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21/01/2021 - SP zera insumo para fabricar vacinas e apela por saída diplomática com a China

A matéria-prima para a produção de mais doses de vacina contra a covid-19 no Brasil “já foi quase que totalmente processada”, segundo informou ontem o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, o que esgota a capacidade de fabricação do imunizante.


O anúncio foi feito em uma entrevista coletiva convocada pelo governador João Doria (PSDB) para tratar de ações de combate à doença, em que Covas novamente apelou para que o governo federal, em especial o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se empenhem para acelerar a importação dos insumos da China.

Embora o Butantan tenha capacidade de finalizar e distribuir cerca de 1 milhão de doses por dia, essa produção depende do recebimento dos insumos.
E, até que a produção atinja essa capacidade, é preciso um período de até seis dias para ajustes na fábrica do instituto. “Peço ao nosso presidente, ao ministro das Relações Exteriores, que nos ajudem a aplainar essa relação com a China e que haja procedimentos, solicitação para que os procedimentos burocráticos para esta exportação aconteça no mais curto período de tempo”, disse Covas.

Na coletiva, o quadro traçado foi o seguinte: há 46 milhões de doses de vacina garantidas pelo Butantan até abril. Depois, caso os insumos da Fiocruz cheguem (a previsão de entrega de doses prontas da vacina de Oxford pela fundação foi adiada de fevereiro para março), o País poderá contar com mais 100 milhões de doses. Esse total de doses vacinaria 73 milhões de pessoas.

Se o governo federal se manifestar, poderá tentar comprar mais 54 milhões de doses da Coronavac produzidas pelo Butantan com base em insumos importados da China. E a produção própria, no melhor cenário, só seria possível a partir de novembro.

Segundo Covas, o Butantan aguarda autorização do Ministério das Relações Exteriores da China, última instância burocrática para a exportação dos insumos, para conseguir importar mais 5,4 mil litros de matériaprima capazes de produzir cerca de 5 milhões de novas doses da Coronavac. “No governo chinês, a burocracia envolve três instâncias. O Ministério da Saúde, o NMPA, que é a Anvisa da China e a aduana. Tem de passar por essas três instâncias e, adicionalmente, o Ministério das Relações Exteriores”, afirmou.

“A autorização dessas três primeiras instâncias já foi dada. Aguardamos a última.” Doria afirmou que as dificuldades são de ordem exclusivamente administrativa. “Não há nenhuma restrição comercial nem a São Paulo nem ao laboratório Sinovac, com o qual temos tido uma relação excelente”, disse, ao lembrar que a parceria comercial entre Butantan e Sinovac vem de antes da pandemia.

“A exportação de vacinas depende de autorização do governo chinês”, acrescentou.
“Há um mal-estar claro do governo chinês com o governo brasileiro. Isso é óbvio. Não é por outra razão que o presidente da Câmara (Rodrigo Maia) foi se encontrar hoje (ontem), ainda que virtualmente, com o embaixador da China. Há um mal-estar depois de tantas agressões pronunciadas e lideradas pelo presidente Bolsonaro contra a China, contra a vacina da China, contra ‘vachina’ e as outras desqualificações que fez, e manifestações de dois de seus filhos, Eduardo e Carlos”, afirmou Doria.

Compra federal. O acordo do Butantan com Sinovac se encerrará em abril, quando a empresa chinesa terá terminado de enviar material suficiente para produção de 46 milhões de doses.

Depois disso, de acordo com Covas, até há a possibilidade de uma remessa extra de material para 54 milhões de doses, mas essa 2ª opção de compra está condicionada a um pedido de compra do ministério, que até agora não foi feito.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que, em 8 de janeiro, a pasta e o Butantan “acertaram que todas as vacinas produzidas pelo laboratório serão adquiridas pelo governo federal e incorporadas” ao plano nacional de vacinação.

Sobre o pagamento, o ministério diz que “os recursos estão empenhados, ou seja, reservados para tal fim”. O valor será pago, acrescenta, quando as 100 milhões de doses e a nota fiscal forem entregues à pasta.

Fonte: O Estado de S.Paulo