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10/09/2018 - Há 40 anos, gravidez assistida realiza sonhos
Por: O Diário de Mogi
Se uma mulher de até 35 anos de idade estiver tentando ficar grávida espontaneamente durante mais de um ano e não obtiver sucesso, o melhor a fazer é procurar um especialista na área de reprodução humana para verificar as causas da infertilidade. O conselho é do médico Alex Sander José Miguel, 52 anos, presidente da Associação Paulista de Medicina – Regional Mogi das Cruzes e diretor Técnico do Hospital e Maternidade Mogi Mater, que há 13 anos atua na área e já foi responsável pelo nascimento de mais de 200 bebês por meio dos métodos de reprodução assistida.
Essas técnicas vêm sendo utilizadas para garantir a gravidez de um número cada vez maior de mulheres que se deparam com o problema, tanto que em 2018, quarenta anos após o nascimento do primeiro bebê de proveta, em julho de 1978, no Reino Unido, o mundo já conta com mais de oito milhões de casos de crianças que nasceram com a utilização de técnicas de seleção e congelamento de embriões na fertilização in vitro. De acordo com o médico, cerca de 25% a 30% dos casais têm dificuldades para conseguir a gravidez. As causas são variadas. Em 30% dos casos, a infertilidade está relacionada a fator masculino. Outros 30% são motivados por mulheres que podem ter útero com má formação, pólipo, fator tubário ou ovulatório, endriometriose, entre outras causas. Em 30% das ocorrências, os dois têm problemas, e há ainda 10% sem causa aparente.
Até o início da década de 1990, as chances das mulheres eram menores, com o método de fertilização in vitro clássica, onde os óvulos ficam 24 horas em meio de cultura com espermatozoides à espera de serem fecundados naturalmente. O preparo era feito no laboratório e depois, quando o embrião estava formado, ele era injetado na mulher. A chance de ter sucesso era de 5% por tentativa.
No entanto, houve uma grande evolução do sistema em 1993, quando começou a ser feita a injeção intracitoplasmática de espermatozoides, que introduz um único exemplar diretamente no óvulo maduro retirado e fecundado fora do organismo, em laboratório. Essa é a forma mais praticada pelos casais que optam pela reprodução assistida. A partir desse processo formam-se os embriões. Alguns dias depois, o médico avalia quantos deles se desenvolveram para serem implantados no útero da paciente. “Hoje, a taxa média é de 30% a 40% para mulheres de 35 anos. Acima de 40 anos, a possibilidade é de 20%”, observa Alex Sander. Ele disse que hoje, 30% dos casos são de gravidez gemelar. Para evitar o aumento de casos de gêmeos e até de trigêmeos, os médicos seguem um protocolo que permite a injeção de até dois embriões em mulheres de até 35 anos, um número que vai aumentando quanto mais avançada for a idade delas.
Normalmente se faz um ciclo para retirar e fecundar seis óvulos, que serão transformados em embriões. Na primeira tentativa, são transferidos apenas dois para mulheres mais jovens e um número maior para as mais velhas. Os embriões que não são usados ficam congelados. Se não deu certo na primeira vez, o casal pode tentar novamente porque os embriões já estão reservados e normalmente 80% deles são bons.
Caso a mulher fique grávida logo na primeira tentativa, os embriões congelados podem ser doados para pesquisas científicas ou outras famílias, com autorização prévia dos doadores. No Brasil, as taxas de doação para pesquisas com células-tronco embrionárias ainda são muito baixas. Em 2017, apenas 122 embriões foram doados.
O congelamento de embriões permite que as células fecundadas possam ser guardadas nas clínicas a partir da técnica de crio preservação e mantidas em temperaturas abaixo de 190 graus com o uso de nitrogênio líquido. “Com a evolução nos tratamentos de reprodução assistida, também foi observada a necessidade da adoção de procedimentos éticos. Por se tratar de um assunto delicado, é necessário seguir algumas regras para controlar o número de embriões congelados, a quantidade dos injetados e todos os detalhes do processo”, explica. O sistema de congelamento vem sendo usado por mulheres que querem retardar a gravidez por causa da carreira e também por pessoas que estão com problemas de saúde, especialmente aquelas que são diagnosticadas com câncer ou enfermidades que possam comprometer os óvulos. Ele observa que antes, as mulheres tinham filhos com 20 anos, depois com 30 e agora, em média com 35 anos. Porém, os óvulos não se renovam e com o tempo perdem a qualidade, motivo pelo qual algumas delas estão recorrendo ao congelamento para otimizar a possibilidade de gravidez.
