O QUE DIZ A MÍDIA
28/05/2019 - Procura por gastroplastia sem corte cresce na França com aumento da obesidade
G1
São meio-dia e meia em Paris e na clínica do Trocadero, no 16° distrito, um dos bairros mais caros da capital, Anick, 39 anos, se prepara para uma gastroplastia vertical endoscópica. Ela recebeu a reportagem da RFI Brasil em seu quarto, ao lado do marido, poucos minutos antes da intervenção. Sua ansiedade é palpável, mas Anick está convicta de sua decisão.
Mãe de três filhos, a francesa ganhou 20 quilos depois dos partos e espera recuperar sua silhueta de antes. A decisão foi tomada depois de uma consulta com a gastroenterologista francesa Vianna Costil, especialista no procedimento. Anick se preparou dois meses e meio, fez exames, consultou uma nutricionista e uma psicóloga. Ela sabe que, depois da operação, terá que cuidar de sua alimentação e mudar de vida.
“De todo jeito, não tenho escolha. Vou ter que fazer esse regime e me adaptar. Não me suporto mais. Sei que não sou muito gorda, mas como sempre fui magra, tenho problemas para me aceitar hoje do jeito que sou depois de ter tido meus três filhos”, conta.
A gastroplastia endoscópica, ou "endoscopic sleeve", em inglês, é indicada para pessoas que, como Anick, estão bastante acima do peso mas não são consideradas obesas mórbidas – o IMC (índice de massa corporal) deve variar entre 30 e 40.
No procedimento, que dura cerca de uma hora, o gastroenterologista costura o estômago com a ajuda de um dispositivo, chamado OverStitch, acoplado na ponta do endoscópio. Esse equipamento possui uma agulha e fios e permite ao cirurgião reduzir o tamanho do órgão sem cortes, criando pontos e os suturando em seguida. O objetivo é formar uma “bolsa” e diminuir a saciedade.
Depois da intervenção, o paciente fica hospitalizado em média três dias, com uma alimentação liquida para não romper a sutura. Em casa, os hábitos alimentares devem ser revistos para adaptar o organismo à nova anatomia do órgão.
“Em geral, os pacientes com a indicação para a cirurgia fizeram muito regime, muito esforço, mas sofrem com frequência do chamado efeito ioiô: perdem 10 quilos, depois ganham 15, chegando progressivamente à obesidade, o que dificulta a instauração de uma dieta eficaz a longo prazo”, explica a gastroenterologista Vianna Costil.
A médica ressalta, entretanto, que, para que o procedimento seja eficaz, o paciente necessita de um acompanhamento posterior. “Depois de perder peso, é preciso rever o modo de vida para não engordar novamente. Isso significa ter uma boa nutrição e uma atividade física regular, modificar seu comportamento alimentar e, se houver problemas psicológicos, trabalhar si mesmo”, diz.
Ela salienta que esse trabalho envolve as emoções em torno da comida: comer demais por nervosismo, ansiedade ou frustração, por exemplo. Em geral, há uma perda de cerca de 17% da massa corporal em seis meses, mas os quilos podem voltar em torno de dois anos se o paciente não mantém uma vida saudável.
Na França, população engorda
A França, conhecida por ser um país de pessoas magras, registrou, entre 1997 e 2006, um aumento relevante dos casos de obesidade. Na última década, houve uma estagnação, de acordo com o relatório Esteban, um grande estudo nacional sobre a saúde da população realizado a cada dez anos e considerado como uma referência, mas os números continuam elevados.