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23/03/2021 - Profissão médica para a mulher é tema de webinar de São Bernardo do Campo
Na última quinta-feira (18), em comemoração ao mês da mulher, a Associação Paulista de Medicina – São Bernardo do Campo e Diadema realizou o webinar “Desafios, conquistas e obstáculos da profissão médica para a mulher”, com a participação de médicas, residentes e estudantes de Medicina.
A presidente da Regional, Thereza Christina M. Godoy, foi a mediadora do evento e, antes de iniciar o debate, trouxe alguns feitos importantes realizados por mulheres médicas em ambientes muitas vezes dominados por homens, tanto no passado quanto em dias atuais.
“A primeira mulher médica, Rita lobato Velho Lopes, se graduou em 1887 e agora em 2020 duas mulheres também sequenciaram o genoma do novo coronavírus, 48 horas após a confirmação do primeiro caso no Brasil. Essas mulheres, consideradas pioneiras, venceram barreiras políticas e sociais para se graduar e prestaram atendimento médico em uma época com predomínio absoluto dos homens, foram modelos e inspirações para que as mulheres médicas pudessem atingir esse estágio atual e conquistar respeito e reconhecimento”, destaca.
A especialista também ressalta que, em 8 de março, foi aberto um canal na Associação Médica Brasileira (AMB) de denúncias para a mulher médica, mais uma ponte de ajuda para a profissional fazer sua denúncia, observação e sugestão para a profissão.
Debate
Com 46 anos de formada, a endocrinologista Sylvia Ghiotto deu iniciou ao debate contando um pouco de sua história e experiências vividas durante a sua jornada com a profissão. A especialista afirma que se tivesse a chance de escolher novamente uma profissão, apesar das fases difíceis como mulher que são necessárias atravessar, sem dúvidas escolheria novamente a Medicina.
“Existe aquela fase em que deve-se optar entre casar e ter família ou casar somente com a profissão, e em certo momento você precisa tomar uma decisão, acredito que o bom senso sempre nos faz optar com calma, levando em consideração o que realmente será a melhor opção para nós”, conta.
Quando perguntada sobre a remuneração médica, a endocrinologista diz que a escolha da especialidade é algo muito importante e deve ser pensado com atenção. “Em muitas especialidades, a mulher ganha menos que o homem e, se ela tem marido e filhos, acaba tendo menos tempo de dedicação à família, principalmente na cidade de São Paulo, onde tudo é muito corrido. Minha opinião é que eu não preciso ganhar rios de dinheiro, preciso viver dignamente, mas acredito que existem áreas que facilitam a vida da mulher, em questão de carga horária e remuneração”, responde.
Representando a médica com tempo mediano de carreira, a oftalmologista Sandra Naufal contou sobre os desafios não só de ser mulher na Medicina, mas também sobre os obstáculos de atender em consultório durante a pandemia da Covid-19. “Assim que me formei, fui estudar nos Estados Unidos e, quando voltei, meus amigos que não eram médicos já estavam casados, com filhos, carros, apartamentos e eu não tinha nada. Depois de um tempo, você começa a ter algumas conquistas e tirar um pouco o pé do acelerador. Foi o que aconteceu comigo, casei e tive filhos mais tarde”, conta.
“Eu gosto muito do que faço, o difícil é conciliar a parte profissional com a pessoal, quem gosta mesmo de Medicina sempre está estudando, buscando atualizações e cursos, e isso demanda tempo. Às vezes usamos nosso tempo de lazer para os estudos e a família precisa ser compreensiva nesse sentido, e precisamos saber conciliar. Acredito que a grande vantagem da mulher é ter a capacidade de equilibrar todos os pratos”, completa.
Formada em 2011, a médica do trabalho Carla Tatiana representou a médica jovem, e explica que a escolha da Medicina do Trabalho foi muito boa, pela qualidade de vida que a proporciona. “Logo que me formei eu engravidei, e a Medicina do Trabalho caiu como uma luva pra mim. O horário é das 8h às 17h, com o final de semana livre, vínculo empregatício CLT, 13º salário, o que a maioria dos médicos não tem”, destaca.
“Já tive alguns incidentes por ser mulher médica. Estava em um plantão em pronto-socorro, neguei o atestado médico e a pessoa simplesmente virou e mesa em cima de mim. Em situações de perícia médica com guardas civis municipais, quando entram na sala já colocam a arma na mesa justamente para intimidar, coisa que com médicos homens não acontece. Ser mulher é difícil, ser mulher e médica é mais difícil ainda”, completa.
Novas Gerações
Hoje, a feminilização da Medicina é um fato, mas apesar disso, os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas reconhecidas, sendo que em 16 especialidades são mais de 70%, em outras 10 são mais de 80% e na Urologia, 97%.
Residente na UNICAMP, Raísa do Val Roso falou sobre suas experiências e a nova geração de mulheres na Medicina. “Na minha turma de faculdade, mais de 50% dos alunos eram meninas, e acredito que isso seja uma tendência geral. Entre os meus chefes, que admiro muito, a maioria também é mulher, então são vistos cada vez mais espaços para as profissionais, que são extremamente competentes e grandes exemplos”, destaca.
A irmã de Raísa, Ryana do Val Roso, é aspirante a tenente da aeronáutica. Também se formou em Medicina pela UNICAMP, se interessou pela área de cirurgia e trauma e explica que, apesar de ter grandes exemplos de cirurgiãs mulheres, ainda é uma área dominada pelos homens.
Como cirurgia demanda muito tempo e responsabilidade, Ryana conta que pensou em escolher outras especializações por querer construir uma família no futuro, mas acabou optando pela área cirúrgica. Passou para as forças armadas e entrou para a aeronáutica, para aprender disciplina e crescimento pessoal. “Durante os primeiros meses, aprendemos a ser militar, somente depois de me formar como militar poderei atender em hospitais e outras diversas áreas. Minha turma tem 15 pessoas e 13 são mulheres, e a cada ano estão entrando mais mulheres para as forças armadas, o que gera uma força feminina para tais instâncias”, conta.
As acadêmicas do 4° ano da Faculdade de Medicina do ABC Heloisa Marconi e Rafaela Costa também contaram sobre experiências e o porquê da escolha da profissão médica. “Escolhi a Medicina porque tive mulheres médicas para me espelhar, não dentro da família, mas de pessoas que entraram na minha vida por acaso, e se cheguei aonde estou foi por apoio de grandes mulheres. Na minha turma, 70% são mulheres, mas os professores e preceptores são homens. Apesar disso, é muito interessante o quanto nós já caminhamos e estamos caminhando nesta luta”, ressalta Heloisa.
“É enriquecedor ver tantas mulheres e poder me espelhar. A Medicina é isso, precisamos ter essa troca para podermos crescer, as mulheres que encontramos no meio no caminho fazem toda a diferença, são pessoas que têm uma história muito rica e que devemos nos basear”, conta Rafaela.
Ao final do evento, as convidadas responderam algumas perguntas feitas pelo participantes relacionadas a diabetes, atendimento durante a pandemia e opinião sobre Medicina do Trabalho no Brasil, que foram enviadas pelo chat do YouTube.
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