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15/03/2017 - Profissionais de Saúde veem aumento de violência e agressões

Sondagem realizada entre janeiro e fevereiro deste ano – com a participação de médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de Enfermagem – revelou que quase 60% dos profissionais de Saúde sofreram algum tipo de violência no ambiente de trabalho mais de uma vez. Dos 5.658 participantes, cerca de 20% sofreram alguma violência ao menos uma vez. Dos casos relatados, 60% aconteceram em serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os dados foram colhidos pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e integram a 2ª edição da campanha “Violência Não Resolve”. Além da apresentação dos resultados consolidados, os conselhos realizaram na última quarta-feira (15) uma manifestação pública pela paz, com camisetas, bexigas e flores brancas e cartazes com o seguinte slogan: “A fila não anda mais rápido se você perde a paciência. Respeite o médico e o profissional de Enfermagem”.

A pesquisa também mostra que 42,5% da violência contra os médicos são cometidas por familiares ou acompanhantes de pacientes e 38,9% pelos próprios pacientes, frequentemente durante o atendimento. A violência verbal é mais comum, representando 50% dos casos, mas 12% relataram ter sido agredidos fisicamente.

De acordo com o Cremesp, a violência é um fenômeno crescente e é fundamental que se discuta, também, medidas de acolhimento para os casos de agressões sofridas em ambiente de trabalho. A situação da violência se agrava porque a grande maioria dos profissionais não denuncia o fato, por não acreditar que o mesmo seja levado adiante pelas autoridades e porque não há políticas de proteção às vítimas.

Fabíola de Campos Braga Mattozinho, presidente do Coren-SP, enxerga a subnotificação como um grande problema na Enfermagem. “Somos 82% de mulheres na categoria, 420 mil só no estado de São Paulo. Percebemos um quantitativo maior de violência e entendemos que a cultura de subnotificação é nociva. Incentivamos as enfermeiras a terem voz, a não se sentirem ameaçadas tanto no contexto do emprego quanto no de vulnerabilidade da mulher”, afirma.

Fabíola diz, inclusive, que o Coren-SP tenta reverter essa situação, fazendo com que essas profissionais se sintam acolhidas e que em situações de queixas e denúncias sejam tratadas adequadamente. “Além disso, trabalhamos no contexto da questão dos pacientes e acompanhantes, mas também temos que atuar no relacionamento interprofissional. Se o ambiente de trabalho não for sadio, qualquer forma de violência piora”, completa.

Os conselhos ainda complementam: Na medida em que a violência está em todo o País, por que não estaria nos hospitais? Por vezes o profissional de Saúde personifica um descaso institucional. Isso repercute na consulta. O paciente já chega aborrecido pelo longo tempo de espera para marcar e para ser atendido, pelo transporte até a unidade de saúde, por não ter onde deixar os filhos. Isso faz, então, com que esses problemas sistêmicos e sociais adentrem o recinto da relação médico-paciente.

Além disso, os próprios profissionais carregam consigo ressentimentos com a vida institucional e pública do Brasil, causando ruídos na interação. Todos devem olhar para si, procurando mecanismos de se posicionar perante as pessoas de forma mais tolerante, em uma cultura de paz. O poder dos médicos é legitimado pela eficácia do cuidar e o do paciente é o de poder ser ouvido e se dispor a confiar nos profissionais. Essa conjugação de poderes legítimos e legitimados é que pode resolver a situação.

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