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06/11/2019 - Dr. Cidadão 2019 premia projetos de médicos e acadêmicos

Na nona edição, foram premiados os projetos “Retaguarda do Aprender” e “Novo Olhar”, de acadêmicos, e “Capacitar para Cuidar” e “Nós Cuidamos do seu Coração”, de médicos

Na noite do dia 1º de novembro, a Associação Paulista de Medicina realizou a nona solenidade do Prêmio Dr. Cidadão. Dos 37 projetos inscritos, sendo nove na categoria acadêmicos e 28 na categoria médicos, a comissão julgadora se surpreendeu com a criatividade e o comprometimento dos trabalhos.

“Este ano foi muito especial. Todos os projetos me emocionaram muito e alguns ficaram empatados com décimos de diferença”, ressalta a diretora de Responsabilidade da APM, Evangelina de Araujo Vormittag. Os projetos foram avaliados de acordo com o regulamento do prêmio, a partir de critérios como profundidade, inovação, coerência, criatividade, abrangência, impacto social e desdobramentos, potencial possibilidade de replicação e qualidade dos resultados.

“Acredito que viemos ao mundo para servir de fato. A própria escolha da nossa profissão médica tem essa missão natural de servir ao próximo. No entanto, quando nos deparamos com essas iniciativas, vemos que servir ao outro vai além de ser médico, e o que mais me encanta é observar o quanto ainda há por fazer. Nós médicos podemos sim contribuir além da profissão”, declara Evangelina.

O vice-presidente da APM Akira Ishida reitera que um dos valores da entidade é a responsabilidade social: “No Brasil, não temos a cultura de premiar projetos sociais ligados à Saúde, mas precisamos estimular essa consciência. E quero parabenizar a participação de todos e pedir para continuarem nessa linha que é muito importante. A APM continuará com sua missão de ajudar a todos”.

O conselheiro fiscal da APM Cláudio Alberto Galvão Bueno da Silva reforçou que o carinho, o respeito e o amor devem prevalecer sempre na relação médico-paciente, o que ficou evidenciado nos projetos participantes. “A meu ver, esse foi o maior ganho das iniciativas apresentadas nesta edição. Todos são vencedores aqui, mas temos uma premiação e somos obrigados a escolher dois por categoria.”

Acadêmicos
Na categoria Acadêmicos de Medicina, o projeto “Retaguarda do Aprender”, iniciado em abril de 2018, ficou em primeiro lugar, com o prêmio no valor de R$ 7.500,00. Ele consiste em realizar atividades educacionais a pacientes com doenças crônicas internados na Pediatria da Santa Casa de São Paulo. Os voluntários são estudantes de Medicina e de Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, que atuam como professores desses pacientes. “A nossa meta era ajudar o Lucas Gabriel, que está há 18 anos internado na Santa Casa. Um dos sonhos dele era ingressar na Faculdade de Astrofísica, porém nem teve oportunidade de ir à escola”, ressalta Lucas Moschietto Boff, idealizador e estudante do 3º ano de Medicina.

Em quatro meses, foi ensinado a ele o conteúdo de Ensino Fundamental, com a ajuda de amigos voluntários da faculdade. “Criei um cronograma para conseguirmos ensinar todo o conteúdo no pouco tempo que havia. As aulas eram diárias com duração de 1 hora e meia. Lucas fez a prova do Encceja, dentro da Santa Casa, e foi aprovado. Fiquei mais feliz por ele do quando passei na Faculdade de Medicina, e a iniciativa tomou uma proporção que jamais imaginava”, destaca Boff. A iniciativa - que surgiu de uma conversa sobre a necessidade de um paciente - hoje está em expansão para outras crianças. “Sempre tive como propósito ajudar crianças com deficiência, porque a doença não pode ser um empecilho para alcançar seus sonhos”, acrescenta.

