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14/04/2009 - Dosagem sérica de alfa-fetoproteína (AFP)

O exame laboratorial mais comumente utilizado em pacientes com suspeita de câncer hepático (o carcinoma hepatocelular, ou CHC) é a dosagem sérica de alfa-fetoproteína (AFP), uma proteína normalmente produzida por células hepáticas imaturas do feto. 
  
Logo após o nascimento, os bebês apresentam níveis relativamente elevados de AFP, que diminuem progressivamente e atingem os níveis da idade adulta por volta de um ano de idade. Além disso, gestantes com crianças que apresentam defeitos do tubo neural também apresentam níveis elevados de AFP. (Os defeitos do tubo neural são malformações fetais no cérebro ou na medula espinhal que causadas pela deficiência de ácido fólico durante a gestação). 
  
Em adultos, valores elevados de AFP (acima de 500 ng/mL) são observados em apenas três situações:

  • CHC;
  • Tumores de células germinativas (neoplasias localizadas nos testículos e ovários);
  • Tumores com metástases para o fígado (com origem em outros órgãos).

Existem vários ensaios disponíveis para a dosagem de AFP. Em geral, os valores abaixo de 10 ng/mL são considerados normais. Níveis moderados (até cerca de 500 ng/mL) podem ser observados em pacientes com hepatite crônica. Além disso, muitos pacientes com diferentes tipos de doenças hepáticas agudas e crônicas sem CHC podem apresentar elevação discreta ou moderada nos níveis de AFP. 
  
A sensibilidade da dosagem sérica de AFP para o diagnóstico do CHC é de aproximadamente 60%. Em outras palavras, níveis elevados de AFP são identificados em 60% dos pacientes com CHC, enquanto 40% dos portadores de CHC apresentam níveis normais desse marcador. Valores normais de AFP, portanto, não descartam a hipótese diagnóstica de CHC. 
  
Além disso, valores elevados não necessariamente significam que o paciente tenha CHC. É importante lembrar, entretanto, que alguns pacientes com cirrose e níveis elevados de AFP, apesar de não apresentarem CHC, mantêm risco elevado de desenvolver esse tipo de câncer. Qualquer paciente com cirrose e valores elevados desse marcador tumoral, portanto, particularmente aqueles com valores crescentes, desenvolverão um CHC ou já têm um tumor que ainda não foi descoberto. 
  
Valores acima de 500 ng/mL são bastante sugestivos de CHC. Na verdade, os níveis sanguíneos de AFP não apresentam uma relação direta (correlação) com o tamanho do tumor. Finalmente, em pacientes com CHC e níveis elevados de AFP, esse marcador pode ser utilizado para indicar a resposta ao tratamento. Em pacientes submetidos à ressecção cirúrgica do tumor, por exemplo, espera-se que os níveis de AFP diminuam progressivamente. 
  
Existem outros marcadores tumorais para o CHC que atualmente são motivo de pesquisa, incluindo a des-gama-carboxiprotrombina (DCP), uma variante das enzimas gama-glutamiltransferase, e variantes de outras enzimas (por exemplo, a alfa-L-fucosidase) que são produzidas por células hepáticas normais. (Enzimas são proteínas que aceleram reações bioquímicas). 
  
Acredita-se que esses exames, em associação com a dosagem sérica de AFP, poderão melhorar a abordagem diagnóstica em pacientes com suspeita de CHC. 


  
Fonte: Elisabete Fernandes Almeida 
CRM 44.022