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19/03/2021 - Webinar APM, em parceria com regionais Botucatu e Ourinhos, debate comportamentos psicossociais e autismo

Para falar sobre a modificação comportamental diante da pandemia de Covid-19 e do transtorno do espectro autista, no dia 17 de março, a Associação Paulista de Medicina promoveu, em parceria com as regionais de Botucatu e Ourinhos, mais um Webinar APM. O evento, transmitido pelo canal da entidade no YouTube, contou com a participação dos especialistas Maria José Bauab Vianna e Edvino Krul Júnior.

 

 

Confinados no mesmo espaço físico, como as pessoas passaram a lidar com os entes familiares e os conflitos emocionais e econômicos? Quais foram os aspectos positivos e negativos, nesse sentido? A Professora Titular do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Botucatu (Unesp), Maria José Bauab Vianna, respondeu que a dinâmica nos lares passou por uma profunda transformação.

“Para que houvesse a adaptação intrafamiliar, muitos tiveram que ceder espaços, exigências e tendências. Por exemplo: onde vou trabalhar e onde os demais integrantes vão trabalhar? Quem vai fazer o acompanhamento escolar dos filhos? Nessa necessidade de estabelecer um equilíbrio, surgiram as dificuldades de relacionamento, refletindo no aumento da separação de casais que já não estavam muito bem estruturados e na queda do número de nascimentos em 2020.”

Aumento no consumo de bebida alcoólica, cigarro, drogas ilícitas e ganho de peso, além dos problemas emocionais, foram outros pontos em destaque observados com a pandemia, reiterou Vianna. “Sobretudo para nós latinos que gostamos muito de abraço, beijo e aperto de mão, de convidar para a nossa casa e de sermos convidados à casa de nossos amigos e familiares; é difícil buscarmos um equilíbrio.”

“É por isso que nossos consultórios já registraram um número muito grande dessas desarmonias, como estresse, depressão, pânico, medo, solidão, transtorno obsessivo-compulsivo aumentado, ansiedade, impotência diante de uma realidade que não podemos atuar e risco de contrair a própria doença e o medo da morte”, completou.

Vianna acrescentou, ainda, que a preocupação diante da Covid-19 tirou também dos indivíduos o sonho e a superficialidade da vida. “Aquela fantasia social de sair, de ter projeto, de viajar e de nos encontramos. Neste contexto, a meu ver, existe um progresso porque possibilitou os questionamentos: ‘estou realmente cumprindo o meu papel de pai, de mãe, de profissional, de amiga no meio da pandemia? Estou preparada para enfrentar e estimular aqueles que estão deprimidos?’.”

Nessa impermanência, “começamos a perder amigos e parentes, pessoas queridas, e começamos a sentir envolvidos com tudo isso de maneira profunda e emocional, ou seja, temos de trabalhar dentro de nós a segurança perdida, o otimismo, a boa vontade. E começar a voltar para aqueles que realmente precisam da nossa atenção emocional”, complementou a pesquisadora.

 

Lições

Segundo dados da pesquisa realizada pela consultoria Oliver Wyman, apresentados pelo O Estado de S. Paulo, apenas 5% da população brasileira se diz otimista com a pandemia. Para Vianna, o novo coronavírus trouxe, por outro lado, a mudança de postura de muitas pessoas que passaram a pensar mais no bem-estar coletivo em detrimento do individual.

“Em relação ao home office, por outro lado, foi uma maravilha porque estamos em casa e não precisamos nos preparar para sair, não precisamos enfrentar o tráfego, estamos com mais tempo, sem controle de frequência e produzindo mais, embora, infelizmente, haja um enxugamento de colaboradores.”

A especialista acredita que haverá um crescimento pós-traumático da pandemia, rápido, forte, evidente e profundo. Por enquanto, a palavra de ordem é a luta pela sobrevivência, tomando todos os cuidados necessários preventivos.

Aprender a olhar para o que é essencial e se despojar das vaidades e dos supérfluos da vida são as maiores lições trazidas com a pandemia, concordou o presidente da APM Estadual, José Luiz Gomes do Amaral.

“Saber a diferença entre o essencial e o desnecessário é muito importante. Hoje, passamos por uma experiência coletiva para experimentar isso. As empresas também passaram a ocupar um lugar muito maior que antes, presentes hoje nos lares de seus colaboradores, sem perda de eficiência em muitas áreas. No entanto, está sem graça a falta de contato, muito característico de nossa latinidade”, argumentou Gomes do Amaral.

