclusive, um indicativo de que a reabertura das atividades teve um papel decisivo neste processo - afinal, trata-se da faixa etária que predomina nas escolas e costuma estar em viagens ou eventos sociais com mais frequência. 

Evento programado?

Um novo aumento do número de casos e mortes por Covid-19 era algo que os cientistas já esperavam - e que pode acontecer em boa parte do mundo se algumas medidas não forem tomadas. 

O primeiro motivo para isso é o fato de que uma parcela significativa da população parece ainda não ter tido contato com o vírus. Em alguns países europeus, estima-se que a soroprevalência (a porcentagem de pessoas que apresentam anticorpos contra o Sars-CoV-2) esteja abaixo dos 15%. Na prática, isso significaria que os 85% restantes ainda estão vulneráveis à Covid-19. 

Vale ponderar que essa soroprevalência e o papel dela na pandemia ainda é muito incerta. Não se sabe, por exemplo, quanto tempo dura uma eventual imunidade contra a Covid-19 ou se todos os acometidos geram uma resposta parecida ao sistema de defesa.