O especialista afirma ainda que apesar de a Medicina ter avançado nessa área, ainda há desafios para acompanhar a evolução dos tempos. Um deles é melhorar a qualidade dos óvulos da mulher mais velha e já são desenvolvidas técnicas experimentais para isso.
O grande sonho de Tatiana Franco, 39 anos, fonoaudióloga e empresária, era ser mãe. Ela já estava casada há três anos com Stéfano Almeida, mas apesar das tentativas, não conseguia engravidar espontaneamente. Na época, já era paciente do ginecologista Alex Sander José Miguel, que indicou o tratamento.
Tatiana conta que em princípio, ela e o marido resistiram. “Demoramos em assumir que tínhamos problemas. Só depois de dois anos foi que decidimos iniciar o tratamento. Tive certa resistência, primeiro porque não me sentia preparada emocionalmente e depois por causa da parte financeira”, explica.
Depois da retirada dos óvulos, que receberam os espermatozoides, o casal decidiu transferir dois embriões. Apenas um deles vingou. A fonoaudióloga começou a fazer o tratamento em agosto de 2016. Ficou grávida alguns meses depois e teve o filho, Raul, em 2017. Ele já fez 1 ano e é uma criança muito saudável. Depois do tratamento, o médico informou que aumentam em 10% as chances de ficar grávida naturalmente, mas mesmo assim, ela disse que não vai se prevenir. Caso parecido aconteceu com o vendedor Guilherme Magalhães, 38 anos, casado com a farmacêutica Paula Regina Batista, de 37 anos, que também precisaram recorrer às técnicas de reprodução assistida para conseguir a gravidez. Ela conta que os dois já estavam juntos há seis anos. Depois de dois anos tentando ter um filho pelos métodos tradicionais decidiram procurar ajuda, “porque o meu relógio biológico já estava gritando”. Foi então que procuraram o médico. Depois de passar por uma bateria de exames, a farmacêutica foi diagnosticada com pólipo endometrial no ovário. O médico também a informou que o tratamento envolvia a realização de uma cirurgia. Passou pelo procedimento e aguardou entre três e quatro meses. Tentou novamente pelo método espontâneo e não conseguiu. A partir daí optou pela fertilização in vitro. Já sabia que a garantia não era certa, mas mesmo assim decidiu arriscar.
Lembra que fez o processo da primeira inseminação em maio de 2017, transferiu os embriões e ficou grávida na primeira tentativa, em junho, quando começou a gerar as duas filhas, Alícia e Estela, que nasceram há quatro meses. “Realizamos o sonho da nossa vida. Valeu a pena”, disse Guilherme. Porém, como sabem que há boas chances de uma nova gravidez, o casal disse que passará a utilizar métodos anticoncepcionais. (S.C.)
Varicocele causa infertilidade masculina
Dentre as causas de infertilidade masculina, a varicocele é a principal, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença responde por cerca de 40% dos casos e atinge 15% dos homens. A estimativa é de que 80 milhões de indivíduos tenham o problema no mundo.
O urologista Silvio Pires explica que a varicocele está relacionada à dilatação das veias presentes no cordão espermático, estrutura que une os testículos ao corpo, criando uma espécie de varizes. “O desenvolvimento desta doença ocorre quando válvulas defeituosas, presentes no interior das veias, permitem o refluxo de sangue durante manobras de esforço. Desta forma, o sangue circula lentamente levando a um aumento de substâncias tóxicas e, consequentemente, à diminuição da produção, movimentação e funcionamento dos espermatozoides”.
O problema pode aparecer ainda na adolescência. As primeiras manifestações da varicocele surgem entre os 15 e 25 anos e, como a maior parte dos casos trata-se de uma condição assintomática, é essencial fazer uma visita regular a um especialista para evitar problemas mais graves. Os sintomas envolvem desconforto e dor local, sensação de peso e piora desses sintomas com a prática de exercícios físicos. Com o tempo, a varicocele pode aumentar de tamanho. Em casos mais graves, ocorre ainda hipotrofia testicular ou infertilidade.
Muitos problemas, de acordo com o médico, poderiam ser evitados e corrigidos se o homem, a exemplo da mulher, procurasse o urologista desde cedo. Nos casos em que o portador da doença desejar ser pai, alguns tratamentos podem ser realizados para corrigir a patologia, inclusive a cirurgia. “A escolha vai se basear em fatores como o grau de alteração da produção de esperma e o tempo de subfertilidade, entre outros. Os pacientes tratados cirurgicamente, mas que não tiveram melhora nos parâmetros seminais, devem ser indicados para a reprodução assistida, seja a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro”, observa Pires. O médico atende na Criogênesis, em São Paulo, clínica referência em serviços de coleta e criopreservação de células-tronco e medicina reprodutiva. (S.C.)