O QUE DIZ A MÍDIA
26/11/2019 - Por que a oncologia é um braço da geriatria
G1
Quando se trata de câncer, a idade é um fator de risco não modificável: traduzindo em números, acima dos 65 anos, a chance de ser diagnosticado com a doença aumenta 11 vezes. Em palestra proferida no VII Congresso Internacional de Oncologia Rede D'Or, realizado semana passada no Rio de Janeiro, o geriatra José Elias Soares Pinheiro, ex-presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), enfantizou que, de todos os casos de câncer no mundo, 70% ocorrem em pessoas idosas. "Entre 60 e 79 anos, um em cada quatro homens vai desenvolver uma doença neoplásica. Entre as mulheres, uma em cada três, o que reforça a necessidade urgente de mudanças nas políticas públicas voltadas para a prevenção e o diagnóstico precoce, já que mais de 70% dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde", afirmou.
Apenas lembrando que, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 30 milhões de idosos, isto é, gente com mais de 60 anos. Acima dos 80, são 4 milhões - e há quase 30 mil centenários! No entanto, apesar da prevalência do câncer entre os mais velhos, eles não são o foco nas especialidades que compõem a oncologia. Daí a importância do artigo "Todos os oncologistas são oncologistas geriátricos... Eles apenas ainda não sabem disso" ("All oncologists are geriatric oncologists... They just don't know it yet"), do médico Stuart Lichtman, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center.
O oncologista Luiz Gustavo Torrer, membro da American Society for Clinical Oncology, ressaltou que, no caso do idoso, as variáveis se relacionam a seu estado de fragilidade e tolerância ao tratamento. "A população mais velha está surepresentada nos estudos clínicos, por isso o médico tem que levar em conta o risco de toxicidade da medicação", disse. Como um número muito pequeno de idosos participa de testes clínicos, cria-se um círculo vicioso: os médicos não dispõesm de informações seguras sobre o efeito das drogas nas faixas etárias avançadas.
O doutros Torres ilustrou sua argumentação com a história de "dona Lucia", de 78 anos, com cãncer de cólon em estágio III. "Ela me fez perguntas da maior relevância: ficarei curada com a quimioterapia? Há chande de ficar curada sem quimio? O tratamento pode comprometer a minha independência? Todas essas questões pesaram na escolha do melhor tratamento", contou. Acrescentou que ainda é raro que oncologistas discutam os prognósticos com seus pacientes, que têm o direito de conduzir a própria vida. Afinal, se para os profissionais de saúde a enfermidade está atrelada a protocolos e intervenções, para o doente esta é uma experiência pessoal, sujo significado está ligado à sua biografia - e a idade tem um peso enorme na hora da tomada de decisões.