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07/05/2020 - Estudo do IBGE aponta quais Estados estão em situação crítica de leitos de UTI e respiradores
Estadão
RIO - O colapso nos sistemas de saúde em alguns dos estados do norte e do nordeste com o novo coronavírus coincide com a baixa oferta de médicos, enfermeiros, leitos de UTI e respiradores, problemas que existiam antes mesmo da pandemia. Estudo feito pelo IBGE a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (DataSUS) mostra que os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará e Maranhão apresentavam no ano passado os menores índices de distribuição de médicos para cada 100 mil habitantes entre todos os estados do País. Recursos necessários para o combate da covid-19, como leitos e ventiladores mecânicos, também eram baixos em diversos estados daquelas regiões.
"Os indicadores, tanto de recursos físicos quanto de recursos humanos, são bastante inferiores nos estados do nordeste e do norte em relação às outras regiões do País. Chama a atenção também o Amazonas, que tem como peculiaridade o fato desses recursos se concentrarem muito em Manaus", diz Claudio Stenner, coordenador de Geografia e Meio Ambiente do IBGE e um dos responsáveis pelo estudo.
Com quase 10 mil casos confirmados de covid-19 e 751 mortes registradas desde o início da pandemia, o Amazonas tinha em dezembro 111 médicos para cada 100 mil habitantes. Como comparação, o Distrito Federal - que apresenta os melhores índices - possuía mais que o triplo: 338 médicos para cada 100 mil habitantes. A falta de profissionais também já era vista no quadro de enfermeiros. O Amazonas tinha no ano passado 102 enfermeiros para cada 100 mil habitantes, ante 198 no Distrito Federal.
Segundo o IBGE, em dezembro do ano passado o Piauí apresentava a menor oferta de leitos de UTI entre todos os estados: apenas 7,1 para cada 100 mil habitantes. Amazonas (7,0), Acre (5,4), Amapá (5,4) e Roraima (4,1) vinham na sequência.
A pouca oferta de respiradores é outro aspecto que fica evidente. Os estados que apresentaram os menores índices de distribuição dos aparelhos para cada 100 mil habitantes foram o Acre (16,3), Alagoas (15,2), Maranhão (13,9), Piauí (13,7) e Amapá (10,4). Novamente, o Distrito Federal era o mais bem servido, com 63 aparelhos disponíveis para cada 100 mil.
O levantamento do IBGE também aponta para regiões do interior dos estados com maiores dificuldades de acesso a profissionais de saúde, leitos e equipamentos - e, no geral, mais uma vez a situação já era crítica no norte e nordeste. Santarém, cidade do interior do Pará com população estimada em 786 mil habitantes, apresentava índice de apenas 58 médicos a cada 100 mil habitantes; Irecê, na Bahia, (com população de 512 mil e índice de 60) e Garanhuns, em Pernambuco, (568 mil e índice de 64) vinham na sequência. Stenner faz a ressalva de que o recorte por municípios deve considerar também o atendimento a pacientes de cidades do entorno.
O estudo foi feito com base em dados disponíveis sobre a realidade do sistema de saúde no ano passado, e ainda não há uma série histórica para que se possa comparar a evolução da oferta de profissionais de saúde, leitos e equipamentos nos estados. Os pesquisadores concluíram o trabalho em cerca de um mês, e o intuito é contribuir para a realização de políticas públicas de combate à pandemia do novo coronavírus.
"A gente não tem uma explicação de o porquê de um estado ou região estar em condições melhores do que outro, apesar de haver uma certa correlação entre PIB per capita e quantidade de unidades de saúde. Nossa ideia com o estudo é evidenciar essas diferenças. Num exemplo hipotético, é possível analisar que dentro de um estado certa microrregião esteja mais carente de recursos ou equipamentos que outra, e os gestores direcionarem mais esforços para lá", conclui Stenner.