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24/09/2019 - Primeiro transplante de pulmão intervivos fora dos Estados Unidos completa 20 anos
G1
O primeiro transplante de pulmão com doador vivo realizado fora dos Estados Unidos completou 20 anos no último dia 17. A cirurgia, feita na Santa Casa de Porto Alegre, foi um sucesso.
O curitibano Henrique Busnardo, o paciente, é hoje um advogado de 32 anos, que vive sem sequelas. O hospital realizou uma cerimônia nesta segunda-feira (23), para comemorar a data.
"Esses 20 anos passaram assim, de forma emocionante, para mim. Eu não consigo explicar a gratidão que sinto pela equipe do doutor Camargo e da Santa Casa de Misericórdia", afirma Henrique.
Ele sofria desde 1995 de bronquiolite obliterante. A doença obstrui os bronquíolos e dificulta a expiração. Seus pulmões funcionavam com apenas 12% da capacidade. Henrique não suportava deitar. Dormiu agachado durante dois anos, usando oxigênio de forma contínua.
Ele deu entrada no hospital em 17 de setembro de 1999 em estado preocupante, respirando por aparelhos. Só um transplante salvaria sua vida.
Sem tempo para encontrar um doador, a saída foi fazer o transplante de pulmão intervivos, ou seja, com o doador também vivo, algo que só havia sido feito nos Estados Unidos. Os doadores foram o pai e a mãe de Henrique.
O médico José de Jesus Camargo havia estudado essa técnica e decidiu que era hora de colocar em prática. Uma equipe de 20 profissionais foi formada para realizar a operação.
"É um gesto máximo de generosidade, dar um pedaço de si para que seu filho tivesse uma última chance de voltar à vida normal. Porque eles sabiam que o fim do Henrique estaria muito próximo", comenta Camargo.
O pai de Henrique não é mais vivo. Mas, para Márcia, a mãe do então adolescente, os momentos de angústia antes da cirurgia, que demoraria cinco horas para ser concluída, nunca foram esquecidos.
"Três pessoas, ao mesmo tempo, em um centro cirúrgico, sendo operadas... Isso mexeu muito com todos nós, inclusive com a equipe médica. Mas nós confiamos na competência dos profissionais da Santa Casa e entregamos nossa vida a eles e a Deus", relata a mulher.
"Eu sei que tenho um companheiro que tá la em cima, que me ajudou a superar os problemas emocionais que eu tive durante esse período. A gente se sentiu muito acolhido no Rio Grande do Sul e eu estou muito feliz. É muito significativa a vida que levo hoje", diz Henrique.
Desde 1999 foram realizados 40 transplantes desse tipo, dos quais 37 em crianças ou adolescentes. Cinco desses pacientes eram estrangeiros, uma condição em que o transplante intervivos é o único possível, por conta de uma portaria que não permite a doação de órgãos de brasileiros para receptores estrangeiros.