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08/06/2021 - Seis meses após saírem da UTI, 36% apresentam transtornos mentais

Quando se preparava para fazer as fotos da reta final da gravidez, em 2016, a psicóloga Adriana Binsfeld Hess, 37, de Porto Alegre (RS) sentiu fortes dores abdominais.

Com diagnóstico de síndrome de Hellp, quadro obstétrico grave e raro, foi submetida a uma cesárea de urgência: Laura nasceu na 29ª semana de gestação, com 37 cm e 950 gramas. Ambas foram para a UTI. Adriana ficou dez dias em coma induzido. Mãe e filha sobreviveram e estão bem.

Ao sair do coma, Adriana diz que viveu um “tsunami de emoções”, traduzido em transtorno pós-traumático. “Não conseguia andar, nem escovar os dentes sozinha. Não conseguia lembrar dos conteúdos das aulas”, diz ela, professora universitária. Com psicoterapia, superou os sintomas emocionais.

Como ela, um em cada três pacientes (36%) egressos de UTIs no Brasil apresenta comprometimento da saúde mental, segundo estudo do Hospital Moinhos de Vento (RS) em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS).

Publicado no Chest Journal, um dos principais periódicos médicos científicos em intensivismo, o trabalho analisou a qualidade de vida e a saúde mental de 579 pacientes de UTIs de dez hospitais públicos e filantrópicos seis meses após a alta.
Um quarto (24%) apresentou sintomas de ansiedade, 20% de depressão e 15% de estresse pós-traumático.
A pesquisa foi feita antes da pandemia de Covid-19 e revela que o impacto

emocional das internações em UTIs é subdiagnosticado e precisa entrar no radar dos profissionais de saúde.
“A UTI é o setor mais caro, onde se investe mais em recursos humanos e tecnológicos, mas não se tinha dados da qualidade de vida após a alta”, diz o médico intensivista Regis Goulart Rosa, coordenador do estudo.

Além de transtornos psiquiátricos, 70% dos pacientes tinham mais de um distúrbio. “Havia sintomas de depressão e de estresse póstraumático, sintomas de ansiedade e depressão. Quanto mais síndromes psiquiátricas, pior a qualidade de vida.” O estresse financeiro também é problema. Um terço dos pacientes não tinha retornado ao trabalho três meses após a internação na UTI.

Segundo Rosa, só um terço dos pacientes avaliados estava com acompanhamento de saúde mental adequado.
Para ele, é importante rastrear, prevenir e reabilitar precocemente os problemas.

Rosa cita estudo publicado pelo BMJ (British Medical Journal) que identificou que pacientes que passaram por UTI tiveram, depois, risco maior de suicídio. “É uma situação muito séria, não pode continuar negligenciada.” Segundo o médico, dados preliminares de estudos com pacientes de Covid que sobreviveram a internação de UTI mostram que o potencial de danos mentais pode ser pior.

Fonte: Folha de S.Paulo