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05/01/2021 - Depressão e HIV

O vírus do HIV, por muitas décadas, foi taxado como uma doença relacionada à homossexualidade, um dos tabus que cercam o assunto no mundo.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (OMS), 920 mil pessoas vivem com o HIV, 77% realizam o tratamento com antirretroviral (ARV) medicação utilizada para impedir a multiplicação do HIV no organismo e evita o enfraquecimento do sistema imunológico.

Os infectados estão na faixa etária de 25 a 39 anos, sendo 52,4% são homens e 48,4% mulheres. Apesar de não haver cura até o momento, os portadores de HIV, que realizam a conclusão do tratamento, deixam de transmitir o vírus por via sexual por terem alcançado um nível indetectável da carga viral, fato importante que grande parte da população desconhece.

A falta de informações e os preconceitos que assombram o tema, prejudicam e interferem efetivamente o tratamento dos portadores da doença. Além de tudo, a fragilidade ocasionada após o diagnóstico desencadeia outras doenças como a depressão, que afeta em torno de 5,8% dos brasileiros. O quadro clínico está presente em 53% dos pacientes com AIDS, podendo ser leve, moderada e grave. E se torna um fator determinante durante o processo de cura, implicando no andamento do tratamento.

A depressão é uma condição clínica, podendo ser:

Endógena: a patologia é desencadeada devido a fatores do organismo do indivíduo ou quando já possui uma predisposição genética.

Exógena: esse tipo de depressão está relacionado ao estresse, traumas, problemas profissionais e familiares são os causadores da doença, é o caso dos pacientes com HIV.

Conviver com o transtorno não é fácil, especialmente pelo estigma social e pela preocupação relacionada ao nível inconsciente que se encontra a pessoa que enfrenta a doença. É uma condição mental que passa despercebida no sistema cognitivo, provocando alto nível de estresse em um sistema imunológico fragilizado. As preocupações constantes por conta do estado clínico agravam ainda mais a depressão.

Apesar da depressão ser exógena devido um motivo externo, nesse caso o diagnóstico da Aids, o transtorno reflete inteiramente nas estruturas mentais e físicas do soro positivo. É importante frisar que pacientes portadores de HIV, tem uma probabilidade grande de desenvolver a doença, quando comparados à pacientes que não possuem o vírus.

Entretanto, para quem já sofria de depressão endógena provocada por predisposição genética ou origem biológica, o diagnóstico faz com que o quadro piore de maneira considerável. Em ambas as condições, cuidar da saúde mental e física, realizar exercícios físicos, esportes, manter uma boa alimentação, ocupar sua rotina com coisas que fazem bem, estar rodeado de pessoas queridas e que estimulam, ajuda na luta contra a doença e evita que o paciente cultive pensamentos negativos.

Os gatilhos constantes de preocupações intensas, tensões, incertezas e os medos enfrentados pelos pacientes que lutam contra a depressão e HIV, podem desencadear outros transtornos como a ansiedade, situação que afeta 9,3% da população. A depressão e a ansiedade muitas vezes são confundidas, até mesmo por se manifestarem ao mesmo tempo, porém as causas, sintomas e tratamentos são diferentes, a ansiedade faz parte de alguns dias e momentos da nossa vida, aquela tensão pré – prova, a palpitação que acontece quando vamos encontrar a pessoa amada e até mesmo quando queremos ir muito em um evento, porém quando acontece de forma rotineira é um sinal de alerta. Classificada como ansiedade turbinada, o transtorno é prejudicial à saúde física e mental, manifestando sintomas como o aumento da frequência cardíaca, respiração ofegante, sonolência e pensamentos ruins, o que influência diretamente no tratamento.

O tratamento realizado para pacientes com depressão é diferente do método utilizado no trato de indivíduos que além do transtorno mental são portadores da AIDS, em razão dos sintomas de desânimo, fadiga e de pessimismo serem mais intensos é exigido uma atenção redobrada, além disso, a discriminação, preconceitos e tabus enfrentados aumentam o risco de suicídio.

A depressão, diminui o efeito das medicações no trato contra o HIV devido ao estresse presente no organismo dessas pessoas, o transtorno também encoraja os soropositivos a abandonarem o tratamento e interromperem as medicações, piorando o estado físico do paciente. A falta de autoestima e incerteza do amanhã são grandes influenciadores para largar a terapia.

É comum que pacientes com HIV percam interesse pela vida, um fator que contribui de forma positiva no tratamento são encontros coletivos de pessoas que compartilham da mesma patologia, sentimentos e sensações, a interação diminui os efeitos da solidão depressiva, que se faz mais agressiva nesse momento, estimulando todos ali presentes nessa luta diária.

Um outro fator que auxilia no processo de cura é tratar os impactos negativos da depressão, realizando acompanhamento com psicólogos, psiquiatras e terapias alternativas. Esses acompanhamentos acabam sendo imprescindíveis para aliviar o estresse e a ansiedade, o que contribui para o aumento da imunidade, além disso, incentiva no tratamento regular medicamentoso.

*Alexander Bez, psicólogo. Especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM) e em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA). Atua na profissão há mais 23 anos.

Fonte: Estadão