O QUE DIZ A MÍDIA
28/04/2020 - O envelhecimento do sistema imunológico e sua relação com a Covid-19
G1
O nome é complicado, imunossenescência, e traduz mais um aspecto do envelhecimento: o sistema imune vai se alterando com o passar dos anos e se tornando menos eficaz no combate aos “invasores”, como vírus e bactérias. Para conhecer o assunto, conversei com o doutor Moisés Evandro Bauer, professor titular de imunologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUC-RS, onde também coordena o Laboratório de Imunobiologia. Ele tem doutorado em neuroimunologia pela University of Bristol e pós-doutoramento em imunologia celular pela Université Paris V, além de ser o organizador do livro “Imunossenescência: envelhecimento do sistema imune”, lançado em 2019.
O envelhecimento envolve mudanças celulares e moleculares, afetando também nosso sistema imunológico. Quais são as características desse quadro, conhecido como imunossenescência?
A imunossenescência é o envelhecimento do sistema imune e esse processo é acelerado depois da puberdade. É quando o timo, uma glândula que fica no centro do peito, entre os pulmões e na frente do coração, começa a retroceder, a se atrofiar. É no timo que, até a adolescência, se dá a produção máxima de linfócitos T, as células que comandam nossas defesas quando o organismo é atacado por algum agente invasor.
Se a produção de linfócitos T cai, como o organismo consegue se proteger na vida adulta?
Apesar de o timo ir deixando de produzir linfócitos novos, nosso organismo mantém as chamadas células T de memória. A célula T virgem é a que acabou de ser produzida e ainda não teve contato com uma infecção ou vacina, ou seja, não encontrou um antígeno. Já as células T de memória são as que tiveram essa experiência e logo dão uma resposta imune diante de um vírus ou bactéria. Algumas permanecem a vida toda conosco.
São essas células “sobreviventes” as responsáveis pela nossa imunidade?
Sim, são as células T de memória que vão acionar o sistema imune diante de uma nova agressão. Num processo inflamatório, criam-se ínguas, que são intumescimentos dos gânglios, com grande produção de linfócitos para combater o invasor, e 95% morrem depois do combate. No entanto, a partir dos 65 anos, e no período da década seguinte, essas células se tornam menos eficazes para barrar vírus e bactérias. Dizemos que elas perdem o repertório, isto é, a capacidade de reconhecimento. Outra questão importante é o aumento progressivo da inflamação sistêmica no envelhecimento. Essa é uma das razões que explica por que, ao envelhecer, somos mais suscetíveis a doenças cardiovasculares e inflamatórias, como artrite e artrose, diabetes, câncer.
O mesmo se aplica ao novo coronavírus?
Sim, especialmente no caso de o idoso apresentar uma ou mais doenças crônicas, as multimorbidades. A Covid-19 provoca um quadro inflamatório, que pode ser descrito como uma explosão viral, que toma o pulmão. Depois dos 65 anos, a resposta imune será fraca e estará aquém das necessidades para fazer frente ao vírus.
O que podemos fazer para diminuir o impacto da imunossuficiência?
Ter um estilo de vida saudável faz toda a diferença para aumentar a resistência do organismo, o que inclui exercícios aeróbicos regulares, manter uma dieta equilibrada, não fumar e beber com moderação. São hábitos que têm que ser adotados desde cedo. Sabemos que o estresse tem um forte impacto negativo na resposta imune, desencadeando um processo inflamatório, por isso técnicas de relaxamento e meditação deveriam ser incentivadas. Aqui na universidade, realizamos uma pesquisa que mostrou os efeitos benéficos da acupuntura para o sistema imunológico. Cientistas também estão trabalhando para desenvolver senolíticos, drogas que agem diretamente no envelhecimento celular, removendo as células senescentes.
Educação Médica
Valorização de Honorários
Financiamento da saúde
Carreira de Estado
Redução de impostos
Pesquisas Datafolha