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30/04/2021 - Ribeirão Preto: Diretor Cultural da APM explana sobre Arte e Loucura
A loucura é fonte inspiradora da arte? Para responder a esta pergunta, o diretor Cultural da Associação Paulista de Medicina, Guido Arturo Palomba, a convite da diretoria do Centro Médico de Ribeirão Preto – Regional APM, palestrou sobre “Arte e Loucura”, em encontro virtual, realizado no dia 29 de abril.
Na ocasião, Palomba conceituou brevemente a arte como expressão de valores de uma determinada época, com suas manifestações rupestre, grega, renascentista e contemporânea, considerando a visão dos pensadores da Idade Antiga aos dias atuais.
“Da Idade Antiga até o final da Idade Moderna, o belo aristotélico predomina, caracterizado de acordo com a harmonia entre a forma, o conteúdo, ordem e proporções. A melhor expressão é sem dúvida nenhuma o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, a expressão máximo da ordem e das proporções”, explica.
Antes de Nicolau Copérnico, astrônomo e matemático polonês que desenvolveu a teoria heliocêntrica do Sistema Solar, o homem era o centro da terra. Com a concepção do sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente Teoria Geocêntrica, “o homem e a terra passaram a ser dois grãos de areia em uma praia totalmente desconhecida”, complementa o diretor da APM.
Passando por Cristóvão Colombo, navegador e explorador italiano e responsável pela frota que alcançou o continente americano, pela prensa móvel de Johannes Gutenberg e, mais tarde, pela Revolução Francesa, que marca a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea, tem-se a figura de Philippe Pinel.
Pinel foi notabilizado historicamente por ser o primeiro médico a transcrever os distúrbios mentais, tais como demência, indecisão crônica e esquizofrenia.
“Os alienados mentais até então viviam acorrentados nos muros das prisões. Eram não só acorrentados como internados junto com prostitutas, doentes venéreos e criminosos comuns. A loucura não era considerada um tratamento médico. Foi Pinel, lá na França, quem cortou os grilhões desses alienados mentais acorrentados. Poucas décadas depois dele, os artistas também arrebentaram as correntes, os grilhões das formas e dos tamanhos e das proporções do belo aristotélico, com o surgimento de diversos movimentos artísticos, como o Impressionismo, Cubismo e Surrealismo”, correlaciona Palomba.
Na visão de Immanuel Kant, filósofo prussiano, explica o diretor cultural da APM, o belo é o que satisfaz a imaginação, sem entrar em desacordo com as leis do entendimento. “Ou seja, o belo é o que agrada esse conceito, cada um tem o seu.”
A arte, uma expressão de um determinado tempo, diferencia-se da ciência, considerada como objetiva e universal. “O artista capta a natureza para reformá-la, seguindo suas próprias concepções. A ciência precisa ser constatada. A arte inventa, produz e cria o que realmente não é. Os resultados da ciência são formulados, podem ser transmitidos e acumulados, nascem em um dia e permanecem depois do desaparecimento de seu criador, ao passo que a arte não progride senão do indivíduo”, compara.
Afinal, a loucura é fonte inspiradora da arte?
“Antes de responder, o pintor e gravador espanhol Francisco de Goya, o pintor pós-impressionista holandês Vincent Van Gogh e o escritor brasileiro Machado de Assis eram epiléticos. Caravaggio, pintor italiano, tinha psicose e epilepsia. São exemplos de grandes gênios artistas e com distúrbios”, destaca Palomba.
Os gênios consagrados e imortais deixaram obras extraordinárias para a humanidade e padeciam de graves transtornos mentais, como se explica essa aparente contradição?
“Nenhum deles, em verdadeiro estado de ruptura mental com a realidade, produziu algo que tenha ficado para a história. No momento de descontrole, estiveram encolhidos, ensimesmados em suas doenças ou individualidades mórbidas, sem criar nada. Agora, na saída do estado delirante, alucinatório, do surto, fora dos períodos agudos, eles criaram. A doença não lhes acrescentou nada, somente tolheu o que tinham de melhor: a genialidade estética”, responde o psiquiatra forense.
O evento foi moderado pelo presidente da Regional, Fábio José Gonçalves da Luz, e pela diretora cultural adjunta da APM Estadual e da APM Ribeirão Preto, Cleusa Cascaes Dias. “A arte, doutor, nos resgata neste tempo de pandemia, nos eleva, nos ensina. Então, é muito importante que tenhamos essas oportunidades para fugir um pouco dos nossos problemas diários e entrar em outro universo”, conclui Dias.
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