ÚLTIMAS NOTÍCIAS

28/06/2021 - ‘Entre dois amores’ é tema do Cine Debate da APM
Na última sexta-feira (25), a Associação Paulista de Medicina (APM) realizou mais uma edição virtual do Cine Debate 2021, refletindo sobre o dilema entre razão e emoção com o filme “Entre Dois Amores”, dirigido por Sydney Pollack.
O longa se passa no início do século XX e acompanha a vida de Karen Blixen (Meryl Streep), rica dinamarquesa que se muda para uma fazenda de café no Quênia com Bror Blixen-Finecke (Klaus Maria Brandauer), um barão com quem é casada por conveniência. A vida amorosa de Karen ganha mais emoção com a chegada de Denys Finch Hatton (Robert Redford), um aventureiro aristocrata inglês.
No início do evento, o coordenador Wimer Bottura Júnior, psiquiatra e psicoterapeuta, apresentou os convidados do debate: Marco Antônio Oliveira - mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, professor, pesquisador, editor, escritor, tradutor e agente literário - e Maria Cristina de Carvalho Saraiva - psicóloga clínica e educacional, membro da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP-SP).
Aspectos culturais
“Revendo o filme, foi possível perceber que ele oferece vários ângulos, podemos falar de vários assuntos a partir dessa obra. Denys como um caçador tem as feras como seus adversários, as quais desafiam sua força, capacidade, inteligência e competência, esse é o sentido de ser um caçador, diante dos animais que enfrenta”, introduziu Oliveira.
Uma cena emblemática descrita pelo palestrante acontece ao final do filme, após a morte do protagonista. Quando está enterrado, os leões se reúnem sob sua cova. “Para mim, isso é uma manifestação do diretor que apresenta a cena como uma espécie de símbolo desta disputa nobre entre duas enormes forças, a do caçador e a do leão, os animais estão homenageando a memória do seu grande adversário”, explica.
O palestrante ainda afirma que, segundo a Antropologia, existe uma coincidência entre a personalidade e a cultura, ou seja, as personalidades só podem existir em uma cultura que as exija e as permita existir. Por exemplo, você não pode conceber um empreendedor fora de um ambiente capitalista.
“O caçador, neste contexto, tem qualidades que nós podemos enxergar facilmente, é nobre, leal, destemido, inteligente e justo, encontradas em pessoas da África nesta época. Há uma correspondência entre o personagem, ambiente e cultura em que ele existe. O caçador de feras só pode existir na selva”, ressalta.
“Solidificando a imagem do caçador, estão as lutas tribais na África. Os africanos consideram que existem espíritos que estão nas árvores e nos animais, e um encontro entre o caçador e sua presa pode ser um encontro entre dois espíritos. Nas sociedades tribais, os animais funcionam como uma espécie de canal que liga o vivo com o morto, presente e passado, atividades de hoje com o que não pode ser visto”, complementa.
Importância dos vínculos
Maria Cristina, por sua vez, destacou que o filme retrata vários tipos de amores, importância dos momentos e não das coisas materiais. Quando Karen se apaixona pelo caçador Denys, percebe que ele prefere uma vida mais simples comparada com a que ela vive. Com o desenvolvimento da personagem, ao final do filme, os papeis se invertem.
“A obra nos faz entender que nada é nosso, tudo nos pode ser tirado, até mesmo a vida, assim como foi tirada de um dos personagens, quando conquistou aquilo que simbolicamente podia ser o máximo de sua liberdade”, conta.
Falando sobre Denys, ela ainda explica ser um personagem extremamente interessante, pois é aquele que diz ser livre, mas é prisioneiro de seus medos. O caçador destemido com medo de amar, se exime de viver uma vida com outra pessoa, e encontra um ponto de equilíbrio quando começa a criar vínculos com sua amada através de presentes simbólicos (caneta, bussola e vitrola).
“A caneta é um instrumento de registro, de contar histórias e um aspecto de ligação entre os dois; a bússola é um objeto de orientação, uma forma de não se perder, encontrar e reencontrar caminhos; e a vitrola, uma maneira de trocar músicas e formar memórias juntos. Se olharmos por outro ângulo, os presentes eram vínculos, e isso é algo realmente valioso, pois onde não existe vínculo e afeto, tudo se perde. Ele usa os presentes para anunciar aquilo que não consegue dizer e, ao mesmo tempo, quando ela acredita que precisa de algo a mais dele, ele se perde e foge”, destaca.
“Para mim, fica muito claro que o filme passa a mensagem de tomarmos cuidado com o que valorizamos, cuidado em tratar nossas feras, entender que somos passageiros e aquilo que temos não é nosso, e vamos deixar tudo para trás em algum momento. Entendo que precisamos viver intensamente aquilo que nos faz feliz e melhores”, completa a especialista.
Reflexões
No decorrer da live, os palestrantes refletiram e discutiram sobre comentários feitos pelos participantes, sobre sentimento de posse sobre outra pessoa, trajetória e escolhas feitas pelos personagens. “Acredito que a Karen queria muitas coisas, no sentido material e sentimental. E no final, mudando de ideia e Denys, que sempre dizia que não queria nada, querendo tudo. O discurso era um, mas o desejo era outro”, reflete Maria Cristina.
“Entendo que Denys, como um caçador, tem sua própria liberdade e implicou com a escolha de uma vida não comunitária no momento em que se vê apaixonado por Karen. Eu pensaria, não somos todos nós prisioneiros de nossas escolhas? Escolhas essas que excluem outras coisas que eventualmente gostaríamos de ter, mas não podemos ter justamente por que fizemos outra opção? Ou seja, se a nossa opção estiver perfeitamente adaptada ao ambiente cultural em que estamos, temos o maior prazer possível, mas quando confrontamos situações que questionam essa escolha, vamos nos sentir um pouco perdidos pela falta de outras coisas que também desejamos”, complementa Oliveira.
Perdeu algum dos debates? Acesse a playlist completa neste link.
Notícias relacionadas:
24/05/2021 - Cine Debate da APM discute o longa “Filhos de Istambul”
26/04/2021 - Obra argentina 'O Cidadão Ilustre' é tema do Cine Debate de abril
23/03/2021 - 'Escavação' é tema de Cine Debate da APM
02/12/2020 - ‘Crepúsculo dos Deuses’ é tema de 6ª edição on-line do Cine Debate APM
27/10/2020 - Cine Debate discute clássico italiano "Amarcord"
22/09/2020 - “Cidadão Kane” é tema do Cine Debate de setembro
24/08/2020 - Cine Debate aborda o clássico norte-americano Casablanca
07/07/2020 - Cine Debate on-line apresenta ‘Mãos Talentosas’
09/06/2020 - Dois Papas é tema do primeiro Cine Debate on-line da APM
Galeria de Imagem



