"Estou consideravelmente mais preocupado do que estava há uma semana", diz o cientista Neil Ferguson, especialista em surtos de doenças, em entrevista à BBC.
A pesquisa foi conduzida pelo MRC Center for Global Infectious Disease Analysis na universidade Imperial College London (Reino Unido), que assessora órgãos como o governo britânico e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Cingapura e Hong Kong estão examinando passageiros aéreos de Wuhan, e autoridades americanas anunciaram medidas semelhantes a partir de sexta-feira em três grandes aeroportos do país: San Francisco, Los Angeles e Nova York.
Como os números foram calculados?
A pista crucial para a escala do problema está nos casos detectados em outros países.
Enquanto o surto está centrado na cidade chinesa central de Wuhan, houve dois casos na Tailândia e um no Japão.
"Isso me preocupou", diz Ferguson.
Ele acrescenta: "Para Wuhan exportar três casos para outros países, isso quer dizer que deve haver muito mais casos do que os relatados".
É impossível determinar o número exato, mas a análise de surtos, baseado no vírus, na população local e nos dados de voo, pode dar uma idéia.
O Aeroporto Internacional de Wuhan atende a uma população de 19 milhões de pessoas, mas apenas 3.400 por dia fazem voos internacionais.
Os cálculos detalhados, publicados on-line antes da publicação em uma revista científica, chegaram a 1.700 casos.
O que tudo isso significa?
Ferguson diz que é "muito cedo para ser alarmista". No entanto, o cientista mostrou-se "substancialmente mais preocupado" do que há uma semana.
As autoridades chinesas afirmam que não houve casos do vírus se espalhar de uma pessoa para outra.
Em vez disso, alegam que o vírus atravessou a barreira das espécies e vem de animais infectados em um mercado de frutos do mar e animais selvagens em Wuhan.
"As pessoas devem considerar a possibilidade de transmissão substancial de humano para humano mais seriamente do que até agora", diz Ferguson.
"Seria improvável em minha mente, dado o que sabemos sobre os coronavírus, que a exposição animal seja a principal causa de um número tão grande de infecções humanas".
Compreender como um novo vírus está se espalhando é parte crucial na avaliação de sua ameaça.
O escritório da OMS na China disse que a análise foi útil e ajudaria as autoridades a planejar a resposta ao surto.
"Ainda há muito a ser entendido sobre o novo coronavírus", afirma. "Não sabemos o suficiente para tirar conclusões definitivas sobre como ele é transmitido, as características clínicas da doença, a extensão em que ele se espalhou, ou sua fonte, que permanece desconhecida".
O que é esse vírus?
Amostras virais foram coletadas de pacientes e analisadas em laboratório.
E autoridades da China e da Organização Mundial da Saúde concluíram que a infecção é um coronavírus.
Os coronavírus são uma ampla família de vírus, mas apenas seis (o novo seria o sétimo) são conhecidos por infectar pessoas.
Geralmente, causam o resfriado comum, mas a síndrome respiratória aguda grave (Sars) é um coronavírus que matou 774 das 8.098 pessoas infectadas em um surto iniciado na China em 2002.
A análise do código genético do novo vírus mostra que ele está mais estreitamente relacionado ao Sars do que qualquer outro coronavírus humano.
O vírus causou pneumonia em alguns pacientes e foi fatal em dois deles.
O que dizem outros especialistas?
Jeremy Farrar, diretor da instituição de pesquisa médica Wellcome, diz: "Há mais por vir desta epidemia.
"Incerteza e lacunas permanecem, mas é claro que há algum nível de transmissão de pessoa para pessoa", acrescenta.
"Estamos começando a ouvir mais casos na China e em outros países e é provável, como mostra essa análise, que haverá muito mais casos em vários países".
Jonathan Ball, professor de Virologia Molecular da Universidade de Nottingham, ressalva: "Até que haja testes laboratoriais em larga escala, é muito difícil determinar um número de casos existentes".
"Mas esse é um número que devemos levar a sério até que saibamos o contrário", conclui.