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29/11/2019 - 'Voltei a andar 5 anos após fazer uma cirurgia bariátrica'

G1

Pouco menos de dois anos após fazer uma cirurgia bariátrica, a estudante carioca Raquel Guimarães, então com 22 anos, já tinha perdido mais de 70 kg. Mas o que podia parecer uma história de recuperação bem sucedida, na verdade, era o início de um pesadelo que levou médicos a desenganá-la e a obrigou a reaprender a andar.

Raquel saiu dos seus 120 kg para um quadro de desnutrição grave, com menos de 40 kg. Sem conseguir se alimentar, sofreu deficiência das vitaminas B1 e B12 — e, com isso, perdeu o movimento das pernas, apresentou quadro de confusão mental e até problemas de visão.

O pai da estudante – que àquela altura, em 2016, via a filha sobreviver graças a transfusões de sangue e alimentação por sonda — ouviu dos médicos a pior notícia: que a filha "não teria mais jeito".

Em 2019, cinco anos após o procedimento em um hospital particular na zona oeste do Rio de Janeiro, a jovem voltou a dar os primeiros passos sozinha, compartilhando as conquistas nas redes sociais: "Foi o momento mais feliz da minha vida".

O procedimento a que Raquel foi submetida é conhecido como bypass gástrico, o tipo de cirurgia bariátrica mais comum no Brasil e que provoca uma grande alteração no sistema digestivo, com a redução do estômago e efeitos sobre os intestinos.

Com problemas para se alimentar no pós-operatório, Raquel acabou desenvolvendo a chamada encefalopatia de Wernicke, provocada pela deficiência grave de vitaminas do complexo B.

O caso da jovem é considerado raro pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O presidente da organização, o médico Marcos Vilas Bôas, diz que a evolução da paciente é algo totalmente "atípico" e mais raro até do que óbitos decorrentes do procedimento.

No Brasil, foram realizadas em 2018 cerca de 65 mil cirurgias bariátricas, segundo a SBCBM — e mais de 13 milhões de brasileiros são considerados "elegíveis" para o procedimento. O índice de mortalidade, segundo Vilas Bôas, é de cerca de 0,2% dos casos.

Mas o médico alerta para cuidados no pós-operatório. "Hoje a cirurgia é muito segura. Mas é extremamente importante que todos façam um acompanhamento com equipes multidisciplinares, com aconselhamento médico, nutricionistas. E precisam informar imediatamente se sentirem qualquer coisa que não esteja adequada com a recuperação", diz.

'Queria comprar a roupa que eu quisesse'

Para Raquel, que durante anos lutou com a balança, a decisão de realizar a cirurgia aconteceu naturalmente.

"Pagava personal (trainer), ia na academia certinho, ia para o endocrinologista. Quando começava a emagrecer, dava problema no tornozelo e precisava imobilizar. Sem ir à academia, engordava tudo de novo. Poxa, uma jovem de 20 anos, se esforçava tanto, mas o resultado não vinha."

Assim, a mãe de Raquel, a professora Valdinere Guimarães, explica por que o assunto da cirurgia bariátrica chegou à mesa de jantar da casa da família, em Bangu, zona oeste do Rio.

Os casos bem-sucedidos estavam por todos os lados. Na família e na vizinhança, os Guimarães tinham exemplos do bem que o procedimento poderia fazer a Raquel.

"Eu queria comprar não uma roupa que coubesse mim, mas a roupa que eu quisesse vestir", argumentava Raquel. "Por que não fazer, então?", concluiu Valdirene ao apoiar a filha, então com 20 anos e estudante de fisioterapia.