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03/01/2022 - Omicron é menos grave por poupar os pulmões, apontam novos estudos

Uma série de estudos com animais de laboratório e tecidos humanos indica que a variante causa sintomas mais leves que versões anteriores do coronavírus porque sua ação se limita às vias aéreas superiores (nariz, garganta e traqueia).

Nos testes realizados com roedores, a ômicron provocou infecções menos lesivas. Verificaram-se menos danos nos pulmões do que os gerados por cepas anteriores, cuja ação ocasionava cicatrizes e dificuldade respiratória grave.

the new york times Uma série de estudos recentes feitos com animais de laboratório e tecidos humanos está oferecendo a primeira indicação de por que a variante ômicron causa sintomas mais leves que versões anteriores do coronavírus.

Em estudos com camundongos e hamsters, a ômicron provocou infecções menos lesivas e que, em muitos casos, se limitaram às vias aéreas superiores: nariz, garganta e traqueia. A variante causou menos danos aos pulmões, nos quais cepas anteriores resultavam em cicatrizes e dificuldade respiratória grave.

Em novembro, quando a primeira notícia sobre a ômicron chegou, cientistas só podiam oferecer palpites sobre como o comportamento dela talvez divergisse das variantes anteriores do vírus. Só o que sabiam é que a ômicron possuía uma combinação singular e preocupante de mais de 50 mutações genéticas.

Pesquisas anteriores já haviam mostrado que algumas dessas mutações capacitam os coronavírus a aderir melhor às células. Outras permitiam que o vírus escapasse de anticorpos, que atuam como uma primeira linha de defesa contra infecções. Mas o possível comportamento da nova variante no interior do organismo era uma incógnita.

“Não é possível prever o comportamento de um vírus apenas a partir das mutações”, explicou o virologista Ravindra Gupta, da Universidade de Cambridge.

Ao longo do último mês, mais de uma dúzia de grupos de pesquisadores vem observando o novo patógeno em laboratórios, infectando células em placas de petri com ômicron e esborrifando o vírus sobre os focinhos de animais.

Ao mesmo tempo a ômicron se espalhava pelo planeta, infectandofacilmentepessoasjá vacinadas ou que se recuperaram de infecções anteriores.

Enquanto os casos de Covid disparavam, o número de hospitalizações subiu apenas modestamente. Os estudos iniciais com pacientes sugeriram que a ômicron tendia a provocar doença menos grave que as outras variantes, especialmente em pessoas já vacinadas. Mesmo assim, essas conclusões eram acompanhadas de muitas ressalvas.

Para começar, a maioria das infecções iniciais com ômicron ocorreu entre jovens, que têm probabilidade menor de adoecer gravemente com qualquer versão do vírus. E muitos dos casos envolviam pessoas que já tinham alguma imunidade graças a infecções anteriores ou a serem vacinadas. Não estava claro se a ômicron também se mostraria menos grave com uma pessoa mais velha e não vacinada.

Experimentos com animais podem ajudar a dirimir essas ambiguidades porque os cientistas podem testar a ômicron com animais idênticos vivendo em condições idênticas. Mais de meia dúzia de experimentos noticiados nos últimos dias apontaram a mesma conclusão: a ômicron é mais branda que a delta e outras versões anteriores do vírus.

Na quarta-feira (29) um consórcio de cientistas japoneses e americanos divulgou relatório sobre hamsters e camundongos infectados com ômicron ou com uma de várias cepas anteriores. O estudo mostrou que os infectados com ômicron tiveram menos danos pulmonares, haviam perdido menos peso e tinham menos probabilidade de morrer.

Embora os animais infectados com ômicron tivessem sintomas muito mais leves, o que chamou especialmente a atenção dos cientistas foram os resultados obtidos com hamsters sírios, espécie que sabidamente adoeceu gravemente com todas as versões anteriores do coronavírus.

“Foi surpreendente, dado que todas as outras variantes infectaram esses hamsters com gravidade”, disse o virologista Michael Diamond, da Universidade Washington e um dos coautores do estudo.

Vários estudos com camundongos e hamsters chegaram à mesma conclusão. (Como a maioria das pesquisas urgentes sobre ômicron, esses estudos já estão na internet mas ainda não foram publicados em periódicos científicos.)

A razão por que a ômicron é mais branda talvez seja uma questão de anatomia. Diamond e seus colegas constataram que o nível de ômicron nos narizes dos hamsters era o mesmo que o dos animais infectados com uma forma anterior do coronavírus. Mas o níveis de ômicron presentes nos pulmões eram um décimo ou menos do que com as outras variantes.

Essas descobertas precisarão ser seguidas por estudos posteriores, como experimentos com macacos ou um exame das vias aéreas de pessoas infectadas com a ômicron. Se os resultados se mantiverem, talvez expliquem por que pessoas infectadas com a ômicron parecem ter risco menor de ser hospitalizadas que as infectadas com a delta.

As infecções por coronavírus começam no nariz ou possivelmente na boca e se propagam garganta abaixo. As infecções leves não passam muito da garganta. Mas quando o vírus chega aos pulmões, pode provocar danos graves.

As células imunológicas pulmonares podem reagir de forma exagerada, matando não apenas células infectadas mas também as não infectadas. Podem produzir inflamação aguda, marcando as paredes delicadas dos pulmões. E o vírus pode escapar dos pulmões lesionados para o fluxo sanguíneo, provocando coágulos e prejudicando outros órgãos.

Gupta especulou que a evolução da ômicron a tornou especializada nas vias aéreas superiores, propagando-se bem na garganta e no nariz. Se for fato, o vírus pode ter chances melhores de ser expelido em gotículas para o ar em volta, encontrando novos anfitriões.

“A transmissão acontece a partir das vias aéreas superiores, certo?”, ele disse. “Não tem a ver realmente com o que ocorre nos pulmões, que é onde vemos a doença grave. Assim, dá para entender por que o vírus evoluiu dessa maneira.”

Esses estudos claramente ajudam a explicar por que a ômicron causa doença mais branda, mas ainda não respondem por que é transmitida com tanta eficácia.

Fonte: Folha de S.Paulo / Carl Zimmer e Azeen Ghorayshi