O QUE DIZ A MÍDIA

20/05/2021 - Um em cada quatro usou remédio para tratar ou prevenir Covid

Cerca de um quarto da população brasileira fez uso de algum medicamento para tratar precocemente ou prevenir a Covid-19, segundo pesquisa do Datafolha que buscou identificar o comportamento das pessoas durante a pandemia.

Parcela de 23% dos entrevistados afirmou ter feito uso precoce ou preventivo de algum medicamento para lidar com a doença. Foram realizadas 2.071 entrevistas presenciais pelo Datafolha em 146 municípios entre os dias 11 e 12 de maio de 2021. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Dos participantes da pesquisa, 12% disseram ter tomado algum medicamento por conta própria, e outros 11% afirmaram ter adquirido o remédio com receita médica.

O uso inadequado de qualquer medicamento, sem o acompanhamento médico, traz riscos e pode piorar a saúde. Médicos e pacientes têm relatado efeitos colaterais graves de remédios sem eficácia contra a Covid-19.

Enquanto 6% dos participantes da pesquisa disseram ter tomado algum remédio porque estavam com a doença, e outros 5% usaram algum tratamento por estarem com suspeita de Covid-19, 12% dos entrevistados afirmaram ter tomado algum medicamento para prevenir a infecção.

Nenhum medicamento comercializado no mundo tem a indicação específica para o início da doença ou prevenção. Qualquer tratamento divulgado para este fim é, até agora, considerado ineficaz pela comunidade científica e médica internacional —só vacinas já aprovadas para uso são capazes de evitar a Covid-19.

Em alguns casos, os médicos podem receitar remédios que não combatem o Sars-CoV-2, mas aliviam sintomas mais leves da doença, como dor e febre. Como acontece com a gripe e outras doenças causadas por vírus, a eliminação do patógeno ocorre por ação natural do sistema imunológico.

Mais de uma centena de estudos foram feitos e outros ainda estão em andamento procurando desenvolver ou até mesmo reorientar o uso de algum medicamento já conhecido para combater a Covid-19. As pesquisas concluídas apontam que alguns remédios, como os corticoides e anticoagulantes, podem ser benéficos em casos mais graves, mas não fazem diferença em casos iniciais e mais leves.

Ainda assim, muitos medicamentos são falsamente propagandeados como cura para a doença, sem amparo na pesquisa feita por cientistas e médicos das instituições de maior prestígio no mundo.

Documento recente do Ministério da Saúde escrito para servir de diretriz no tratamento da Covid-19, elaborado após revisão de estudos, também não recomenda o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina e ivermectina, entre outros, em casos da doença.

Divulgado como solução para a pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e muitos de seus apoiadores mais influentes, o chamado tratamento precoce, que inclui geralmente cloroquina, azitromicina e ivermectina, não tem qualquer efeito, segundo as autoridades de saúde mais respeitadas no mundo.

O presidente parece ter sido bom garoto propaganda do tratamento precoce. Dos entrevistados que declaram voto em Bolsonaro em 2022, 37% disseram ter usado algum medicamento com esse objetivo —mais que entre a população geral (23%). Dos que dizem confiar sempre em Bolsonaro, 38% fizeram uso dos remédios.

Do lado oposto estão os eleitores que declaram voto em João Doria (PSDB) em 2022. Dos entrevistados deste grupo, 4% afirmaram ter recorrido a algum remédio. Doria tem batido de frente com as posições sem respaldo científico de Bolsonaro, e se tornou um de seus maiores opositores durante a pandemia, apesar do apoio que concedeu ao atual presidente nas eleições de 2018.

Os mais ricos e com maior escolaridade embarcaram no tratamento precoce —30% dos que têm renda mensal maior do que dez salários mínimos e 25% das pessoas com ensino superior afirmaram ter usado algum remédio.

Fonte: Folha de S.Paulo