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20/04/2021 - Mês Mundial da Doença de Chagas: 146 novos casos confirmados em 2020
Em abril, celebra-se a conscientização mundial da doença de Chagas. Conhecida como uma infecção tropical “silenciosa e silenciada” - em razão da análise clínica ser lenta, frequentemente assintomática, e porque atinge, sobretudo, pessoas mais vulneráveis economicamente e com dificuldade de acesso ao sistema público de Saúde -, em 2020, foram confirmados 146 casos, com uma letalidade de 2% (3 óbitos, todos no Pará).
Os dados são do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A maior incidência, 138 casos, ocorreu na região Norte do País, com predominância de infecções em adultos jovens do sexo masculino; cerca de 6% das mulheres estavam gestantes. A respeito da raça/cor, 85% se declararam pardos.
Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a transmissão ocorre após a picada pelo inseto barbeiro portador do parasita, pela ingestão de alimentos contaminados ou em contato com fezes de pessoas infectadas. Há ainda a transmissão por mulheres infectadas para seus bebês, durante a gravidez ou parto; por transfusão de sangue ou transplante de órgãos de doadores infectados a receptores sadios; e ainda por contato da pele ferida ou de mucosas, com material contaminado.
Segundo o boletim, estima-se que atualmente haja no Brasil cerca de 1 milhão de pessoas infectadas por Trypanosoma cruzi. Endêmica nos países da América Latina, o Dia mundial da doença, 14 de abril, foi incluído no calendário nacional em 2019 e passou a ser celebrado oficialmente em 2020, para alertar sobre a importância de se combater a doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, nos últimos 15 anos, a ocorrência sistemática dos casos está relacionada à transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados, principalmente na região amazônica, e à transmissão vetorial extradomiciliar, com a exposição acidental ao ciclo silvestre do agente etiológico.
Os principais sintomas, na fase aguda, são febre prolongada, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e nas pernas. Na fase crônica, sendo a maioria dos casos assintomáticos, pessoas infectadas podem apresentar problemas cardíacos ou digestivos. Para o tratamento e acompanhamento médico, os medicamentos são disponibilizados pelo sistema público.
A Biblioteca Virtual do MS destaca que uma das formas de controle da doença é evitar o inseto “barbeiro”, através da aplicação de inseticidas residuais, usar medidas de proteção individual e aplicar todas as ações de vigilância sanitária nas etapas da cadeia de produção de alimentos suscetíveis à contaminação.
Relação com a Covid-19
Entre março e agosto de 2020, foram registrados 125.691 óbitos por Covid-19, dos quais 207 (0,2%) dessas notificações mencionaram a doença de chagas enquanto comorbidade, o que pode ter contribuído para o quadro de morte. A maioria dos casos era do sexo feminino (52,66%) e da raça/cor parda (42,03%), com a média de idade de 74 anos.
No mesmo período, em relação aos óbitos por doença de Chagas como causa básica, foram registradas 1.746 mortes no Brasil, das quais mencionaram a Covid-19 como o agravo direto ou indireto para óbito; as maiores proporções centralizaram-se nas regiões Sudeste e Nordeste.
No dia 15 de abril do ano passado, o Ministério da Saúde publicou uma nota recomendando adequações para as ações de vigilância e cuidado do paciente com doença de Chagas frente à situação epidemiológica do novo coronavírus, “principalmente no que se refere ao ambiente intradomiciliar e à vigilância da fase crônica da doença.”
Nas considerações, o desafio atual é dimensionar os impactos da DC relacionados à pandemia. “Acrescenta-se a mortalidade subdimensionada da doença, simultaneamente à ocorrência de casos de Covid-19, em função dos sistemas de saúde mostrarem falhas tanto na vigilância como assistenciais, apesar do certo conhecimento a respeito dos efeitos da doença em pacientes cardiopatas. Esse fato pode resultar em sobrecarga ainda maior no sistema, devido à necessidade de intensificação dos cuidados”, conclui o boletim.