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23/03/2021 - 'Escavação' é tema de Cine Debate da APM

Em 19 de março, a Associação Paulista de Medicina (APM) abriu a temporada 2021 do Cine Debate, que segue sendo realizado virtualmente, debatendo o filme “Escavação”, produção britânica dirigida por Simon Stone e lançada mundialmente este ano pela Netflix. A fragilidade da vida foi a abordagem central dos analistas.

 

“[O filme] versa sobre a morte, que faz parte da humanidade, vinculando-se a uma descoberta arqueológica datada há cerca de 1.500 anos. Um dos princípios da arqueologia é exatamente esse: conhecer o passado para tomarmos melhores atitudes hoje, para que a gente possa ter um mundo melhor”, destacou o diretor Administrativo e ex-presidente da APM, Florisval Meinão.

O enredo da obra é centrado em uma proprietária de terras de Suffolk (condado da Inglaterra), Edith Pretty (Carey Mulligan), que contrata o arqueólogo-escavador autodidata Basil Brown (Ralph Fiennes) para escavar grandes túmulos em sua propriedade rural em Sutton Hoo.

O roteiro é uma adaptação da obra literária “The Dig”, de John Preston, publicada em 2007, que, por sua vez, é baseada em um caso real ocorrido em 1939. Com a 2ª Guerra Mundial se aproximando, é descoberto na propriedade de Edith Pretty um navio anglo-saxão.

“Quando começam a escavar, encontram-se os primeiros indícios de que havia um navio. Para nós, é algo inusitado um navio ser utilizado como um túmulo, mas era um hábito naquela ocasião de se enterrar pessoas nobres, importantes, em navios como muitas riquezas ao seu lado”, destacou Meinão.

Aos poucos descobriram que a câmara mortuária de 27 metros foi a maior já encontrada em toda a história arqueológica. Datado no período da Idade Média, o achado de objetos de arte reescreveu a história da Inglaterra.

Em meio à descoberta, a Alemanha invade a Polônia, os Países Baixos e a França, declarando a 2ª Guerra Mundial. No parlamento inglês, uma parcela da classe política defendia um tratado de paz, mas prevaleceu a declaração de conflito.

“As manifestações dos personagens mostram uma guerra irreversível. Em vários momentos, os ingleses daquela cidade pequena estão se preparando para o conflito. As atuações são excepcionais, tanto em figurinos, como em fotografia e a música ao fundo mostra uma relação muito conservadora entre as classes sociais”, acrescentou o diretor da APM.

 

Fragilidade da vida

O produtor cultural e audiovisual, Yuri Teixeira, reiterou que o autor John Preston quis discutir como pano de fundo de uma história real a condição de fragilidade da vida humana. Ele descobriu nos anos 2000 que a sua tia Peggy Piggott participou também das escavações.

“O filme quer discutir a fragilidade das coisas, da vida, dos objetos, porque a escavação é um lugar delicado. A fragilidade das relações das pessoas. Percebemos isso quando em um casamento o acordo pode ser frágil, como entre Peggy e Stuart. Inclusive a grandiosidade das coisas que nos rodeiam e quantas vezes elas são pequenas para nós”, explicou Teixeira.

Em meio à descoberta do navio túmulo e da eminência de guerra, Pretty recebe o diagnóstico de uma doença cardíaca incurável. “Alguns momentos a câmera sempre focada nela mostra que está alheia a tudo que ocorre em volta. Quando recebe o diagnóstico, a câmera se afasta e vemos ela saindo do hospital, distante. Ela se sente pequena e frágil diante da grandiosidade das coisas”, acrescentou o estudioso.

“Mesmo baseado em fatos, tem a interpretação do autor, do diretor e dos personagens.  Muitas vezes observamos em filmes e novelas que as pessoas humildes são as que têm as melhores histórias, são sábias, como acontece com Basil Brown, que tem um vínculo forte com a terra, com a história que aprendeu com o seu avô e certo grau de humanidade e respeito às normas. Ele fala pouco, mas o que precisa ser dito, com uma presença muito marcante”, avaliou o coordenador permanente do Cine Debate, Wimer Botura Júnior.

Na relação conjugal entre Peggy e Stuart, muitas vezes o silêncio fala mais alto que as palavras.  “O silêncio, a fotografia e como as coisas são mostradas são de uma riqueza que não precisa de muitas palavras, um olhar diz muito, a intuição gera a solução”, completou Botura.

Em junho deste ano, o Cine Debate da APM completará 22 anos com a exibição de mais de 200 filmes e participação de mais de 100 especialistas. O programa celebra ainda os 90 anos de trajetória da Associação Paulista de Medicina.

“Um quarto desta história é marcada com o Cine Debate, um compromisso da nossa instituição de zelar pela informação e bem-estar do público, com promoções culturais a médicos e população em geral”, encerrou Botura. Desde 2020, em razão da pandemia, o evento cultural ocorre a distância.