A primeira discussão do Webinar APM foi mediada pelo presidente da APM Botucatu, Pedro Thadeu Galvão Vianna.

Autismo

Na sequência, Eder Carvalho Sousa, presidente da APM Ourinhos, mediou debate sobre o transtorno do espectro autista (TEA), com exposição do médico psiquiatra Edvino Krul Júnior. O especialista afirmou que as estatísticas atuais apontam que são seis diagnósticos de TEA para cada mil nascidos, com uma proporção de quatro meninos afetados para uma menina.

A necessidade de detecção precoce é um dos principais desafios dos médicos atualmente. Krul explicou que quanto mais cedo se identifica e inicia o tratamento à psicoterapia, menor o impacto futuro. Os sinais podem ser identificados antes mesmo dos 36 meses de idade.

O especialista reforçou que é possível que crianças menores sejam diagnosticadas precisamente. “Conseguimos fazer um diagnóstico precoce. Nas crianças de um a um ano e meio, a precisão é de 86%.”

Para a investigação, são fundamentais as observações quanto aos déficits de comunicação como um todo, seja nas expressões faciais, gesticulação, olhar e aquisição da linguagem própria, interação social, comportamento repetitivo e áreas restritas de interesse.

“Uma vez que o pediatra ou clínico suspeitar de algum transtorno do espectro autista, deve encaminhar esse paciente para estimulação precoce, algumas vezes antes mesmo de fechar o diagnóstico, porque quanto mais cedo, menores serão os impactos, podendo, às vezes, reverter os sintomas ou impedir que eles se agravem”, disse Krul.

Os níveis de capacidade quanto à comunicação social e aos comportamentos repetitivos e restritivos são pontuados em três categorias: necessidade de pouco apoio; necessidade de apoio substancial; e necessidade de apoio muito substancial. “É importante nortearmos o tratamento para a estimulação. Quanto mais severo for o transtorno, mais intensa será a estimulação para que o paciente consiga reduzir os déficits causados”, argumentou Krul.

 

Sinais precoces

São sinais precoces para identificação de um possível TEA, segundo o especialista: dificuldades de rastreamento visual para seguir em objeto e de desengajamento de atenção quando se mantém fixação no primeiro foco de atenção e não consegue alterná-lo; não atende pelo nome; não responde a mudanças de expressões faciais; não faz antecipação de rotinas sensório social; não imita (vocalização social, contato social, sorriso social, coordenação do olhar com a ação, reatividade comportamental); não partilha interesse social; transita de uma atividade para outra com dificuldade; dificuldade de controle motor, movimentos e sensoriais atípicos e engajamento de atenção; e persistência objetos/aspectos do ambiente.

“São crianças boazinhas, que não reclamam, não choram, são calmos, mas sabemos que as crianças geralmente se irritam, negam e reclamam. Entretanto, nem todos os sintomas isolados significam risco, mas o conjunto deles sim. Ou seja, quando uma criança apresenta cinco desses ou mais sinais, está em grande risco para o TEA”, informou o psiquiatra.

A psicoterapia comportamental tem como abordagens a análise do comportamento aplicada (ABA), treinamento de reintegração sensorial, tratamento fonoaudiológico e treino de habilidades sociais.

Não há tratamento farmacológico específico no para o autismo. “No entanto, pode-se usar os fármacos para reduzir os sintomas de aprendizado e aquisição de habilidades”, exemplifico Krul. Ele acrescentou que cabe ao médico acolher também a família de maneira empática porque o TEA traz sentimento de culpa e sofrimento para os membros, com adoecimentos e vulnerabilidade para quadros depressivos.

Por fim, os médicos mencionaram a definição do conceito de TEA, introduzido em 1980, pela psiquiatra inglesa Lorna Wing. “É um tema de prevalência atual. Na minha residência médica na década de 1980, tínhamos laboratório de saúde mental e a incidência era de um caso de autismo infantil para cerca de duas mil crianças. No último levantamento do Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC), estamos com a prevalência de 59 casos. Isso realmente tem surgido e acontecido; é um tema bastante desafiador na atualidade”, concluiu Sousa.

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