Infectologia Pediátrica - Campos de trabalho em expansão

02/01/2017 - Infectologia Pediátrica - Campos de trabalho em expansão
RECONHECIDAS COMO ÁREA DE ATUAÇÃO PELA COMISSÃO MISTA DE ESPECIALIDADES, A INFECTOLOGIA PEDIÁTRICA E A HOSPITALAR COMEÇARAM A SE DESENVOLVER NO BRASIL NA DÉCADA DE 1970 E 1980, RESPECTIVAMENTE
A Infectologia Hospitalar começou a ser desenvolvida no Brasil a partir dos anos de 1980, após a morte do presidente Tancredo Neves, falecido em 1985 ao contrair septicemia.
Com a finalidade de produzir e avaliar indicadores relativos à Infecção Relacionada aos Serviços de Saúde (IRAS), assim como desenvolver ações que resultem em sua redução, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) é a principal área de trabalho deste médico infectologista. Além de coordená-la, o profissional atua como consultor, seja na padronização de insumos hospitalares ou na assistência ao paciente internado.
Carla Sakuma de Oliveira, coordenadora do Comitê de IRAS da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), ressalta que o Brasil precisa avançar em diversos aspectos para se equiparar em nível de atendimento aos países de primeiro mundo, a começar pela realidade de que muitos hospitais brasileiros não dispõem de CCIH atuante, o que impacta diretamente na qualidade dos serviços prestados.
"A Infectologia Hospitalar vem evoluindo bastante porque muitos hospitais do mundo estão investindo nesta área. Aqui no Brasil, atualmente, existem ótimos profissionais, porém, para obter excelência, há necessidade de uma mudança cultural conjunta”, enfatiza Carla, que também é coordenadora da CCIH do Hospital do Câncer de Cascavel.
Para Marcos Antônio Cyrillo, 1º tesoureiro da SBI, as dificuldades da área estão relacionadas ao baixo número de funcionários, em comparação com a quantidade de pacientes, à falta de insumos e, no setor privado, à necessidade de alinhar o bom atendimento com a rentabilidade da instituição, o que nem é sempre é possível.
"Com relação à evolução tecnológica, o Brasil não alcançou ainda o nível de excelência pela limitação de recursos financeiros e pela falta de políticas que favoreçam a formação dos profissionais. Mas temos uma participação importante nesta área, uma vez que as nossas sociedades são reconhecidas no mundo todo e os nossos profissionais colaboram com os programas da OMS”, diz Cyrillo.
Infectologia Pediátrica
A epidemia de meningite meningocócica ocorrida na década de 1970 foi um marco que contribuiu para o desenvolvimento da Infectologia Pediátrica no Brasil. Entre os profissionais que se destacam nesta área de atuação está Calil Kairalla Fahrat, cujo legado inclui mais de 20 obras literárias, além de seu trabalho sobre vacinação de gestantes contra meningococos A e C.
O infectologista pediátrico atua nas enfermarias de crianças internadas com doenças infecciosas, instituídas em hospitais que são referência na área, e nos ambulatórios de Infectopediatria. A CCIH e os consultórios especializados nessas patologias são outros campos disponíveis no mercado de trabalho.
Em relação à prevenção, campo de atuação importante para o médico infectologista, o Programa Nacional de Imunização, que tem por objetivo diminuir os indicadores de morbidade, é constantemente atualizado com a introdução de novas vacinas ou indicações para a população pediátrica, como a recente extensão da vacinação contra o HPV para os meninos, por exemplo.
Segundo Rosana Richtmann, membro da Comissão de Certificação em Infectologia Pediátrica da SBI, o grande desafio da área de atuação quanto ao SUS é a carência de leitos e profissionais especializados, assim como a falta de recursos diagnósticos e terapêuticos adequados nos hospitais públicos. Já em relação aos planos de saúde, o problema é ter a necessária agilidade para se fazer um diagnóstico especializado.
"Na América Latina, o Brasil é referência. Diversos países se espelham nas nossas normas e protocolos. Podemos observar isso nas áreas de AIDS pediátrico, no controle e prevenção de IRAS, nos programas de imunização e em tantos outros. Recentemente, estamos ensinando ao mundo sobre a epidemia de Zika Vírus e toda a repercussão relacionada às alterações fetais, além da microcefalia”, diz.
Publicado na Revista da APM - edição 684 - dezembro 2016