Os insetos do gênero Haemagogus são o principal vetor, mas pesquisadores acreditam que o Aedes aegypti pode ser um transmissor "competente" do vírus - e isto traz implicações sérias para o desenvolvimento da doença nas cidades.
Os pesquisadores da UFRJ identificaram o mayaro a partir da análise a nível molecular de 279 amostras que, pelos sintomas, indicavam infecção por chikungunya.
Mas 57 destas amostras não puderam confirmar a presença da chikungunya, e então os cientistas fizeram uma reanálise delas. Com uma técnica chamada PCR em Tempo Real, a equipe conseguiu finalmente identificar um gene específico do mayaro em três amostras. Os resultados devem ser consolidados e publicados nos próximos meses em um artigo.
"Nosso interesse agora é descobrir se em 2019 o vírus continua circulando. Se está circulando, onde? E ele já pôde infectar mosquitos urbanizados?", indica Amilcar Tanuri.
Para buscar estas respostas, a equipe está correndo atrás de amostras de pacientes infectados neste ano, inclusive em outras partes do Estado como cidades que já tiveram casos de febre amarela silvestre - portanto, envolvendo o Haemagogus ou ainda o mosquito Sabethes.
E, como indicou Tanuri, os cientistas procuram também indícios se o Aedes já possa ter picado um hospedeiro do mayaro e estar transmitindo o vírus, ampliando em muito a possibilidade de expansão da doença nas cidades.
Neste cenário, uma das medidas mais importantes a ser tomada já é conhecida - mas ainda deficiente: o combate ao mosquito, com a promoção do saneamento e da limpeza, impedindo a proliferação de ovos e larvas do vetor na água parada, por exemplo.
"(Este tipo de arbovirose) É um subproduto da expansão das fronteiras agrícolas, da entrada da zona urbana dentro da mata, do movimento de pessoas", explica Tanuri.
Desafios para levar pesquisa adiante
Segundo o cientista, dos mais de 6 mil casos relatados pelo Estado do Rio de Janeiro como indicativos de chikungunya neste ano, cerca de 20% não foram conclusivos para confirmação desta doença - o que abre margem para que possam na verdade incluir casos de mayaro.
Mas estudar milhares de amostras implica em custos e demanda investimentos, o que joga luz sobre obstáculos sérios a serem enfrentados na investigação. Segundo Tanuri, "desde 2014" o investimento em pesquisa através de órgãos de fomento federais e estaduais vem caindo, e agora neste ano o cenário deve ser agravado pelo contigenciamento de verbas para universidades federais como a UFRJ - afetando condições básicas para o estudo, como o fornecimento de luz, água, limpeza e segurança.
Em 2016, o trabalho da equipe de Amilcar Tanuri e Rodrigo Brindeiro no laboratório da UFRJ chegou a uma das publicações científicas mais importantes do mundo, a revista Lancet, na qual os brasileiros apresentaram o sequenciamento completo do genoma do zika.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, de dezembro de 2018 ao início de maio, o Rio de Janeiro foi o Estado com a maior incidência de chikungunya no país - configurando um surto. Já em relação à dengue, zika e febre amarela, um relatório de janeiro do governo estadual mostra que a situação é melhor do que nos anos anteriores.