O QUE DIZ A MÍDIA
18/10/2021 - País conta com drogas eficazes contra a obesidade
Inibidores de apetite proibidos esta semana depois de uma decisão do STF já tinham prescrição restrita nos consultórios. Classe mais avançada de remédios para emagrecer atua sobre o cérebro e a absorção de gordura.
Em apenas uma década, a taxa dc obesidade no Brasil dobrou, acometendo hoje nada menos que 20% da população adulta, de acordo com m dados da pesquisa Vigitel, realizada peri- odicamente pelo Ministério da Saúde. Isso significa que dois em cada dez brasileiros apresenta índice de massa corporal, o famoso IMC, a partir de 30.
Para a maior parte destas pessoas, emagrecer (e manter o peso perdido) só com mudanças comportamentais, como dieta e atividade física, é uma tarefa quase impossível.
— A probabilidade dc um paciente obeso perder 10% do peso apenas com essas alterações é muito pequena. Além disso, em até dois anos, 90% dessas pessoas recuperaram o peso inicial — explica Antonio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Meaicina da Universidade de São Paulo.
Nesses casos, o uso de medicamentos específicos é fundamental para ajudar na perda de peso de forma significativa e duradoura.
Na quinta-feira, 14, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a comercialização de três inibidores de apetite, a anfepramona. fem- proporex e mazindol. No entanto, na prática, essa decisão não impacta o tratamento de pacientes obesos. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu o uso desses anorixerígenos, em 2011, eles foram praticamente abolidos das prescrições. Isso se manteve após a liberação da venda dessas substâncias pelo Congresso, em 2017.
—Essas medicações praticamente não voltaram para o comércio habitual porque estavam sendo vendidas em pouquíssimas farmácias de manipulação —afirma a endocrinologista Maria Edna de Melo. presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabo- logia(SBEM).
Nesse período, outros medicamentos, mais eficazes e com menos efeitos colaterais, chegaram ao Brasil e passaram a ser indicados para o tratamento da obesidade.
Os principais são a lira- glutida e a semaglutida, que imitam no organismo o hormônio GLP-1, ligado à produção de insulina e à sensação de saciedade. Além disso, também estão disponíveis a sibutramina, que é o medicamento emagrecedor com registro válido mais an - tigo no Brasil, e o orlistat.
AVAL DE ESTUDOS
A liraglutida e a semaglutida são considerados os medicamentos mais modernos e eficazes para o tratamento da obesidade. Originalmente desenvolvidos para o diabetes tipo 2, seu uso como potente emagrecedor logo foi descoberto e incorporado à prática clínica. Em 2021, a liraglutida se tornou a substância mais prescrita nos consultórios particulares de endocrinologia.
Já a semaglutida teve seu papel comprovado contra a obesidade comprovado no início deste ano, quando um estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine mostrou que o medicamento conseguiu reduzir em 15% o peso de pessoas com obesidade e evitar muitas de suas piores consequências, incluindo o diabetes. Além disso, mais de um terço dos participantes que recebeu a droga perdeu mais de 20% do peso, taxa só vista de um a trés anos após a cirurgia bariát rica.
Apesar da polêmica sobre possíveis efeitos colaterais, em especial ao sistema car- diovascular, associados ao seu uso, a sibutramina, continua sendo para o tratamento da obesidade. A medicação age diretamente no cérebro, na noradrenalina e serotonina, neurotransmis- sores que participam de funções como humor e sono, além do apetite. Já o or- listate age diretamente no intestino, inibindo de forma parcial a atividade de enzimas responsáveis pela digestão das gorduras. Essa ação localizada faz com que sua eficácia seja mais baixa.
É importante lembrar que os tratamentos devem ser sempre indicados por um médico, que irá avaliar a melhoropção paraopacien- te, considerando riscos e benefícios. Asibutramina, por exemplo, não é indicada para pessoas com problemas cardiovasculares e idosos. A liraglutida e a semaglutida são especialmente vantajosas para pessoas com obesidade e diabe tes t i po 2, j á que atua nas duas doenças.
Fonte: O Globo