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29/05/2017 - Homenagem a Umberto Veronesi, ícone da Mastologia

Por Alfredo Carlos S. D. Barros 

Em 2016, aos 91 anos, faleceu um dos ícones mundiais da área de Mastologia: Prof. Umberto Veronesi, que revolucionou conceitos, introduziu técnicas, ensinou muito e pesquisou sempre na fronteira do conhecimento.

Brilhante médico, foi também político e humanista. Dedicou a maior parte da vida à prevenção e à cura do câncer, sobretudo de mama, norteado pelo objetivo de se obter o equilíbrio entre máximo controle e mínima mutilação.

Sua maior contribuição foi a comprovação da segurança da retirada parcial da mama, a qual padronizou para carcinomas iniciais. Rompeu paradigmas e defendeu ideias com metodologia irrefutável, em época em que quase não se faziam estudos clínicos. Antes dele, o câncer de mama era sempre tratado por mastectomia.

Publicou seu mais famoso artigo na New England Journal of Medicine, em 1981. Depois, mostrou a importância da complementação radioterápica. Ademais, contribuiu com seu grupo para a proposição pioneira da quimioterapia adjuvante; neoadjuvância para redução da extensão cirúrgica; localização radioguiada de lesões não-palpáveis, “nipple-sparing mastectomy”; radioterapia intra-operatória em dose única; e quimioprevenção.

Veronesi valorizou e difundiu a oncoplastia e conduziu o primeiro clinical trial mundial sobre a eficiência do tratamento baseado na biópsia do linfonodo sentinela. Entre 1976 e 1994, dirigiu o Instituto Nazionale dei Tumori, em Milão. Também fundou o European Institute of Oncology, do qual foi diretor Científico até morrer. Criou a European School of Oncology, que por décadas levou conhecimento aos cinco continentes. 

Tinha especial apreço pelo Brasil, onde esteve em inúmeras oportunidades. Influenciou a formação de quase todos os cirurgiões de nosso País que operam pacientes de câncer de mama. Recebeu em seu hospital centenas de médicos brasileiros para visitas e estágios de curta e longa duração. Professor vocacionado, adorava viajar para ministrar aulas, conferências e cursos em todo o mundo.

Pessoalmente, o conheci em 1990, durante uma viagem de estudos com bolsa oferecida pelo Instituto que dirigia, conseguida por intermédio do Prof. José A. Pinotti, que era seu amigo particular. Repeti as visitas ao seu hospital várias vezes, sempre com gentil acolhimento. Encontramo-nos inúmeras vezes em congressos da especialidade por todo o mundo. Tornei-me seu admirador incondicional. 

Foi ministro da Saúde da Itália (2000-2001) e senador do Parlamento (2008-2011). Entre suas atividades políticas, sobressaiu a criação da lei antifumo, a estruturação do atendimento do câncer na Itália e a defesa dos interesses das minorias. 

Como humanista, notabilizou-se por estimular campanhas pela paz. Presidiu a Agenzia per la Sicurezza Nucleare, foi embaixador do movimento Internet for Peace e organizou pela Fundação Umberto Veronesi o projeto Science for Peace. Distinguiu-se, ainda, como defensor dos direitos dos animais em geral e dos animais empregados nas pesquisas científicas.

Tinha uma mente inquieta e inovadora, aliada a notável espírito de organização. Incansável, não sabia parar de trabalhar. Pouco antes de morrer, ia ao Instituto três vezes por semana e, intelectualmente, ainda o liderava. O Professor Veronesi foi tudo isto.