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11/06/2021 - Empatia no cuidado centrado na pessoa é tema de roda de conversa do CQH

“O que importa para você?”. O questionamento é inspirando no movimento internacional de cuidado centrado na pessoa intitulado “What Matters to You?”, que objetiva entender o que é mais importante para o paciente, levando em consideração as melhores práticas e experiências hospitalares. E na noite da última quarta (9), o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) - da Associação Paulista de Medicina - realizou uma roda de conversa com especialistas no assunto.  

No Brasil, em 2016, a Rede Santa Catarina foi a primeira instituição da América Latina a aderir ao movimento. A líder do “What Matters to You” e especialista em Experiência do Paciente, Camila Lorenz, esteve à frente da campanha como colaboradora da área corporativa de Saúde, Medicina e Segurança da instituição.

No bate-papo, ela citou brevemente a história do movimento global, inspirado em um artigo publicado no New England Journal of Medicine, em 2012, escrito por Michael Barry e Susan Edgman-Levitan, que destacou a importância da tomada de decisão compartilhada entre profissionais da Saúde e pacientes.

“O texto fala sobre os médicos pararem de ter aquele papel paternalista de poder de decisão 100% sobre o paciente, para que comecem a ter uma escuta ativa com ele, permitindo que decida em conjunto as melhores opções de tratamento. Ou seja, enxergar o paciente como um todo, não apenas a doença em si”, explica Camila.

Em seguida, o movimento WMTY, iniciado nos Estados Unidos, se espalhou por mais de 49 países, integrando fluxos de trabalho em diversos ambientes de atendimento: hospitais, atendimento primário, saúde comportamental, programas de tratamento para uso de substâncias e organizações de serviço social com base na comunidade.

No dia 6 de junho, data de celebração da campanha internacional, os profissionais participantes são incentivados a olhar para o paciente em sua integralidade personalizada, de maneira humanizada (compaixão, dignidade e respeito), e perguntar, ouvir e fazer, dentro das possibilidades, para melhorar o atendimento prestado.

“Precisamos entender que não é apenas uma data comemorativa. ‘O que importa para você?’ é uma mudança de cultura. Para isso, o líder da equipe precisa, em primeiro lugar, engajar seus colaboradores. Antes de termos a casca de exercício profissional, somos humanos e temos problemas fora do trabalho. Para que aconteça o movimento, precisamos entender o que é importante para o seu time”, reitera a especialista.

Com o paciente, ela explica que a prática de se fazer perguntas e ouvi-lo deve levar em consideração diferentes formas de abordagem. “Muitos vão dizer que está tudo bem porque têm medo de falar, de se expressar. Ao longo do tempo, descobri que precisamos elaborar outros tipos de perguntas para termos respostas mais concretas. Por exemplo, o que significa ter um bom dia para ele e quais são as rotinas que costumava praticar em sua casa.”

 

Caso e prática

Em fevereiro de 2015, a bailarina Júlia Lima, então com 27 anos, procurou ajuda médica, no Hospital Israelita Albert Einstein, após apresentar dores agudas na região do cóccix. Diagnosticada com Síndrome de Cockett, a jovem desenvolveu uma trombose venosa profunda e faleceu dias depois de passar por uma cirurgia.

“Quando atendemos um paciente, muitos de nós já criam ‘poréns’ sobre ele: ‘Ah, é mimada, reclama demais, etc.’, e não dá a devida importância sobre as queixas, o ouvir. No caso da Júlia Lima, tivemos o desfecho triste de óbito. Nunca é demais prezar pela segurança do paciente, precisamos sim ouvir, tratar e, principalmente, notificar para minimizar os riscos futuros”, disse a palestrante, que também é gerente de Projetos da Zeps Strategy Agency.

Após o ocorrido com a bailarina, o Hospital Israelita Albert Einstein criou uma série de ações para ampliar a segurança dos pacientes, entre elas, o Conselho Júlia Lima.

O evento contou também com a participação da gerente em Qualidade e Segurança do Paciente e ouvidora do Hospital Vera Cruz, de Campinas, Claudia Mathias. “Como aplicar este movimento na prática? É importante falarmos sobre uma série de ações pelo mundo, mas como fazer isso no dia a dia, de aplicar a teoria na prática e ser viável diante de, além da nossa loucura diária, enfrentarmos uma pandemia?” provoca.  

Pensando na segurança do paciente, ela ressalta a importância de se pensar na qualidade de vida de quem atua nos bastidores da Saúde para transformar a cultura daquele determinado ambiente. “Embora todos sejam da Saúde, todo mundo já foi paciente. E o que importa para aquele profissional tem a ver com a segurança. A cultura é uma moldura dentro de uma instituição, e precisamos do compromisso de governança e responsabilidade, preparando as pessoas para a abordagem do cuidado do paciente”, finalizou.

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