ÚLTIMAS

04/09/2017 - Mestres colocam carreira acadêmica na balança

Professores de Medicina falaram da satisfação e da importância da ocupação, assim como das barreiras enfrentadas

Na sequência do 2º Encontro de Médicos Jovens da APM, foi a vez do debate sobre a opção do médico pela área acadêmica, coordenado por Ricardo Imaizumi Pereira, membro da Comissão de Médicos Jovens da entidade e afiliado no ambulatório de cuidadores da disciplina de Geriatria e Gerontologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). “Pensamos neste evento para tentar dar uma luz nas opções que o médico possui ao seguir sua carreira. Atualmente, faço um pouco de tudo, inclusive preceptoria. Então, espero que a experiência dos convidados mostre o que há de bom na Academia.”

Dario Birolini, que em 1987 tornou-se o primeiro professor titular de Cirurgia do Trauma do Brasil, na Faculdade de Medicina da USP, contou sobre a incerteza do que apresentaria aos presentes. “Resolvi fazer uma abordagem diferente, inspirado por Confúcio, que dizia que se você quer prever seu futuro, deve estudar seu passado”, confidenciou o médico ítalo-brasileiro, que então relatou sua trajetória de dificuldades, saindo da Itália em destroços da 2ª Guerra Mundial até chegar ao Brasil, ir ao colégio e, posteriormente, à faculdade de Medicina.

A todo momento, Birolini fez questão de ressaltar a importância que os seus colegas de faculdade, e sobretudo os mestres, tiveram em sua decisão de seguir a carreira acadêmica. “Paulo Branco, meu mestre e tutor, me mostrou que a Medicina é uma área de certezas transitórias. Assim, fazíamos grupos de estudos e fichamentos para nos atualizarmos. O passado e minha família, todo o impacto que tive em minha vida, meus colegas e os docentes foram os motivos que me fizeram optar por ser professor”, afirmou.

Samir Rasslan, professor titular sênior do Departamento de Cirurgia da FMUSP, relembrou das dúvidas com que saem os jovens médicos da graduação. “Com certeza, a faculdade é uma fase das mais espetaculares de nossa vida. Mas a deixamos com muitas perguntas: Estou apto a exercer minha atividade? O que devo fazer? Quais as minhas opções? Qual será meu futuro? Entre diversas outras.” Ele também mostrou algumas opções válidas e o que considera o caminho natural para os médicos: seguir com uma pós-graduação lato sensu, que é a residência médica para, a partir daí, pensar em uma stricto sensu, que é o caminho para os indivíduos que têm pretensões acadêmicas.

 

Dificuldades

Antonio José Gonçalves, 1º secretário da APM e professor titular livre docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, apresentou um pouco do panorama e da história da instituição onde leciona e falou sobre os problemas que hoje são encontrados no setor acadêmico.

“Temos vagas para professores, mas são necessários os de qualidade. E isso não se faz em poucos anos. Antes de ser um bom professor, é necessário ser um bom médico. São seis anos de faculdade, mais os de residência, mestrado, doutorado e aí você tem o grau para se credenciar a lecionar. É difícil com esse aumento desenfreado de escolas, que cobram até R$ 13 mil por mês, pensar nessa educação. Infelizmente, virou um grande negócio. Há escolas que oferecem 900 vagas anuais na graduação. De qualquer forma, a satisfação de ser um professor, ir aos Congressos e se unir com pares, alunos etc. é extremamente significante”, ponderou.

É difícil fazer essa escolha, segundo Rasslan, também pelo fato de muitos médicos serem formados por instituições sem produção intelectual. O professor mostrou dados que indicavam que graduandos que fizeram iniciação científica tornaram-se estudantes mais versáteis e imaginativos que os demais. Em sua avaliação, isso faz muita diferença. “A carreira acadêmica, porém, enfrenta outros grandes problemas: o interesse é baixo, a remuneração é pouca e faltam bons mentores. Quem tem um compromisso familiar precoce, por exemplo, se sente impedido de seguir na Academia”, relatou.

Dario Birolini também falou sobre a questão de os jovens ficarem reféns de materiais ruins e, por vezes, mentirosos na internet. “Uma das necessidades fundamentais é colocar na cabeça dos médicos mais novos a necessidade de ser feita uma avaliação crítica das informações disponíveis. Há muita desinformação transmitida com motivações econômicas por trás, afetando muitos pacientes”, finalizou.

Por: Guilherme Almeida
Fotos: Osmar Bustos