SAÚDE E SOCIEDADE

28/06/2021 - Saúde na imprensa 28/06/2021

Após lucro de 50% na pandemia, planos de saúde coletivos sobem 16%

Usuários de planos de saúde coletivos por adesão começaram a receber seus boletos com reajuste anual em torno de 16%, informou a Folha de S.Paulo neste domingo (27). Muitos são clientes da Qualicorp, uma das principais administradoras de benefícios no país e que tem como parceiras 102 operadoras de saúde, e já buscam escritórios de advocacia e associações de defesa do consumidor para questionar o aumento na Justiça. Além de ser o dobro da inflação do período (o acumulado em 12 meses é de 8,06%, segundo o IBGE), a cobrança deste ano ocorre em um momento em que se espera um reajuste dos planos individuais próximo a zero, ou até negativo, devido à queda nos custos do setor em 2020, provocada pela redução de cirurgias, consultas, exames e outros procedimentos eletivos durante a pandemia. O índice de aumento dos planos individuais, que representam cerca de 20% do total de usuários de planos de saúde, é calculado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O valor deste ano ainda não foi divulgado. Já os planos coletivos (empresariais e por adesão), que somam 80% dos usuários, não são regulados pela agência. A negociação é direta entre operadoras, empresas e entidades de classe. O reajuste leva em conta critérios contratuais, além do índice de sinistralidade e de variação do custo médico hospitalar. O reajuste cobrado pela Qualicorp para a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, por exemplo, é de 15,9%. Outras entidades de classe tiveram aumentos semelhantes e seus usuários já buscam advogados para questioná-los judicialmente. Em nota, a Qualicorp diz que o reajuste anual é definido pela operadora de planos de saúde. “Na função de administradora de benefícios, a empresa busca negociar a aplicação do menor índice de reajuste possível”, diz. E acrescenta. “Além disso, oferece diversas alternativas de planos de saúde em mais de cem operadoras para que seus clientes possam manter o acesso à assistência médica privada de qualidade.” Todos os anos, o aumento dos planos coletivos gera embate por ser bem acima dos planos individuais. Em 2020, por exemplo, foi de 11,28%, mais de três pontos percentuais acima do aplicado aos individuais pela ANS, segundo pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). Neste ano, os debates estão ainda mais inflamados porque o setor goza de uma boa saúde financeira, com a queda de consultas, cirurgias e outros procedimentos eletivos, durante a pandemia. O lucro líquido dos planos de saúde cresceu 49,5% em 2020, com uma receita de R$ 217 bilhões, segundo dados da ANS. O mercado encerrou o ano com 47,6 milhões de usuários, com uma alta de 650 mil novos beneficiários. A ANS diz que monitora os reajustes que são efetuados e atualmente trabalha para divulgar essas informações de modo mais eficiente e detalhado. Diante dos aumentos, uma opção dos usuários tem sido a migração para convênios mais baratos. Nos primeiros quatro meses deste ano, houve um aumento de 50% de consultas na ANS sobre a portabilidade de carência.

Porta de entrada do SUS, atenção primária tem queda de 49% de consultas

Há um ano a dona de casa Ana Rosa Moura, 38, tenta agendar uma consulta de rotina com um ginecologista e um clínico-geral na UBS Ladeira Rosa, na zona norte de São Paulo. Também não teve sucesso em agendar com o clínico-geral. A doméstica Luzineide França Andrade, 47, vive o mesmo drama, mas triplicado. Em fevereiro de 2020, ela se consultou com um clínico-geral, e as duas filhas, com o pediatra. Fizeram exames laboratoriais e desde então não conseguem nem marcar o retorno para saber os resultados dos testes. Os dois casos exemplificam o cenário de desassistência vivido na atenção primária, porta de entrada no SUS. Segundo a Folha de S.Paulo a área já vinha sofrendo reduções importantes e, com pandemia, sofreu grande impacto. O número de consultas caiu quase pela metade (49%) em 2020. A redução chega a 69% em abril e maio do ano passado, no início da pandemia, segundo dados do Datasus, do Ministério da Saúde. A comparação leva em conta a média de procedimentos realizados de 2017 a 2019. “Essa queda de 50% na atenção primária é muito impactante. A pandemia vem agravando as fragilidades do SUS”, diz o médico Adriano Massuda, professor da FGV. Segundo ele, a atenção primária já vinha num processo de enfraquecimento. "A cobertura vacinal já vinha decrescendo desde 2015. Depois do fim do Mais Médicos, o número de consultas teve uma queda muito importante. A cobertura pré-natal, os exames citopatológicos, tudo já vinha caindo pré pandemia." As políticas de austeridade fiscal adotadas desde o governo de Michel Temer (MDB), como a Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto de gastos, e a mudança do modelo de financiamento pelo Ministério da Saúde estão entre as causas desse enfraquecimento, segundo Massuda. "A resposta brasileira à pandemia foi muito diferenciada na atenção primária. Tivemos municípios fazendo diagnóstico precoce, rastreamento de contatos, mas foram exceções. Muitos fecharam serviços. Não houve orientação técnica do Ministério da Saúde.” Com isso, houve redução de procedimentos preventivos e necessidades não atendidas. "Isso tudo está virando uma bola de neve. Muitos problemas que poderiam ser prevenidos e tratados na atenção primária vão se agravar, aumentando a pressão sobre os outros níveis do sistema”, reforça. Massuda diz que o país ainda não tem um plano de retomada na saúde pública e que o foco de muitos gestores municipais e estaduais da saúde ainda está no manejo da pandemia.

