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17/12/2019 - Guardar 'melhor' esperma e engravidar aos 50: como seria se mulheres tivessem total controle na reprodução

G1

Por milênios, a sociedade trata as mulheres como inferiores aos homens em tudo, da biologia ao intelecto. Os cientistas - historicamente quase sempre homens - também viram o mundo através dessas lentes. Pesquisadores que estudam a reprodução animal, por exemplo, se concentraram quase exclusivamente nos machos. 

"Pensava-se que as mulheres eram esse órgão passivo no qual o esperma adentra, e que o óvulo não fazia muita coisa", diz Patrice Rosengrave, pesquisadora da Universidade de Otago, Nova Zelândia. "Tudo estava relacionado aos homens e ao esperma". 

Apenas recentemente os cientistas começaram a descobrir a surpreendente variedade de métodos que as fêmeas de muitas espécies usam para ter influênca sobre a própria cria. 

O fluido ovariano do salmão fêmea, por exemplo, acelera ou desacelera o esperma de certos machos, dando vantagem a determinados parceiros. Depois da inseminação, camundongos e galos-banquiva fêmeas têm mecanismos de contenção do esperma de machos com muita proximidade genética, impedindo a consanguinidade. 

Já as drosófilas podem armazenar espermatozoides em órgãos especiais para uso posterior, escolhendo depois o esperma de machos preferidos. E como os patos machos são propensos a estuprar e penetrar as fêmeas com seus pênis longos e em formatos de saca-rolha, que giram em sentido anti-horário, as fêmeas desenvolveram canais vaginais que giram no sentido horário, para evitar cópulas forçadas. 

Ainda que os humanos, obviamente, não tenham se adaptado à maneira de patos e moscas, muitas mulheres hoje têm mais controle sobre a gravidez por meio de métodos contraceptivos, da pílula do dia seguinte e do aborto.

Mas essas ferramentas não estão universalmente disponíveis, garantidas ou são necessariamente desejadas. Por motivos pessoais, religiosos ou culturais, as mulheres podem não querer usar um desses métodos. E quem quer nem sempre consegue: mulheres em países em desenvolvimento e comunidades com poucos recursos podem não ter acesso a métodos contraceptivos, enquanto outras vivem em locais onde o aborto é ilegal.

Além disso, simplesmente ter acesso a formas de controle de reprodução não garante que todas elas sejam infalíveis. Anticoncepcionais podem não funcionar, profissionais do sexo podem ser pressionadas a não usar proteção e centenas de mulheres são estupradas por dia no mundo.

E se as mulheres de repente herdassem algumas habilidades reprodutivas de outros animais? Mais precisamente, como seria se as mulheres tivessem o poder de controlar, sempre, não apenas quando engravidar e com que idade, mas de quem?

O primeiro e mais óbvio resultado, é claro, seria o fim das gestações não planejadas. Mulheres em quase todas as populações já estão tendo menos bebês por vários motivos. Ainda assim, em 2012, um dos anos mais recentes para os quais há dados disponíveis, 40% das 85 milhões de gestações no mundo foram não intencionais. Em alguns países, como os EUA, o percentual é mais alto — 45% das cerca de 6 milhões de gestações anuais são inesperadas.

Para as mulheres, esse cenário traria a tranquilidade de que "o corpo delas não faria, de repente, essa coisa incrivelmente disruptiva que é engravidar", diz Karen Newman, consultora independente de saúde reprodutiva baseada em Londres, Inglaterra.

Não depender mais de contraceptivos também significaria economizar dinheiro e evitar possíveis efeitos colaterais. Cerca de 500 milhões de mulheres, por exemplo, já usaram a pílula anticoncepcional em algum momento de suas vidas. Algumas têm de lidar com malefícios como depressão, enxaqueca, trombose, entre outros. A esterilização, o método contraceptivo mais popular em todo o mundo, também pode causar graves complicações.