DEU NA MÍDIA
19/06/2017 - Cuidado! Seus filhos podem herdar seus vícios, e é coisa da genética
Pesquisas apontam que ter pais com algum vício aumenta as chances das próximas gerações desenvolverem o problema. Se você pensou em álcool, cocaína e nicotina, saiba que essa herança desagradável também acontece quando há casos de compulsão por sexo, jogos e compras na família, por exemplo.
A boa notícia, dizem que os especialistas, é que a genética não atua sozinha. A professora Ana Lúcia Brunialti Godards, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), explica que no caso do álcool, a substância com mais estudos nessa área, 50% das chances de dependência ocorrem por conta da herança genética e 50% por influência do meio em que a pessoa vive.
"Se eu tenho um pai alcoolista, por exemplo, quando eu experimento uma bebida alcoólica, rapidamente o meu cérebro vai associar aquilo com prazer e vai começar uma modificação química e fisiológica, que vai tornar aquele álcool necessário para o meu dia a dia. Eu serei mais tolerante ao álcool e fazer uso dele não vai trazer os efeitos negativos. Eu vou ter uma vida aparentemente normal, só que chega um momento em que não consigo mais parar", diz a professora de genética.
No exemplo citado, o filho recebe do pai genes que atuam de modo diferente na absorção e na leitura do álcool pelo corpo.
Transmissão pode ser pior em alucinógenos
Segundo o psiquiatra Guilherme Messas, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, estudos realizados com gêmeos sugerem que essa influência genética é menor entre os usuários de alucinógenos e maior entre os de cocaína.
No entanto, o médico destaca que não existe "uma herança genética tão poderosa que torne a pessoa dependente sem que os fatores ambientais tenham uma influência decisiva". Messas explica que estudos indicam que existe uma influência direta e uma indireta da família no risco maior de desenvolvimento de uma dependência.
"A direta parece ser transmitida por tipos temperamentais, como, por exemplo, a impulsividade inata. A indireta, por sua vez, parece estar relacionada a uma fragilidade da função paternal, por exemplo, pela falta de contato próximo dos pais com os filhos ou o exemplo caseiro de uso imoderado", diz.
Isso significa que pais mais atentos ao comportamento dos filhos e que não bebem demais, por exemplo, podem reduzir um risco de dependência herdado de gerações anteriores.
E se eu não tenho histórico familiar?
Até agora, os exemplos citados tratam de mutações na sequência do DNA que alteram tanto o metabolismo quando o cérebro na perda do controle de uma substância.
Isso, segundo os pesquisadores, é percebido na árvore genealógica de uma família e quanto mais casos de dependência química, por exemplo, maior é o risco dos seus filhos desenvolverem também.
Nessa nova frente de estudos, a hipótese é que, mesmo sem histórico familiar, uma pessoa pode, ao adquirir um vício, passar por uma alteração química (diferente da mutação percebida nas árvores genealógicas) e transmiti-la para as próximas gerações.
É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Dinamarca e da Suécia mostrou, a partir da epigenética, que espermatozoides dos pais obesos carregavam marcas adaptados aos seus hábitos alimentares e com alterações nos genes que regulam o apetite.
Outro experimento, feito em camundongos por um grupo de pesquisadores da Universidade de Fudan, na China, mostrou que animais com mais interesse em cocaína tinham filhos mais propensos a se viciar.
De acordo com o estudo, isso acontecia por alterações epigenéticas. A professora da UFMG, no entanto, destaca que os estudos nessa área precisam ser aprofundados. "Ainda é uma suposição que essa alteração passe de pai para filho e precisaríamos de mais pesquisas, especialmente em seres humanos", diz.
Por UOL notícias