Síndrome da fragilidade ataca 9 em 10 pacientes graves de covid após internação na UTI

Um estudo preliminar com pacientes graves do coronavírus apontou que 91% dos idosos e 88% dos adultos que foram internados na UTI pela doença apresentam síndrome de fragilidade mesmo um mês após receberem alta, destacou o jornal O Estado de S.Paulo nesta segunda-feira (28). Além de sintomas como perda de peso, exaustão e diminuição da força muscular, a pesquisa indica também que muitas dessas sequelas podem evoluir para quadros de ansiedade, depressão ou limitações motoras e cognitivas. Conduzido pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o estudo já entrevistou 150 pacientes que foram internados na UTI pelo coronavírus. Pós-doutor em Neurologia e Neurociências, José Eduardo Pompeu, coordenador do projeto e professor de fisioterapia no HCFMUSP, explica que ainda é cedo para afirmar se essas sequelas são efeitos neurológicos causados pelo próprio vírus da Sars-CoV-2 ou se estão associados à experiência de entrar e sobreviver ao tratamento intensivo em meio à pandemia. "É uma somatória de tudo isso. Fica difícil separar o que é afetado diretamente pela covid, até mesmo pelas consequências e efeitos secundários de uma internação prolongada em UTI", afirma, citando que a "síndrome pós-UTI" também acomete pacientes de outras doenças, mas é intensificada pelo longo período em intubação ou ventilação mecânica em vítimas do coronavírus. A síndrome de fragilidade, explica Pompeu, é mais comum entre idosos, mas também tem impactado o quadro de recuperação para pacientes adultos da covid. Ela se manifesta por meio da perda de peso não intencional, exaustão, redução da velocidade ao caminhar, diminuição da força muscular e também da atividade física. Os dados preliminares do HCFMUSP apontaram que, além da fragilidade, cerca de 30% dos pacientes entrevistados também apresentaram sintomas prováveis de ansiedade e depressão, a maioria pelo medo de ficarem doentes de novo. Ao mesmo tempo, atividades rotineiras também são afetadas por sequelas como incontinência urinária, dificuldade em ir ao banheiro, trocar de roupa, subir escada, tomar banho ou até se mover da cama para uma cadeira.

Pandemia acelera revolução digital no setor de Saúde

Conforme publicou o Valor Econômico nesta segunda-feira (28) o mercado de saúde brasileiro vem passando por diversas transformações, impulsionadas pela pandemia de covid-19. Pressionadas pela necessidade de reduzir custos, melhorar cuidados e a ouvir um usuário cada vez mais protagonista diante de um mercado inovador e competitivo, empresas passaram a ampliar suas áreas de atuação e ganhar eficiência por meio de fusões e aquisições. A inteligência artificial e a telemedicina se tornaram aliadas fundamentais do negócio e ferramentas essenciais para enfrentar os novos concorrentes digitais, ao lado de integrações e parcerias entre diversos elos da cadeia. Essa transformação também resultou em investimentos em pesquisa e tecnologia por parte da indústria farmacêutica e de startups, maior foco em atenção básica e com os profissionais desenvolvendo novas competências. “A dinâmica competitiva se intensificou em vários elos da cadeia”, destaca Luiza Mattos, sócia da Bain & Company. Ela cita como exemplos a entrada de players mais apoiados em tecnologia, como Alice e Qsaúde, no segmento de planos, e a Amparo, nas clínicas primárias. Ao mesmo tempo, diz, há maior velocidade em movimentos de consolidação, nos quais os players ganham escala nos próprios elos em que atuam ou se expandem ao longo da cadeia. “Como a Rede D'Or, a fusão da Hapvida e do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) e a integração entre as empresas do grupo Dasa”, observa ela. Além dos já conhecidos movimentos de operadoras adquirindo outras similares ou hospitais para aumentar sua verticalização e de hospitais comprando novas unidades, o segmento de medicina diagnóstica mostrou maior apetite por consolidação, entrando em outros nichos da saúde. “A ideia principal é ganhar relevância para que o setor não fique muito díspar diante da pressão gerada pelas operadoras”, ressalta Leandro Figueira, vice-presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Estudo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e da Bain & Company, lançado em abril, lista algumas das mudanças que vêm ocorrendo no setor da saúde, tanto para dar conta da pandemia quanto para o pós-pandemia. Como o novo perfil de consumo das pessoas, que ganharam mais voz e responsabilidade de escolha sobre como, quando e onde receber atendimento; uma assistência mais humana e centrada no paciente com um cuidado integrado; a consolidação da telemedicina; e a ampliação do uso de dados e da automação. O levantamento também ressalta que os profissionais de saúde deverão ser capazes de lidar com um ambiente cada vez mais complexo, integrado e tecnológico, interagindo com novas plataformas. E não só com a telessaúde, mas também com ferramentas digitais que economizam tempo e aumentam a qualidade da gestão de prontuários médicos eletrônicos, cada vez mais dominados por inteligência artificial.