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06/08/2014 - Diferença de gêneros: ABMM destaca importância de debater o tema
"Quando seu médico lhe indagou sobre a sua indigestão, a Sra. Smith disse que lhe incomodava mais quando ela ia caminhando (...) depois de um quarteirão e meio ao longo da rua ligeiramente inclinada para cima, ela sentia uma pressão terrível no peito, uma sensação de acidez que queimava na garganta, um pouco de náusea e braços doloridos.” Os exames na região do estômago da mulher de 68 anos não apontaram nada e a senhora Smith voltou para casa. Dois dias depois, ela sofreu um infarto.
O trecho foi retirado do "Manual de Formação para perspectiva de Gênero na Saúde”, traduzido do inglês pela endocrinologista Anna Maria Reisner Martits e disponibilizado no portal da Associação Brasileira de Mulheres Médicas (ABMM), da qual a médica é diretora de Assuntos Internacionais. O objetivo é despertar nos médicos brasileiros a consciência de que considerar a diferença de gêneros na hora de diagnosticar uma doença e prescrever seu tratamento pode significar salvar a vida do paciente.
O exemplo real e bastante frequente ilustra o que a ABMM vem tentando replicar entre os profissionais da Medicina. De acordo com Marilene Rezende Melo, presidente da ABMM, apenas 25% dos cardiologistas paulistas têm informações consistentes sobre diferenças de gênero no diagnóstico e tratamento de pacientes. "Tanto o diagnóstico quanto medicação e prognóstico devem respeitar a diferença de gênero. E não é apenas nesta especialidade, mas em inúmeras outras”, afirma Marilene.
Além desses aspectos, é fundamental inserir o conceito de diferença de gênero nos testes de medicamentos. "Nos estudos em cobaias, é preciso também a utilização de animais fêmeas. Existem doenças autoimunes que são muito mais graves nas fêmeas, com morte em um tempo mais curto. Essas diferenças precisam ser levadas em consideração”, reforça a reumatologista Ivone Minhoto Meinão, presidente da ABMM São Paulo. E ainda acrescenta: "A discussão deve ser levada aos cursos de Medicina, para que durante o aprendizado o conhecimento seja adquirido”.
"Porém, é importante, antes de tudo, que haja a compreensão de que essa diferença vai muito além das questões relacionadas ao sexo. O gênero é uma construção social, que varia de sociedade para sociedade e ao longo do tempo”, complementa Marilene.
De acordo com ela, países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Alemanha já estão bem avançados neste debate e realizam, com certa frequência, congressos para aprofundamento das discussões. Recentemente, Marilene e Anna Maria participaram de três dias de palestras na Alemanha. Em 2015, a ABMM irá participar, entre outros eventos sobre o tema, de importante congresso em Stanford, nos Estados Unidos, por isso convida professoras titulares de faculdades de Medicina brasileiras a também irem.
"A Associação Brasileira de Mulheres Médicas tem buscado disseminar informação sobre diferença de gênero sempre que possível. No dia 7 de agosto, por exemplo, tivemos uma aula na Associação Paulista de Medicina sobre obesidade, identificando pontos essenciais dessa diferença. Em setembro, a aula abordará câncer evitável em mulheres”, reforça.
Da mesma maneira, a Seção São Paulo da ABMM promove, entre 4 e 7 de março de 2015, o Congresso Pan-Americano de Mulheres Médicas, em São Paulo, que terá palestras sobre gênero em doenças cardíacas, autoimunes, endócrinas e neurológicas.
A ABMM implantou o Departamento de Gênero e Saúde em 2013, embora já venha dando palestras e buscando informar médicos desde 2011. No site da entidade, também é possível acessar o "Manual de Formação para Perspectiva de Gênero na Saúde”.