Já o projeto “Novo Olhar”, idealizado por Fernanda Tarpinian, ficou com o segundo lugar e prêmio de R$ 3.500,00. Partiu da inciativa de alunos da Faculdade de Medicina de Jundiaí, em 2015, com a ideia de oferecer cuidado e atenção à saúde da população em situação de rua. “O interesse surgiu depois de participarmos de um Congresso de Medicina. Até então, não tínhamos um olhar acadêmico, com carinho especial, a pessoas com necessidades tão diferentes”, explica Giovanna Bolaro Sanchez, estudante do 4º ano da FMJ.

Hoje, o projeto abrange aspectos educacionais, culturais, científicos e a prestação de serviços. Desde sua criação, buscou implementar atividades promotoras de cuidado, em seu espectro biopsicossocial, e valorizar o indivíduo frente aos determinantes sociais. “Funcionamos em uma casa, fazemos atendimentos semanais. Além disso, fazemos o acompanhamento para inserir esses pacientes no sistema público de saúde, algo desafiante”, informa Giovanna.

Médicos
Na categoria médicos, “Capacitar para Cuidar”, tendo como responsável a hematologista Carmen Silvia Vieitas Vergueiro, ficou em primeiro lugar, com o prêmio de R$ 15.000,00. Iniciado em 2015, o projeto desenvolve manuais impressos, vídeos explicativos e aplicativo de celular destinados a pacientes com câncer no sangue para entender o processo de tratamento: antes, durante e depois do transplante de células-tronco hematopoiéticas ou transplante de medula óssea (TMO), como é mais conhecido.

“Dez anos atrás, quando tinha 16 anos, recebi o diagnóstico de leucemia linfoide aguda. No início do tratamento, você encontra muitas dificuldades. Há cinco anos, quando fiz meu transplante, não sabia nem o que iria enfrentar, como me preparar antes e depois do procedimento e como seria minha vida. Doses de radioterapia e quimioterapia? Sempre tive muitas dúvidas. E o manual esclarece a maioria das questões dos pacientes, deixando-os mais tranquilos para chegarem ao transplante”, esclarece a representante Wendy Nascimento, hoje assistente administrativo da Associação de Medula Óssea.

“Nós Cuidamos do seu Coração” ficou em segundo lugar, com prêmio de R$ 7.000,00. O cardiologista intensivista Agnaldo Piscopo desenvolveu um manequim “reciclado”, chamado de Guizinho, a partir de uma garrafa plástica de 2 ou 2,5 litros, utilizada para simular o tórax. Em 2014, foi testado um piloto em uma escola privada na cidade de Araras (SP), mostrando-se não inferior comparado com os manequins convencionais. A ideia foi registrada na Escola Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Letras e Artes.

“Começamos com um projeto de aprendizagem cardiopulmonar para educar crianças, mas o nosso empecilho era o manequim americano tradicional, que custa 150 dólares. No final do plantão, de forma muito casual, brincando com meu cachorro, percebi que a garrafa pet que jogava para ele tinha uma resistência parecida com um tórax humano. Coloquei-a dentro de uma camiseta e preenchi com papel e plástico, transformando em um manequim”, explica Piscopo.

Com isso, a iniciativa já treinou 11.600 mil crianças em ressuscitação cardiopulmonar. “Tive o prazer de apresentar esse trabalho em um Congresso em Dubai. O próximo será um Congresso Europeu de Cardiologia, com a presença de 35 mil médicos de vários países, 1.500 palestrantes e apenas três brasileiros falando sobre Medicina”, celebra o idealizador.

“Continuem com essas iniciativas brilhantes. Estamos em um momento muito delicado no mundo e no Brasil. Quando lemos esses projetos, que resgatam valores de amor pelo outro e colaboram com a generosidade, é muito bom. Como parte da diretoria da Associação Paulista de Medicina, vou divulgá-los e estaremos à disposição de todos que pudermos ajudar”, conclui Evangelina.


Fotos: Marina Bustos

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