ARTIGOS

25/02/2021 - Palavra do Presidente - Conhecimento e ignorância

“Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” – frase criada pela escritora inglesa Evelyn Beatrice Hall (sob o pseudônimo de Stephen G. Tallentyre), biógrafa de Voltaire, para resumir o pensamento do filósofo e simbolizar o direito de livre expressão.

 A pandemia nos criou uma situação na qual tudo é novo. O vírus é novo, o comportamento do indivíduo e do coletivo é novo e as adversidades nos fizeram ver dificuldades latentes e insuficiências que pareciam menores. Também nos exige continuamente rever opiniões e mudar posições, sejam de cunho técnico-profissional ou de caráter ético. A pandemia expõe a nossa imensa ignorância, desafia a Ciência e a resposta a este desafio surpreende. Não porque aprendemos ou progredimos pouco, mas sim porque, à medida em que começamos a nos debruçar sobre as atuais soluções, constatamos que o desconhecido se alargou ainda mais do que nos parecia no início.

No começo do combate à Covid-19, imaginava que minha ignorância fosse do tamanho de uma sala e meu conhecimento do tamanho de um grão de arroz. Agora, o tamanho do meu conhecimento é o de uma sala, pois progredi muito, mas também descobri que a minha ignorância é do tamanho de uma cidade. Conforme progredimos, enxergamos mais além.

A pandemia ainda tem nos obrigado a testar nossa resiliência e capacidade de adaptação, pondo à prova a disposição de conviver bem com a pluralidade de pensamentos e atitudes. Precisamos procurar crescer com as adversidades e balancear os direitos individual e coletivo, sobretudo quando um deles pode prevalecer sobre o outro.

O médico, há muito tempo, não é mais um juiz, que entre vários tratamentos decide aplicar este ou evitar outro. O médico é apenas um conselheiro que tende a apoiar seu paciente na tomada de decisão.

Isto nos exige um cuidado muitíssimo maior, porque estamos direcionando tratamentos e, por vezes, mudando a maneira de ver de alguém. Investimos em nossos pacientes o conhecimento médico, e este conhecimento, se incompleto, pode ser uma catástrofe.

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina