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18/06/2017 - Editorial Florisval Meinão: O futuro do associativismo em jogo

Em agosto serão escolhidos os novos diretores das APMs Regionais, da APM Estadual e da Associação Médica Brasileira. Trata-se de um pleito da maior importância, pois os eleitos terão a responsabilidade de conduzir o associativismo médico em um momento particularmente difícil para o País.

Vivemos talvez a maior crise econômica e política dos últimos 50 anos. O déficit fiscal deixado pelo governo anterior, utilizando uma “contabilidade criativa” para ocultar da população o enorme rombo nas contas públicas, tem forte impacto em todos os setores da economia, principalmente nas áreas sociais, já que a capacidade de investimento da União está bastante comprometida.

Na Saúde, área de interesse especial dos médicos, a crise é intensa, com congelamento dos investimentos em patamares insuficientes para garantir o atendimento à população. Hospitais públicos de grande relevância estratégica estão parcialmente desativados. As Santas Casas acumulam dívidas gigantes e trabalham com déficit orçamentário. O resultado é a população parcialmente desassistida e médicos trabalhando em condições de absoluta precariedade.

Para agravar este cenário enfrentamos grave crise política. A sociedade assiste perplexa às graves denúncias de corrupção envolvendo grande parte de nossos políticos e a quase totalidade dos partidos. A perspectiva de uma solução a curto prazo é pequena, tendendo a arrastar-se por longo tempo, o que deve piorar ainda mais o quadro econômico.

"A atual diretoria da Associação Médica Brasileira deixou nossa entidade mãe frágil, apática, sem poder de representação dos médicos a nível nacional"

Esta é a conjuntura a ser enfrentada pelos futuros diretores a serem eleitos em breve. Médicos trabalham em condições insatisfatórias, são mal remunerados e seus contratos de trabalho não obedecem à legislação vigente. O setor de saúde suplementar também sofre o impacto da crise; com o aumento do desemprego houve redução significativa do número de usuários. De forma irresponsável se permite e até se estimula a abertura de novos cursos de Medicina, sem que faculdades estejam aptas para formar bons profissionais.

Para fazer frente a este cenário em defesa dos interesses da classe médica e por um atendimento de qualidade à população, necessitamos de entidades fortes nos representando e para tanto é fundamental eleger pessoas com forte comprometimento com tais objetivos.

A Associação Paulista de Medicina está devidamente preparada para desempenhar este papel. Nos últimos anos conseguimos superar a situação de extrema vulnerabilidade herdada da gestão anterior, em 2011. Recuperamos as finanças que se encontravam em níveis preocupantes, modernizamos a administração e recuperamos nosso patrimônio, tanto no edifício da APM Estadual bem como nas Regionais. Assim construímos a unidade em nossa diretoria, além de um estreito relacionamento com todas as demais instâncias.

Temos a firme convicção de que, em São Paulo, serão escolhidos diretores que estejam comprometidos com os objetivos da APM e que darão sequência ao trabalho até agora realizado.

Já a AMB trilhou caminho inverso. De instituição forte e combativa, que levou seus últimos dois ex-presidentes (Eleuses Paiva e José Luiz Gomes do Amaral) respectivamente a deputado federal e a presidente da Associação Médica Mundial, hoje se tornou frágil, apática, sem poder de representação dos médicos a nível nacional.

Sintomático deste fato é a manifestação dos seis últimos presidentes em apoio à candidatura de oposição.

Os diversos equívocos por parte do atual presidente levaram a uma divisão interna de sua diretoria. Várias federadas, entre elas a APM, estão insatisfeitas com o rumo atual da AMB. Sociedades de especialidades também manifestam sua legítima insatisfação com a cobrança de uma taxa extra por número de associados, que além de base jurídica duvidosa, é absolutamente inoportuna no atual momento de crise econômica.

Consideramos a eleição da AMB de grande importância estratégica no momento. É absolutamente necessário escolher um presidente com grande capacidade agregadora e que tenha liderança capaz de voltar a unir todos os segmentos do associativismo, hoje desagregados, em torno de uma proposta de recuperar a instituição e que a faça reassumir seu legítimo papel de representante dos médicos a nível nacional.

Editorial da Revista da APM - edição 689 - junho 2017